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Taleban ocupa palácio presidencial e diz que vitória foi 'rápida'

Combatentes do grupo Taleban dentro do palácio presidencial em Cabul, capital do Afeganistão - Reprodução/Al Jazeera
Combatentes do grupo Taleban dentro do palácio presidencial em Cabul, capital do Afeganistão Imagem: Reprodução/Al Jazeera

Do UOL*, em São Paulo

15/08/2021 17h37Atualizada em 16/08/2021 12h09

Líderes e combatentes do Taleban ocuparam o palácio presidencial horas depois de o presidente Ashraf Ghani deixar o país e ir para o Tajiquistão. As imagens da entrada foram transmitidas pela emissora do Catar Al Jazeera.

O grupo tomou hoje a capital do Afeganistão sem muita resistência. A ação aconteceu após o grupo assumir as cidades importantes do país, como Jalalabad e Mazar-i-Sharif. O grupo tomou 26 das 34 capitais provinciais em um período de 7 dias, em um avanço rápido embora não surpreendente para observadores internacionais.

O líder taleban fez um pronunciamento de dentro do palácio dizendo estar "feliz" pela tomada do poder ter ocorrido "sem derramamento de sangue". Um alto-funcionário disse que a vitória foi "inesperadamente rápida" e o verdadeiro "teste" do novo governo começaria agora.

Segundo os combatentes, uma "transição pacífica está em andamento de instalações governamentais em todo o país". As falas foram transmitidas pela rede catarense.

Ainda de acordo com a emissora, o palácio presidencial não só foi tomado, como foi "entregue" oficialmente ao grupo Taleban. Segundo o correspondente da Al Jazeera no local, havia pelo menos três funcionários do governo afegão durante a "entrega" do palácio.

"Proteger Cabul é uma responsabilidade enorme. É diferente da cidade que deixamos há 20 anos", relatou um oficial do Taleban à AI Jazeera.

Presidente deixa o país

Em um post hoje no Facebook, Ghani disse ter deixado o país para evitar "um banho de sangue". "Hoje, deparei-me com uma escolha difícil; deveria suportar e enfrentar os talebans armados que queriam entrar no palácio ou sair do país que dediquei a minha vida a proteger os últimos vinte anos."

Nas primeiras horas de hoje, um funcionário do Ministério do Interior disse que o Taleban estava chegando "de todos os lados" e houve relatos de tiros nas proximidades da cidade.

Representantes do grupo insurgente, porém, anunciaram que a busca seria por uma rendição pacífica.

Mais cedo, o ministro interino do Interior afegão, Abdul Sattar Mirzakwal, havia sinalizado a possibilidade de uma negociação, dizendo que a capital não seria atacada e que haverá uma "transição pacífica de poder".

Esta é a primeira vez desde outubro de 2001 que o grupo volta à capital. O risco de tomada de Cabul já era alertado por especialistas, que viam com apreensão a saída total das tropas americanas do Afeganistão depois de 20 anos de ocupação.

Talibã toma Cabul e volta ao poder no Afeganistão

Reações

Segundo relatos, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) deve se reunir amanhã para tratar da situação.

Em comunicado, o secretário-geral do órgão, Antonio Guterres, pediu 'moderação' aos talibãs, horas depois que os insurgentes entraram na capital Cabul. No texto, ele diz que "está particularmente preocupado com o futuro das mulheres e meninas, cujos direitos conquistados a duras penas devem ser protegidos", disse.

O Conselho de Segurança é o órgão máximo da ONU, responsável por tentar "manter a paz" desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

O premiê britânico, Boris Johnson, afirmou que a decisão dos Estados Unidos de retirarem as tropas do Afeganistão acelerou o avanço do grupo fundamentalista.

"É justo dizer que a decisão dos EUA de se retirarem acelerou as coisas, mas é algo que de muitas formas tem sido um problema crônico. Nós sabíamos há muito tempo que seria desse jeito", disse.

EUA enviam mais soldados

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou o envio de mais mil soldados a Cabul. Segundo o Pentágono, o objetivo é auxiliar a evacuação de civis americanos e afegãos.

Ao todo, 6.000 soldados americanos estarão em Cabul "nos próximos dias", disse uma fonte do órgão sob condição de anonimato.

Milhares de afegãos que trabalharam para os Estados Unidos durante a ocupação de 20 anos no país devastado pela guerra, como intérpretes ou motoristas, e suas famílias, estão tentando partir o mais rápido possível, temendo retaliação do Talibã.

Muitos deles solicitarão vistos especiais de imigrante (SIV) para permanecer nos Estados Unidos.

O Pentágono estima que terá de evacuar cerca de 30.000 pessoas antes de concluir sua retirada total do Afeganistão até 31 de agosto, prazo estabelecido por Biden.

O que é o Taleban?

O Taleban (palavra que significa 'estudantes') é um movimento fundamentalista islâmico, considerado pela ONU como organização terrorista.

Apesar de ser fundado oficialmente em 1994, a formação do grupo remonta aos anos 80, quando combatentes afegãos, chamados de mujahideens, e guerrilheiros islâmicos se uniram para combater a ocupação soviética no Afeganistão. A própria CIA (Agência de Inteligência Central) dos Estados Unidos é apontada como uma das apoiadoras da formação do grupo na época.

Entre 1992 a 1996, os combatentes lutaram contra outros grupos mujahideens rivais, até a tomada de Cabul, do então presidente Burhanuddin Rabbani. A partir de então, o grupo controlou 90% do país até 2001.

A queda se deu na esteira dos atentados de 11 de setembro nos EUA. Na época, o governo americano enfrentava outro grupo extremista, a Al-Qaeda, do então líder Osama bin Laden.

Em 1999, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) adotou uma resolução que vinculou Al-Qaeda ao Taleban como entidades terroristas e impôs diversas sanções contra os grupos.

Em 11 de setembro de 2001, membros da Al-Qaeda sequestram quatro aviões, jogando dois no World Trade Center em Nova York, um no Pentágono em Washington DC e o último em um campo em Shanksville, na Pensilvânia.

O então presidente americano, George W. Bush, declarou "guerra ao terror", prometendo caçar Osama bin Laden no Afeganistão. O republicano falou diretamente ao Taleban, ao pedir que o grupo "entregasse às autoridades dos Estados Unidos todos os líderes da Al-Qaeda que se escondem em sua terra", aameaçando com "o mesmo destino" a eles, caso não o fizessem.

Suspeitando que o Taleban estivesse abrigando Bin Laden, forças americanas e britânicas bombardearam o país em outubro do mesmo ano. Logo em seguida, em uma incursão terrestre, forçaram a retirada dos talebans das grandes cidades. Bin Laden, no entanto, conseguiu fugir. A ONU convidou depois as principais facções afegãs para formarem um governo provisório.

O grupo se refugiou nas fronteiras do país com o Paquistão e passou os últimos 20 anos buscando formas de retomar o poder.

*Com Carolina Martins e informações das agências AFP, ANSA, Reuters