Bolsonaro, Lula, 3ª via: entenda, em pontos, o xadrez eleitoral para 2022
A um ano das eleições presidenciais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o favorito frente ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas analistas não excluem um caminho com sobressaltos e inclusivo um desenlace tenso como o deste ano nos Estados Unidos.
O presidente. cuja popularidade despencou nos últimos meses, teria 26% dos votos no primeiro turno das eleições de 2 de outubro de 2022, contra os 44% que teriam Lula, segundo pesquisa Datafolha divulgada em meados de setembro.
Mas, afinal, quais fatores estão em jogo no tabuleiro eleitoral da maior economia da América Latina?
Bolsonaro: acabado?
Bolsonaro detém um balanço duramente criticado, sobretudo pela gestão da pandemia — quase 600 mil mortos — e a deterioração da economia junto com uma inflação de quase dois dígitos, que os brasileiros sentem no bolso.
A popularidade do presidente caiu para 22%, o nível mais baixo do governo Bolsonaro, que ainda tem contra si uma centena de pedidos de impeachment e várias investigações judiciais, entre elas uma sobre a compra de doses da vacina indiana Covaxin.
Mas o ex-capitão do Exército, aliado dos setores mais conservadores do agronegócio, não está acabado, afirma Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas)
"O tempo que o presidente Bolsonaro tem para reverter o cenário negativo está cada vez menor", mas "quem está no poder possui uma série de vantagens estratégicas bastante relevantes, sobretudo a possibilidade de aumentar gastos públicos", diz.
A discrição estratégica de Lula
Embora ainda não tenha oficializado a candidatura, Lula tem se posicionado como o favorito desde que a Justiça anulou, em março, as condenações que ele tinha por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Mas o ex-presidente, que poderia devolver o poder ao PT após dois mandatos dele (2003-2010) e de Dilma Rousseff (PT; 2011-2016), que a sucedeu até o impeachment que ela sofreu, tem mantido, por enquanto, um perfil baixo.
"Lula entende muito bem a conjuntura, ele sabe que não pode se expor muito porque vai ser cada vez mais atacado", afirma o cientista político André César, da consultoria Hold. "O antipetismo é um partido forte", que abarca setores-chave e conservadores como o empresariado, aponta.
Para Stuenkel, o ex-presidente prepara uma estratégia conciliadora, "muito parecida com a estratégia do (presidente americano, Joe) Biden, que buscou se projetar como centrista, atraente para pessoas do campo democrático como um todo, e não ser apenas um líder da esquerda".
A terceira via: uma opção realista?
Paralelamente, um leque de candidatos menores, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), quer representar uma terceira via, que aglutine os que não querem votar nem em um, nem em outro.
Uma tentativa de manifestação nas ruas em 12 de setembro mostrou a fragilidade atual do movimento.
"Não é realista. Os 'nem, nem' ocupam um espaço ideológico gigante, da esquerda à direita", e, por isso, seria inviável construir um consenso em torno de um candidato, afirma Stuenkel.
César avalia, no entanto, que a terceira via poderia se concretizar caso a impopularidade ou os problemas legais de Bolsonaro o afastem da disputa, uma opção por enquanto muito incerta.
Bolsonaro e Lula, no que lhes concerne, não desejam outro adversário, afirmam analistas: para Bolsonaro, o ex-sindicalista lhe permite manter vivo o inimigo da esquerda, que associa à corrupção e ao "comunismo".
Para Lula também é "mais seguro" apoiar-se no "desgaste" do ultradireitista do que enfrentar um candidato que aglutine bolsonaristas e antipetistas, segundo Michael Freitas, professor de direito da FGV.
Golpe? Desenlace ao estilo Trump?
Em quebra de braço com o STF (Supremo Tribunal Federal), Bolsonaro chegou a insinuar a eventualidade de um golpe de Estado e, em 7 de setembro, convocou marchas nas quais apoiadores mais radicais repetiam abertamente lemas antidemocráticos.
Embora descartem essa possibilidade, muitos analistas acreditam que Bolsonaro vai rejeitar os resultados se perder no segundo turno.
"Bolsonaro é um político que copia (o ex-presidente dos EUA, Donald) Trump com muita frequência", afirma Freitas, lembrando que o presidente já advertiu contra uma "fraude" eleitoral, ao pôr em dúvida — sem apresentar provas — a confiabilidade da urna eletrônica.
Para Stuenkel, Bolsonaro poderia tentar promover atos violentos como Trump fez antes da invasão do Capitólio.
"Com a grande diferença de que o compromisso das Forças Armadas e das policiais com a democracia no Brasil é certamente menor", lembra.
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