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EUA entregam a El Salvador documentos do massacre de El Mozote após 40 anos

Ato lembrou os 40 anos do massacre de El Mozote, em El Salvador - Marvin Recinos/AFP
Ato lembrou os 40 anos do massacre de El Mozote, em El Salvador Imagem: Marvin Recinos/AFP

El Mozote, El Salvador

11/12/2021 15h58

Os Estados Unidos, que tiveram participação financeira na guerra civil de El Salvador (1980-1992), anunciaram que entregaram à justiça salvadorenha documentos com sigilo suspenso sobre o massacre de El Mozote, cometido pelo exército local há 40 anos no âmbito do conflito.

"Ontem (sexta-feira) apresentamos documentos com sigilo suspenso do governo dos Estados Unidos, solicitados pelo juizado encarregado da investigação e vamos apresentar mais no futuro", disse em espanhol o encarregado de Negócios da embaixada americana em El Salvador, Brendan O'Brien.

O anúncio foi feito diante de 300 familiares de vítimas, que participaram de um ato que lembrou os 40 anos do massacre na praça central de El Mozote, a cerca de 200 km da capital San Salvador.

Os arquivos foram apresentados a um tribunal de San Francisco Gotera, onde 17 militares respondem em juízo sobre o massacre.

O'Brien destacou que seu país reconhece que "a busca pela verdade e a justiça continua e que, por isso, prosseguirá apoiando os sobreviventes e familiares das vítimas".

Além disso, o governo dos Estados Unidos ajudou recentemente a "digitalizar" os registros legais relacionados com a investigação do caso, explicou o diplomata.

"Nos reunimos para lembrar como ocorreu este horror, porque ocorreu, e para garantirmos de que esta história não seja esquecida", exclamou sob aplausos dos presentes.

Entre 9 e 13 de dezembro de 1981, várias unidades do Exército salvadorenho, lideradas pelo batalhão contra-insurgente Atlacatl - treinado pelos Estados Unidos -, lançou a chamada "Operação Resgate" contra a população do nordeste do departamento (estado) de Morazán.

O governo de El Salvador estabeleceu em 2017 que pelo menos 988 pessoas, entre elas 558 crianças, foram mortas em El Mozote e nas comunidades adjacentes.

Outras 712 pessoas que sobreviveram ao ataque deixaram a região. O conflito em El Salvador deixou mais de 75.000 mortos, pelo menos 7.000 desaparecidos e milhares de deslocados.

O massacre foi negado pelo governo cívico-militar da época, presidido pelo democrata-cristão José Napoleón Duarte, já falecido, e pela administração americana de Ronald Reagan, que enviava ao país centro-americanos um milhão de dólares diários para financiar a guerra.

"El Mozote foi um dos capítulos mais obscuros da história de El Salvador, há 40 anos. Mais de 1.000 vítimas, das quais mais da metade eram crianças, foram mortas no transcurso de três dias. Foi uma tragédia que realmente perturba a consciência", afirmou O'Brien.