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As prisões continuam, mas há muitos mistérios sobre o assassinato de Moise no Haiti

Jovenel Moise em foto de 2017 - 13.mar.2017 - Hector Retamal/AFP
Jovenel Moise em foto de 2017 Imagem: 13.mar.2017 - Hector Retamal/AFP

Porto Príncipe

22/01/2022 13h48

Mais de seis meses após o assassinato do presidente haitiano Jovenel Moise por um comando armado, as prisões de suspeitos se multiplicaram nas últimas semanas em diferentes países, mas o motivo do crime ou seus patrocinadores permanecem desconhecidos.

Enquanto isso, a investigação realizada em Porto Príncipe parece paralisada, ilustrando as graves disfunções no sistema judicial do país.

Investigação na Flórida

Moise foi morto a tiros no início de julho de 2021 em sua residência particular em Porto Príncipe. Suspeita-se que um comando composto por colombianos foi o responsável pelo ataque.

Desde o início do ano, a justiça dos Estados Unidos acusou dois homens em Miami por envolvimento no assassinato.

Mario Palacios, de nacionalidade colombiana, seria um dos cinco homens armados que entraram na sala onde o presidente foi assassinado.

Ele foi preso em 3 de janeiro no Panamá, durante uma escala em um voo da Jamaica.

Rodolphe Jaar, cidadão haitiano-chileno, foi apresentado nesta quinta-feira a um tribunal de Miami, após sua prisão na República Dominicana. De acordo com um documento de arquivo do FBI, Jaar admitiu em dezembro ter fornecido armas e munições ao grupo de colombianos.

"Os Estados Unidos têm ferramentas para processar pessoas que participaram de conspirações em solo americano, mesmo que essas conspirações tenham sido para cometer crimes fora do solo americano: é uma coisa boa", disse Marie-Rosy Auguste Ducena, advogada da Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos no Haiti.

Os mercenários colombianos foram de fato recrutados pela empresa de segurança CTU, com sede em Miami, e várias reuniões entre os suspeitos ocorreram na Flórida antes do ataque mortal.

Philippe Larochelle, advogado do filho do falecido presidente, é cauteloso sobre essas acusações.

"Como eles serão responsabilizados por suas ações nos Estados Unidos ainda não se sabe", disse Moise, representante de Joverlein Moise. "Estamos nos estágios iniciais."

Um juiz de instrução criticado

A polícia haitiana levou apenas algumas horas para prender cerca de vinte ex-soldados colombianos e dois cidadãos haitiano-americanos que teriam feito parte do comando que assassinou o presidente de 53 anos.

Detidos na prisão da capital haitiana, esses colombianos ainda não foram interrogados pelo juiz de instrução.

A decisão do magistrado Garry Orélien de libertar quatro policiais haitianos suspeitos de cumplicidade no início de janeiro também causou confusão. Ducena acusa o juiz de "incorrer em atos de corrupção".

O pedido de extradição feito pelas autoridades haitianas contra um suspeito preso na Turquia em novembro continua parado.

Não está claro se uma medida semelhante foi solicitada contra John Joel Joseph, um ex-senador da oposição preso na semana passada na Jamaica por seu suposto papel no assassinato do presidente.

Muitos mistérios

Embora Moise fosse impopular e acusado de excessos autoritários, seu assassinato chocou toda a população haitiana e muitas perguntas permanecem sem resposta.

Como um comando armado conseguiu entrar na sala presidencial sem encontrar resistência das unidades especializadas encarregadas da segurança do chefe de Estado?

Qual foi o papel de Christian Emmanuel Sanon, um haitiano de 63 anos que vive na Flórida e atualmente está preso, depois de chegar ao país em junho com cidadãos colombianos?

Onde se esconde a ex-juíza do Tribunal de Cassação Wendelle Coq Thélot, suspeita de ser parte da trama e alvo de um mandado de busca?

Por que o atual primeiro-ministro, Ariel Henry, teria falado ao telefone, no mesmo dia do ataque, com Joseph Félix Badio, um dos principais suspeitos?

Quando um promotor pediu que o governante fosse acusado, Henry chamou a medida de distração, antes de demitir o magistrado e nomear um novo ministro da Justiça.

"Quem pagou para que o assassinato fosse cometido? Esse é um aspecto que deveria ter sido investigado pela polícia judiciária", disse Ducena.

O advogado do filho de Moise acredita que um tribunal especial como o criado após o assassinato do primeiro-ministro libanês Rafic Hari é "a única alternativa viável" para seu cliente, que apenas pede "para saber quem é o responsável pela morte de seu pai".