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Opositor russo Navalny enfrenta novo processo que pode resultar em pena de 10 anos

15.fev.2022 - Uma fotografia tirada de uma tela de TV mostra Alexei Navalny conversando com sua esposa Yulia no primeiro dia de seu novo julgamento, na cidade de Pokrov, na Rússia - Alexander Nemenov/AFP
15.fev.2022 - Uma fotografia tirada de uma tela de TV mostra Alexei Navalny conversando com sua esposa Yulia no primeiro dia de seu novo julgamento, na cidade de Pokrov, na Rússia Imagem: Alexander Nemenov/AFP

Em Pokrov

15/02/2022 07h48Atualizada em 15/02/2022 10h18

Um tribunal russo iniciou hoje um novo julgamento contra o opositor russo Alexei Navalny, que está preso há um ano por acusações de fraude e pode ser condenado a 10 anos adicionais.

Navalny é o principal opositor do presidente russo, Vladimir Putin, e seu movimento foi objeto de uma intensa repressão por parte das autoridades russas, que ordenaram sua proibição e iniciaram processos contra seus líderes.

Neste novo processo, Navalny - que sobreviveu a uma tentativa de envenenamento em 2020 - compareceu com o uniforme da prisão e a cabeça raspada.

A audiência acontece em uma sala da prisão em que cumpre a pena, ao lado de seus advogados e cercado por guardas.

Durante o processo, o opositor aproveitou um recesso técnico provocado por um problema de áudio para abraçar a esposa Yulia.

Processo na prisão

Navalny, 45 anos, foi condenado a dois anos e meio de prisão em fevereiro de 2021 em outro processo por acusações de fraude, um julgamento que o ativista chamou de político e manipulado.

Ele está preso na colônia penal de Pokrov, 100 quilômetros ao leste de Moscou. O processo iniciado nesta terça-feira acontece na penitenciária, o que foi criticado pelos simpatizantes de Navalny como uma forma de limitar a divulgação do julgamento.

"Ainda não sou culpado, mas sou apresentado vestido como prisioneiro (...) É para que se uma avó me observar na televisão, ela pensa que já estou preso de qualquer maneira", protestou Navalny.

"Eu quero ser julgado como qualquer outro zek!", acrescentou, utilizando a expressão que designa os prisioneiros dos gulags soviéticos.

No novo processo, os promotores acusam Navalny de ter desviado mais de 4,7 milhões de dólares de doações para as organizações que lidera, um crime que pode resultar em pena de até 10 anos de prisão.

O opositor também pode pode receber pena de até seis anos de prisão adicionais por um suposto "desacato" a um juiz russo durante uma audiência em 2021.

As duas acusações serão analisadas no mesmo julgamento.

Os advogados pediram nesta terça-feira que Navalny tenha permissão para usar a própria roupa e não o uniforme de presidiário e que a audiência aconteça em um tribunal de Moscou, duas solicitações rejeitadas pela juíza Margarita Kotova.

"Covardia" do Kremlin

Na segunda-feira, a mulher do ativista denunciou a "covardia" do governo russo. Ela classificou o processo como "ilegal" e as acusações de "desonestas".

O ativista foi envenenado em 2020 e passou vários meses em recuperação na Alemanha.

Navalny responsabiliza o presidente russo Vladimir Putin pelo ataque, que ainda não foi investigado em seu país, já que as autoridades afirmam que não há provas e que a Alemanha não compartilhou as análises médicas.

Em seu retorno à Rússia, o opositor foi detido em janeiro de 2021, julgado e condenado em um processo por "fraude" que datava de 2014. A condenação provocou várias críticas internacionais e novas sanções ocidentais contra Moscou.

Navalny foi incluído em uma lista oficial de "terroristas e extremistas", como parte da campanha de repressão contra vozes dissidentes que também afetou seus principais colaboradores, que partiram para o exílio.

O Fundo de Luta contra a Corrupção (FBK), uma das principais organizações vinculadas ao opositor, também foi incluída na lista. A decisão provocou o fechamento da entidade e o início de vários processos contra ativistas.

No mês passado, vários meios de comunicação russos denunciaram pressões das autoridades para eliminar conteúdos vinculados a Navalny.