Marine Le Pen, uma camaleônica da extrema-direita em alta na França
A ultra-direitista, Marine Le Pen, sonha em alcançar a presidência da França em sua terceira tentativa nas eleições de abril, um cenário que ganha força, segundo as pesquisas, impulsionado pela sua mudança de imagem.
"Hoje é uma questão de vitória, de mobilização", disse, nesta quinta (31), Julien Odoul, porta-voz de seu partido à rádio RFI, para quem Le Pen fez uma "excelente campanha" centrada nas preocupações dos franceses.
A herdeira da Frente Nacional (rebatizada de Reunião Nacional) passaria ao segundo turno, de 24 de abril, junto ao atual presidente Emmanuel Macron. O liberal venceria por somente 5 pontos, segundo uma pesquisa da Elabe divulgada na quarta-feira (30).
Marine Le Pen optou "por normalizar e suavizar seu discurso", explica à AFP Cécile Alduy, professora da universidade americana de Standford e especialista em discurso de extrema-direita.
No entanto, "seu programa apenas mudou a respeito dos fudamentos da FN, como a imigração e a identidade nacional", precisa Alduy, que também é pesquisadora do laboratório de política da Sciences Po(Cevipof).
Seus planos passam por frear a migração e combater a ideologia islamista": reservar as ajudas sociais aos franceses, acabar com a reagrupação familiar ou proibir o véu em espaços públicos, entre outras propostas.
"Porém, elegeu um vocabulário diferente para justificá-lo: em nome do laicismo e dos valores republicanos, incluindo o feminismo, ataca o Islã e quer limitar drasticamente a imigração não europeia", acrescenta.
Esses temas passaram, entretanto, para o segundo plano em uma campanha eleitoral marcada pela guerra na Ucrânia e pela preocupação sobre uma eventual perda de poder aquisitivo na França, que a candidata de extrema-direita busca explorar.
"Entre Macron e nós, há que escolher entre o poder do dinheiro que beneficia poucos e o poder aquisitivo que beneficia todos", disse Le Pen, que propõe reduzir o IVA dos combustíveis de 20% a 5,5%.
Diante do auge de sua principal adversária, a 10 dias do primeiro turno, o presidente participou, na quinta-feira (30), pela primeira vez, da reunião semanal de seu comitê de campanha para pedir uma "mobilização coletiva", disse à AFP um participante.
"As pessoas a banalizaram, olharam para o outro lado, dizem: 'É mais simpática'", constatou, pouco depois, Macron, durante um ato eleitoral no oeste da França, assegurando que "ele combate o discurso de extrema-direita".
Duelo na extrema-direita
Macron, o grande favorito durante meses, já se impôs, em 2017, com 66,1% dos votos no segundo turno contra Le Pen, que, por sua vez, enfrenta, nesta eleição, um rival de peso na extrema-direita, que já lhe tirou eleitores e militância.
O polêmico comentarista, Éric Zemmour, sacudiu a campanha com suas propostas mais radicais, como a criação de um "Ministério da Remigração", para expulsar um milhão de estrangeiros em cinco anos.
Com seu "dicurso radical, até mesmo brutal", Zemmour busca mobilizar os eleitores "por meio do medo" e aparecer como um "homem providencial" diante do suposto fim da França por causa dos migrantes não europeus, segundo Alduy.
"Unam-se a mim na reconquista do nosso país!", discursou, no domingo (27), o líder do partido Reconquista! a milhares de simpatizantes na praça do Trocaderó em Paris. "Vamos vencer" ou "essa é a nossa casa", responderam os eleitores.
A candidatura de Zemmour chegou ameaçar a de Le Pen, mas, nas últimas semanas, perdeu fôlego por sua suposta complacência com a Rússia em plena guerra na Ucrânia, algo que ele nega.
Além disso, "Zemmour minimiza a importância dos problemas relacionados ao poder aquisitivo", explicou, nesta segunda (28), à AFP o professor de Ciências Políticas da universidade belga de Mons, Stéphane François.
As eleições na França "se disputam quase sempre no centro", por isso deve-se "suprimir o aspecto radical", disse o especialista, para quem o candidato do Reconquista! "não é alguém que consiga unir as pessoas".
Mas isso não quer dizer que (as eleições) não deixem sua pegada na extrema-direita, diante do desempenho de Le Pen. À espera do resultado de 10 de abril, François adverte que Zemmour possui uma "máquina de guerra" ideológica e eleitoral por trás dele.
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