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Nova presidente do Peru tenta formar governo após destituição de Castillo

Dina Boluarte foi nomeada presidente do Peru pelo Congresso - REUTERS/Sebastian Castaneda
Dina Boluarte foi nomeada presidente do Peru pelo Congresso Imagem: REUTERS/Sebastian Castaneda

08/12/2022 06h08

A incerteza domina o Peru nesta quinta-feira (8), o primeiro dia na Presidência de Dina Boluarte, que pediu uma trégua à oposição para tentar superar a crise institucional após a fulminante destituição e detenção de Pedro Castillo, acusado de tentativa de golpe de Estado.

A advogada de 60 anos, vice-presidente até quarta-feira, terá que formar nas próximas horas seu primeiro gabinete ministerial, o que permitirá sentir o pulso da orientação de seu governo e vislumbrar suas possibilidades de sobreviver à tempestade política no Parlamento.

Após uma sucessão de anúncios que abalaram as instituições do Peru em poucas horas, Boluarte tomou posse como a primeira mulher presidente do país e deixou claro que pretende cumprir o restante do mandato, até julho de 2026.

Suas decisões iniciais serão cruciais para saber se conseguirá concretizar o objetivo ou se ela será obrigada a recuar e convocar eleições gerais antecipadas.

No primeiro discurso como chefe de Estado, Dina Boluarte pediu a "unidade nacional" e fez um apelo para que os partidos deixem de lado as ideologias, uma referência tácita ao confronto que marcou a relação entre o governo do esquerdista Castillo e o Congresso, dominado pela direita.

Depois, pediu uma "trégua política para instalar um governo de unidade nacional".

A ambiguidade cercou uma breve coletiva de imprensa nesta quinta-feira, na qual Boluarte não descartou explicitamente a convocação de eleições gerais antecipadas se a trégua política que pediu na quarta-feira fracassar.

"Existem algumas vozes que indicam eleições antecipadas, acredito que a ascensão à Presidência é para reorientar o que acontece no país. Posteriormente, em coordenação com outras organizações, iremos estudar alternativas de como melhor reorientar os destinos do país", respondeu a presidente, ao ser perguntada sobre a possibilidade de convocar eleições no curto prazo.

- Prisão por sete dias -

Enquanto isso, a Justiça peruana decretou sete dias de prisão preventiva para Castillo, acusado de rebelião e conspiração após sua tentativa frustrada de autogolpe de Estado.

"A Suprema Corte de Investigação Preparatória, a cargo do juiz Juan Carlos Checkley, decretou sete dias de prisão preventiva contra o ex-presidente Pedro Castillo, investigado pelo crime de rebelião (alternativamente conspiração)", tuitou o Judiciário em sua conta no Twitter.

Centenas de manifestantes foram às ruas de Ayacucho e Puno para pedir eleições gerais e a renovação do Congresso, segundo imagens de emissoras locais.

As manifestações começaram na noite de quarta-feira, quando centenas de apoiadores e opositores de Castillo se reuniram em frente à prefeitura de Lima, onde o ex-presidente estava detido.

"Fechem o Congresso, ninho de ratos", dizia um cartaz a favor do presidente deposto.

A alguns metros de distância, um grupo queimava camisas com o rosto de Castillo.

A tensão foi crescendo e a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.

- Horas de suspense -

O Peru viveu na quarta-feira horas de suspense que terminaram com Castillo detido à noite em uma base da polícia no leste de Lima, acusado em flagrante pelo crime de rebelião.

Horas antes de o Congresso debater sua terceira tentativa de remover Castillo do poder em 16 meses, ele anunciou que era alvo de "um ataque sem quartel" por parte do Parlamento, anunciou a dissolução do Congresso e um toque de recolher. O agora ex-presidente pretendia governar por decreto.

As Forças Armadas e a Polícia, no entanto, não o apoiaram. O Congresso ignorou seu anúncio e seguiu com o processo de destituição.

Desde que assumiu a Presidência em julho de 2021, Castillo viveu sob a pressão do Congresso e do Ministério Público, que o acusa de comandar uma suposta "organização criminosa" que distribui contratos públicos em troca de dinheiro.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou "preocupação" com a situação política no Peru e condenou "qualquer tentativa de subverter a ordem democrática", afirmou seu porta-voz, Stéphane Dujarric, em um comunicado.

Os Estados Unidos, por sua vez, elogiaram nesta quinta-feira as instituições do Peru por "garantirem a estabilidade democrática" e se comprometeram a trabalhar com a nova presidente.

Países de toda a região defenderam o respeito ao Estado de Direito e à democracia no Peru.

A União Europeia (UE), por meio de seu escritório em Lima, expressou apoio à "solução política, democrática e pacífica adotada pelas instituições peruanas" e pediu a todos os setores um "diálogo que assegure a estabilidade".

- Uma Presidência frágil -

Sem bancada própria no Congresso, Boluarte enfrenta uma situação de fragilidade muito similar à vivida entre 2018 e 2020 pelo então presidente Martín Vizcarra, que acabou perdendo o cargo.

"Ela não tem as ferramentas para governar, deve convocar eleições antecipadas, pode ser renunciando para que o presidente do Congresso assuma e antecipe as eleições", alertou o ex-presidente Ollanta Humala, que governou o país de 2011 a 2016, em declarações à emissora Canal N.

"Esperamos que a presidente nomeie um gabinete com uma base ampla, um gabinete muito bom. Todos devemos fazer o possível para que as coisas funcionem bem", tuitou a líder de direita Keiko Fujimori.

A filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) afirmou que seu partido, Força Popular, a principal minoria do Congresso, apoiará a nova presidente.   

Dina Boluarte pode ter a seu favor o enorme descrédito do Congresso, marcado por escândalos de corrupção. O Parlamento tem índice de rejeição de 86% em pesquisas recentes.

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© Agence France-Presse