Congresso mantém suspense sobre eleições no Peru, enquanto protestos persistem
Sem chegar a um consenso, o Congresso do Peru voltou a adiar, nesta terça-feira (31), a sessão para decidir sobre a antecipação das eleições gerais para este ano, enquanto centenas de manifestantes se concentravam no centro de Lima para exigir a renúncia da presidente, Dina Boluarte.
O Congresso suspendeu a sessão "para amanhã [quarta], 1º de fevereiro, às 11h [13h em Brasília]", anunciou o Legislativo pelo Twitter. Desde a sexta-feira, os congressistas tentam chegar a um acordo para antecipar as eleições para este ano, a pedido da própria presidente.
Em um Parlamento dividido em mais de dez forças políticas, além de congressistas independentes, as bancadas de direita impulsionam a antecipação das eleições, que já tinham sido adiantadas para abril de 2024.
Mas as bancadas de esquerda querem que seja incluído neste projeto de lei um referendo sobre uma Assembleia Constituinte, a grande razão da discórdia entre a liderança política peruana.
"A crise no Peru se deve ao modelo neoliberal que fracassou [...] A consulta popular para uma Assembleia Constituinte tem que acompanhar esta antecipação das eleições", disse o congressista Edgar Tello, do Bloco Magisterial (esquerda).
Centenas de pessoas desfilaram pelo centro de Lima até se aproximarem à noite a cerca de 200 metros do Parlamento, depois de uma marcha durante a qual manifestantes voltaram a exigir a renúncia de Boluarte, mas também a dissolução do Congresso, amplamente desacreditado pela opinião pública.
Alguns confrontos com a polícia ocorreram no final da manifestação, quando os agentes lançaram bombas de gás lacrimogêneo que dispersou os manifestantes.
"Ainda que prospere a antecipação das eleições, o pedido do povo é único: a renúncia da senhora Dina Boluarte. O que vamos resolver com a antecipação das eleições se o povo não quer saber nada de Dina Boluarte?", disse à AFP Nelson Calderón, de 30 anos, estudante vindo de Puno (sul).
- A rua não cede -
'A grande marcha em Lima, Dina renuncia já' foi convocada por entidades sindicais e camponesas, e se repetiu em outras cidades, como Arequipa e Juliaca, na região de Puno, fronteiriça com a Bolívia, onde também houve protestos.
Em Cusco, os próprios manifestantes pediram aos comerciantes solidariedade com a greve desta terça, fechando seus estabelecimentos. "Se os apelos não forem atendidos, os povos do sul vão continuar erguendo-se", alertou em Cusco à radio Exitosa o dirigente de Urubamba, Fredy Gonzáles.
Boluarte admitiu que a tensão social continua crescendo, com bloqueios que geraram escassez de produtos básicos e combustível em algumas regiões, em meio a uma crise que já deixou 48 mortos desde dezembro.
O poder político parece incapaz de encontrar uma resposta para as demandas da população, sobretudo a rural do sul andino, historicamente relegada, que apostou na melhora de suas condições de vida com a chegada do esquerdista Pedro Castillo à Presidência (2021-2022).
Castillo foi deposto e preso em 7 de dezembro, após tentar dissolver o Congresso. Boluarte, então vice-presidente, assumiu as rédeas do governo.
- Tropas contra os bloqueios -
Os militares que na véspera desobstruíram um trecho da rodovia Pan-Americana Sul, na região de Ica, a 250 km de Lima, permaneciam nesta terça resguardando a área para evitar novos bloqueios nesta via estratégica.
Em cidades do interior, sobretudo nos Andes e na Amazônia peruana, há desabastecimento, principalmente de gás liquefeito, usado em muitas casas.
"Temos que voltar no tempo e cozinhar com lenha e carvão, que é difícil, prejudica os pulmões", declarou à AFP a dona de casa Gabriela Álvarez, de 33 anos, em Poroy, a 15 km da cidade de Cusco.
Na cidade de Juliaca, seis xamãs previram que Boluarte vai renunciar nos próximos dias.
"Dina vai renunciar durante esta semana por [causa dos] tantos mortos que houve no Peru", disse um dos sacerdotes que jogaram um punhado de folhas de coca no chão para fazer a previsão.
"Ela renuncia de um jeito ou de outro, vamos fazer um feitiço para que se afaste de uma vez. Irmãos, o que pedimos é que Dina renuncie", disse o xamã à rádio La Decana, de Juliaca.
pb/ag/fp/mvv/ic/rpr/am
© Agence France-Presse
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.