Israel estabelece prazo até o Ramadã para Hamas libertar reféns

A Faixa de Gaza foi palco de combates violentos nesta segunda-feira (19), que prosseguirão durante o mês sagrado do Ramadã, exceto se o Hamas libertar todos os reféns, advertiu Israel, que ameaça entrar em Rafah, refúgio de mais de um milhão de deslocados no sul do território.

A comunidade internacional pediu a proteção do 1,4 milhão de palestinos refugiados nessa cidade na fronteira com o Egito, depois que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou sua intenção de invadi-la.

Benny Gantz, membro do gabinete de guerra de Netanyahu, alertou no domingo que o Exército israelense estava disposto a entrar em Rafah inclusive durante o Ramadã, que, segundo o calendário lunar, começa em 10 de março.

"O mundo deve saber, e os líderes do Hamas devem saber: se até o Ramadã os nossos reféns não estiverem em casa, os combates continuarão em todas as partes, incluindo a área de Rafah", declarou Gantz, em Jerusalém.

"O Hamas tem a escolha. Eles podem render-se, libertar os reféns e os civis de Gaza poderão celebrar o Ramadã", acrescentou o ex-ministro da Defesa.

Gantz afirmou que Israel facilitará a evacuação de civis, embora não tenha ficado claro para onde serão realocados.

Segundo imagens de satélite, o Egito começou a construir uma área cercada de muros perto da fronteira, no que parece uma medida de precaução no caso da chegada em massa de refugiados.

Nesta segunda-feira, 26 dos 27 membros da União Europeia pediram uma "pausa humanitária imediata" no território palestino e que Israel não coloque em prática os planos de iniciar uma operação militar em Rafah.

- Lula, 'persona non grata' -

Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre na Faixa de Gaza em 7 de outubro, em resposta ao ataque do Hamas contra seu território, que resultou em 1.160 mortes, segundo um balanço da AFP com base em números israelenses.

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O movimento islamista, que Israel busca "aniquilar", também capturou 250 pessoas, das quais 130 ainda estão detidas em Gaza, incluindo 30 que teriam morrido, de acordo com o Estado israelense.

A campanha militar de Israel já deixou pelo menos 29.092 mortos, a maioria mulheres, adolescentes e crianças, segundo o Ministério da Saúde do território palestino, governado desde 2007 pelo Hamas, classificado como "terrorista" pelos Estados Unidos, Israel e União Europeia.

A ofensiva causou uma queda de 19,4% no Produto Interno Bruto (PIB) israelense no último trimestre de 2023.

Também gerou uma onda de críticas. O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, declarou nesta segunda-feira o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva como "persona non grata" por comparar a guerra ao Holocausto.

No domingo, Lula acusou Israel de cometer "um genocídio" em Gaza, e comparou as ações israelenses com a campanha de Adolf Hitler para exterminar os judeus.

Netanyahu classificou seus comentários como "vergonhosos" e seu governo convocou o embaixador do Brasil para uma reunião com o chefe da diplomacia no memorial do Holocausto em Jerusalém.

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Nesta segunda, o chanceler Mauro Vieira convocou o embaixador israelense e chamou a consultas o representante de Brasília em Tel Aviv.

As perspectivas de um cessar-fogo diminuíram nos últimos dias, apesar dos esforços do Egito, Estados Unidos e Catar para chegar a um acordo.

Netanyahu reafirmou no domingo sua promessa de "concluir o trabalho até alcançar a vitória total" sobre o grupo islamista palestino, com ou sem acordo sobre os reféns.

- 'Meus filhos estão passando fome' -

Os confrontos são particularmente intensos em Khan Yunis, alguns quilômetros ao norte de Rafah.

Em imagens divulgadas pelo Exército israelense do interior de Gaza, é possível ver tropas em combate de casa em casa, com ajuda de unidades com cães. Também são mostrados tanques atravessando os escombros entre prédios bombardeados.

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Além de sua ofensiva, Israel impôs um certo total ao território palestino, impedindo a entrada de alimentos, água, medicamentos e combustível.

"Meus filhos estão passando fome, acordam chorando de fome", contou uma mulher no norte de Gaza à AFP.

O Conselho de Segurança da ONU pretende discutir esta semana uma nova resolução para exigir um cessar-fogo em Gaza, mas Washington já antecipou que pode vetar o texto por considerar mais conveniente um acordo negociado de trégua com uma troca de reféns.

O principal tribunal das Nações Unidas iniciou uma série de audiências para analisar as consequências jurídicas da ocupação dos territórios palestinos por Israel desde 1967.

O ministro das Relações Exteriores da Autoridade Palestina, Riyad al Maliki, denunciou na Corte Internacional de Justiça (CIJ) que seu povo sofre com o "colonialismo e apartheid" sob a ocupação israelense.

O gabinete de Netanyahu informou que não participará das audiências, que buscam "prejudicar o direito de Israel de se defender de ameaças à sua existência".

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Por outro lado, especialistas em direitos humanos da ONU pediram nesta segunda-feira uma investigação independente sobre as acusações de violência, incluindo sexual, contra mulheres palestinas por parte, supostamente, de israelenses em Gaza e na Cisjordânia. Israel classificou as acusações como "sem fundamento".

A guerra suscita temores de uma expansão do conflito. Nesta segunda-feira, dois bombardeios israelenses atingiram Ghaziyeh, no sul do Líbano, deixando 14 feridos, segundo uma fonte de segurança.

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© Agence France-Presse

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