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Caso em MG: Abracerva diz que é raro cervejarias utilizarem dietilenoglicol

O dietilenoglicol costuma ser utilizado em sistemas de refrigeração - iStock
O dietilenoglicol costuma ser utilizado em sistemas de refrigeração Imagem: iStock

10/01/2020 15h14Atualizada em 10/01/2020 21h08

O presidente da Associação Brasileira das Cervejarias Artesanais (Abracerva), Carlo Lapolli, disse hoje (10), que a substância dietilenoglicol raramente é usada na produção de cervejas. Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, exames laboratoriais realizados em amostras de dois lotes da cerveja Belorizontina, da fabricante mineira Backer, indicam que o produto pode ter sido contaminado pelo anticongelante, causando a morte de uma pessoa e a internação de outras sete, em Belo Horizonte.

Lapolli observou que, devido a suas propriedades anticongelantes, o dietilenoglicol costuma ser empregado em sistemas de refrigeração, por vários segmentos produtivos. E que também pode ser encontrado em radiadores de veículos. No entanto, segundo o dirigente da entidade que representa parte dos fabricantes de cerveja, dos fornecedores de matéria-prima e de pontos de venda da bebida, a indústria cervejeira costuma optar por outros produtos.

"Quase a totalidade das cervejarias artesanais utiliza álcool etílico [como anticongelante], ou seja, o álcool puro, que não oferece nenhum tipo de risco de contaminação caso entre em contato com a cerveja", explicou Lapolli.

Ainda de acordo com Lapolli, as investigações sobre as causas da contaminação, que levou oito pessoas a serem internadas em hospitais da região metropolitana de Belo Horizonte e de Juiz de Fora, com insuficiência renal aguda e alterações neurológicas centrais e periféricas, terão que apontar como e em que momento as cervejas da Backer foram contaminadas pelo dietilenoglicol.

"Essa é uma pergunta que terá que ser respondida, já que a própria cervejaria Backer afirma que não utiliza o dietilenoglicol em sua fábrica", disse Lapolli.

Em duas notas já divulgadas à imprensa, a Backer assegurou que a substância não faz parte de seus processos de produção. Ainda assim, por precaução, a empresa acatou a decisão de recolher os lotes L1 1348 e L2 1348, dos quais faziam parte as amostras testadas pela Polícia Civil.

Segundo Lapolli, em todo o mundo, cervejarias utilizam um sistema de refrigeração parecido, empregando tanques duplos, encapsulados, que evitam o contato da cerveja armazenada com o produto usado no sistema de refrigeração.

"O sistema de resfriamento de uma cervejaria serve para manter a cerveja gelada nos tanques. A cerveja fica armazenada em tanques revestidos internamente por inox. Ao redor destes há uma serpentina que fica protegida por uma outra placa de inox, que forma a camada que vemos por fora", explicou Lapolli.

"Esse sistema de tanques encamisados é utilizado no mundo inteiro e não temos notícias desse tipo de contaminação em nenhuma cervejaria do mundo. Seria um fato inédito. Eu, particularmente, não tenho notícias de vazamentos desse tipo na indústria [mundial]", comentou Lapolli, ao considerar a hipótese de que o dietilenoglicol tenha contaminado parte da produção da Backer.

Mesmo apontando a necessidade de aprofundamento das investigações, o presidente da Abracerva considerou acertada a decisão da Backer de recolher os dois lotes de cerveja. "Há algumas perguntas que teremos que aguardar para ver respondidas. Acho que temos que aprofundar a investigação e realmente saber a origem desta contaminação, a causa desta síndrome e se, realmente, ela está ligada ao dietilenoglicol e não a nenhum outro tipo de agente [contaminante] externo", disse Lapolli.

Errata: este conteúdo foi atualizado
A versão inicial desta matéria tinha uma foto de um copo da cervejaria Colorado. Porém não há nenhuma menção a esta marca no texto. A imagem foi retirada.
Diferentemente do que informou o primeiro parágrafo, a cervejaria Backer é mineira, e não catarinense. A informação foi corrigida.