Itamaraty tem fogo e vidros quebrados durante protesto em Brasília

Em Brasília

  • Gustavo Froner/Reuters

    Manifestantes tentam invadir a sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, durante mais uma noite de protesto

    Manifestantes tentam invadir a sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, durante mais uma noite de protesto

Com a paisagem da Esplanada dos Ministérios tomada pelo gás lacrimogêneo e o forte odor dos sprays de pimenta no ar usados pela força policial de cerca de 3,5 mil homens, a manifestação ontem em Brasília registrou como ápice a invasão do Palácio do Itamaraty.

Sede do Ministério das Relações Exteriores e abrigo de um acervo importante da arte brasileira, o prédio teve vidraças quebradas e focos de incêndio nas colunas externas. A escultura Meteoro, de Bruno Giorgi, pousada sobre o espelho d'água, foi escalada pelos manifestantes.

Vândalos quebram vidraças do Itamaraty e deixam estilhaços

  • Kleyton Amorim/UOL

    Cones isolam estilhaços de vidro

  • Kleyton Amorim/UOL

    Vidraças da fachada são quebradas

A manifestação na Esplanada reuniu cerca de 30 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, a partir da tarde de ontem. Como um forte esquema de segurança protegia o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, por volta das 20 horas parte dos manifestantes invadiu o Itamaraty. A Tropa de Choque da Polícia Militar foi acionada. Seguranças do ministério usaram extintores de incêndio para quebrar a porta de vidro da parte de trás do prédio e permitir a entrada dos policiais. Logo depois, chegaram os fuzileiros navais para reforçar o cerco aos ativistas.

Com a Esplanada tomada e alertados de que o destino final planejado pelos organizadores informais da marcha seria o Planalto, o governo mobilizou cerca de 200 homens do Batalhão de Choque da Polícia do Exército, que formaram um escudo humano para proteger o Palácio. Assessores da presidente Dilma Rousseff acompanhavam pelas janelas do palácio a movimentação. A presidente só deixou o Planalto por volta de 20h40.

Nos primeiros momentos de confronto, integrantes do protesto eram borrifados com sprays de pimenta pela PM e respondiam com rojões. Mais tarde, policiais recorreram a bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Por volta das 22h15, o clima voltou a ficar tenso. A PM começou a jogar bombas de gás no meio da multidão para dispersar a manifestação, que já durava cerca de seis horas. O grupo dispersou e tomou o caminho da rodoviária no lado oposto ao Congresso. No caminho, deixou um rastro de pichações e de vandalismo, com a destruição de placas de trânsito e paradas de ônibus.

O clima de tensão causado pelo forte esquema de segurança começou no Museu da República, de onde a manifestação ganhou as ruas, por volta das 17 horas. Minutos depois, milhares de pessoas já tomavam o gramado na frente do Congresso.

O primeiro confronto ocorreu quando manifestantes tentaram seguir para o Palácio do Planalto. A PM montou vários cordões de isolamento e usou a Cavalaria, o batalhão de cães, a Tropa de Choque e até um blindado. Policiais conseguiram barrar os manifestantes já no primeiro cordão, que reagiram e se dispersaram. Logo após esse confronto, manifestantes se dirigiram ao Itamaraty, onde não havia reforço na segurança.

Negociação

Articulada pelas redes sociais, a manifestação não tem uma liderança única, o que dificultou as negociações das forças de segurança. Conversas haviam sido feitas anteriormente para tentar convencer os líderes a deixar a população apenas no gramado na frente do Congresso, mas o "acordo" não foi possível por causa da horizontalidade do movimento. Pacífica em seu início, a manifestação reuniu pessoas com os mais diferentes cartazes e bandeiras, exceto de partidos políticos. Nos momentos em que integrantes do protesto jogavam rojões em direção à polícia, muitos gritavam "sem violência" e "sem vandalismo".

Poucos militantes da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da UNE (União Nacional dos Estudantes) compareceram com camisas das entidades. Durante todo o protesto, eles ficaram isolados, evitando se aproximar do grupo que abria a manifestação. Mas não ocorreram reações hostis aos militantes.

Dentro do Congresso, os parlamentares esvaziaram as sessões. Enquanto os manifestantes já ocupavam o gramado do Congresso Nacional, o presidente interino da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT/PR), disse que a preocupação da segurança era proteger o patrimônio e a integridade física dos manifestantes e por isso o contingente foi reforçado.

À noite, manifestantes acenderam fogueiras com pedaços de papelão, cabos de bandeiras e cartazes pelo gramado do Congresso e nas duas pistas da Esplanada dos Ministérios. Um toldo montado próximo do Ministério da Saúde foi incendiado. O fogo foi apagado por uma equipe do Corpo de Bombeiros. (Colaboraram Rafael Moraes Moura, Daiene Cardoso e Ricardo Della Coletta). As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

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