Banco suíço viu movimentação suspeita de ex-diretor da Dersa já em 2008
Os documentos suíços mostram que Vieira de Souza, preso na terça-feira, 19, acusado de ser operador financeiro do PSDB e da Odebrecht, acumulou R$ 10,9 milhões (em valores da época) em uma das contas no exterior entre 2008 e 2010, período em que foi diretor de Engenharia da estatal paulista.
E-mails trocados entre funcionários do banco suíço em maio de 2008 indicam que a suspeita começou a partir de uma série de depósitos feitos na conta do engenheiro por offshores com sede em Hong Kong e nas Bahamas um mês antes, no valor total de US$ 1 milhão. Uma das mensagens diz que é preciso "aumentar a vigilância", porque o beneficiário da conta é uma Pessoa Exposta Politicamente (PEP), termo universal usado para identificar políticos e dirigentes de estatais.
O material foi anexado ao pedido de prisão de Vieira de Souza feito pela força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. A Polícia Federal também fez buscas em imóveis do ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), que teria recebido um cartão de crédito em 2007 vinculado a uma conta do engenheiro, de quem é amigo. Após a operação, Aloysio pediu demissão da presidência da Investe SP, agência de investimentos do governo João Doria (PSDB). O ex-chanceler nega ter recebido o cartão.
Após a primeira suspeita, o funcionário do banco pediu ao colega que produzisse um relatório explicando a ligação entre as empresas que fizeram os depósitos e Vieira de Souza, o contexto econômico das transações e o perfil do cliente. No documento, o funcionário afirma que o então diretor da Dersa não tinha relação com as offshores e que os depósitos vinham das "várias atividades" dele como investidor em imóveis, proprietário de um hotel e outras funções em empresas públicas. O funcionário do Bordier & Cie relata ainda que conhecia Vieira de Souza desde 1993 e que "ele é amigo de vários importantes clientes brasileiros do nosso banco".
A abertura da empresa foi feita por um procurador canadense por meio do escritório de advocacia Mossack Fonseca, especializado em abrir empresas em paraísos fiscais e peça central do caso Panama Papers, que revelou, em 2015, rede de offshores usadas por políticos, empresários e celebridades para ocultação de patrimônio.
Em março de 2007, dois meses antes de Vieira de Souza assumir a Diretoria de Engenharia da Dersa, a Groupe Nantes abriu quatro contas no banco suíço. Segundo o Ministério Público Federal, as contas foram usadas para receber propina da Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht até 2010, quando ele deixou a Dersa.
À época, o banco suíço enviou um funcionário ao Brasil para investigar a atuação do cliente. Um memorando de 2011 concluiu que "a conta foi alimentada regularmente" e que "a fortuna está alinhada com as muitas atividades profissionais do cliente".
Procurada, a defesa de Vieira de Souza não respondeu até a conclusão desta edição. As empreiteiras disseram colaborar com as investigações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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