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Moradores reclamam de truculência da PM em Paraisópolis há ao menos 10 anos

Paraisópolis - Lalo de Almeida
Paraisópolis Imagem: Lalo de Almeida

Felipe Cordeiro

02/12/2019 18h56

Cenas de terror e medo em Paraisópolis, com a suspeita de ação truculenta da Polícia Militar, assustam os moradores da segunda maior comunidade de São Paulo há pelo menos dez anos. Na madrugada de ontem, nove pessoas morreram pisoteadas e outras 12 ficaram feridas durante tumulto após ação da PM em um baile funk.

Em 2009, moradores de Paraisópolis denunciaram à reportagem do jornal O Estado de S. Paulo agressões, sessões de tortura e invasões sem mandados judiciais por policiais durante os três meses de Operação Saturação da PM.

A operação teve início depois dos tumultos provocados por algumas dezenas de moradores, em 2 de fevereiro, que deixaram três PMs baleados. Entre os agitadores havia chefes do tráfico de drogas. Como resposta, nos dias que se seguiram ao quebra-quebra, parte da tropa deixou rastros de abusos e violência.

"Durante a ocupação, tentativas de desestabilização das forças de segurança foram levadas a efeito por parte de pessoas que se sentiam incomodadas com a presença da polícia", afirmou à reportagem, em 2009, o capitão Emerson Massera, porta-voz da PM.

Entre o fim de 2012 e o início de 2013, durante uma onda de violência que atingiu a capital e a região metropolitana, deixando mais de 100 mortos, a Operação Saturação prendeu mais de 100 pessoas em Paraisópolis. A ação teve como objetivo capturar criminosos e sufocar o tráfico de drogas na comunidade, de onde partiriam ordens para a execução de PMs. A polícia encontrou uma lista com o nome de 40 agentes de segurança marcados para morrer.

Porém, os moradores novamente reclamaram de abusos da PM. Um dos casos mais marcantes foi o de uma jovem de 17 anos que perdeu um olho, segundo seu relato, por um tiro de bala de borracha disparado por policiais.

A comunidade relatou à Defensoria Pública de São Paulo outras ocorrências de invasões a residências, determinação de toque de recolher e destruição de bares pelos policiais.

À época, os moradores se organizaram para tentar denunciar os abusos dos policiais. Os depoimentos, todos anônimos, foram colhidos pela organização não governamental (ONG) Tribunal Popular. Na favela, o grupo de policiais violentos ficou conhecido como o "Bonde do Careca".

Em 2019, segundo os relatos, a escalada da tensão se iniciou após o assassinato na comunidade do sargento da PM Ronald Ruas, há um mês. De acordo com os moradores, aumentaram em Paraisópolis ações policiais, com denúncias de ameaças e truculência.

Nas redes sociais, moradores vinham comentando nos últimos dias sobre uma possível "invasão" da PM na comunidade.