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Exército apura ida de Pazuello a ato político de Bolsonaro no Rio

Jair Bolsonaro discursa em um comício no RJ ao lado do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello - ANDRE BORGES / AFP
Jair Bolsonaro discursa em um comício no RJ ao lado do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello Imagem: ANDRE BORGES / AFP

Marcio Dolzan, Roberta Jansen e Marcelo Godoy

Do Estadão Conteúdo

24/05/2021 08h00Atualizada em 24/05/2021 09h04

Acompanhado pelo ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello, pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e mais uma dezena de apoiadores — todos sem máscaras e sobre um carro de som — o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) discursou ontem para milhares de apoiadores no Aterro do Flamengo, no Rio.

A presença de Pazuello, uma general de divisão da ativa, em manifestação político-partidária sem que ele exerça cargo no governo que justifique sua ida ao local, causou constrangimento na cúpula do Exército e reações de políticos.

O comando da Força deve tratar do caso nesta segunda-feira. É que a legislação — o Estatuto dos Militares e o Regulamento Disciplinar — proíbe que militares da ativa participem desse tipo de ato ou se manifestem politicamente. Recentemente, a instituição apertou o cerco a oficiais que faziam posts políticos em redes sociais.

Na quarta-feira, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, disse à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara que militares da reserva podem ir a manifestações, ao contrário de quem está na ativa.

"Os da ativa não podem e serão devidamente punidos se aparecerem em manifestações políticas". A exceção são as manifestações autorizadas pelo comando.

Mas o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, foi surpreendido pela presença de Pazuello no Aterro do Flamengo. O PSDB divulgou nota na qual criticou a presença de Pazuello no evento.

"Um general de divisão do Exército Brasileiro participando de um evento de natureza política não condiz e não respeita a instituição da qual faz parte. Como instituições do Estado brasileiro, nossas Forças atingiram grau de maturidade institucional e o respeito de toda sociedade."

O presidente do Cidadania, Roberto Freire, pediu a punição de Pazuello. "O Alto Comando do Exército não pode deixar passar tal gesto de quebra de hierarquia e indisciplina." Segundo ele, as Forças Armadas devem deixar claro que não serão transformadas em instrumento político.

Com a máscara no queixo, Pazuello passou no meio da multidão de apoiadores e subiu ao carro de som onde estava o presidente. Já sem máscara, um sorridente Pazuello acenou para os manifestantes. Bolsonaro chamou o ex-ministro de "nosso gordinho". Ao depor na CPI da Covid, Pazuello foi questionado sobre ter aparecido sem máscara em um shopping em Manaus. Ele admitiu o erro e pediu desculpas. No domingo, no entanto, não houve essa preocupação.

No ato, Bolsonaro afirmou lamentar "cada morte no Brasil, não importa a motivação da mesma". "Mas nós temos que ser fortes, temos que viver e sobreviver. Fique bem claro: o meu Exército Brasileiro jamais irá às ruas pra manter vocês dentro de casa".

A fala encerrou um passeio de moto no Rio. Entre os apoiadores, uma minoria usou máscaras. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, criticou o ato. "Previsível espetáculo de covarde omissão que ignora hospitais lotados e a nova cepa indiana. Pobre do Brasil, pobre do meu Rio." (Colaborou Pedro Venceslau)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.