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Atentados de Bruxelas voltam a colocar na berlinda segurança de aeroportos

Ralph Usbeck via AP
Imagem: Ralph Usbeck via AP

Fernando Duarte

Da BBC Brasil, em Londres

23/03/2016 11h17

Os atentados de Bruxelas voltaram a expor o tamanho do desafio que autoridades ao redor do mundo enfrentam para garantir a segurança de quem viaja de avião --além, claro, de evidenciar a fragilidade da proteção a sistemas de transporte urbanos.

O ataque ao aeroporto de Zaventem não foi o primeiro em que passageiros e funcionários foram atacados no saguão --em 2011, por exemplo, 37 pessoas morreram em um atentado suicida no saguão de desembarque do Aeroporto Domodedovo, em Moscou.

Mas aeroportos europeus e em boa parte do mundo são marcados pelo que se pode chamar de abertura em suas áreas públicas. E disso se aproveitaram os autores dos atentados de terça-feira (22) em Bruxelas.

Alvos

Em partes da África, do Oriente Médio e do Sudeste da Ásia, a entrada em aeroportos é rigidamente controlada, incluindo postos avançados de checagem no caminho para o aeroporto. Mas especialistas em segurança não recomendam que cidades europeias adotem os mesmos procedimentos, embora prevejam que medidas de segurança provisórias mais rigorosas sejam adotadas nos próximos meses.

Além dos transtornos que isso poderia criar para os passageiros, o principal argumento é de que criar uma nova barreira de segurança pode ser mais um problema que uma solução.

"O ataque à área de check-in se aproveitou justamente da aglomeração de pessoas em uma área. Estabelecer uma checagem permanente de segurança na entrada pode simplesmente criar filas, que também podem ser alvos para ataques", diz Henrik Rothe, especialista em gerenciamento de aeroportos da Universidade Cranfield, no Reino Unido.

"Sem falar que vai criar mais transtornos para passageiros em um momento em que aeroportos precisam diversificar suas fontes de arrecadação. Militarizar aeroportos seria algo triste e que poderia custar caro, por mais que a segurança seja fundamental."

Em 2003, quando o governo britânico ordenou que tanques protegessem o Aeroporto de Heathrow, em Londres, depois de obter informações sobre um possível atentado, agências de viagem relataram quedas vertiginosas na procura de voos para o Reino Unido, sobretudo nos EUA.

Ao mesmo tempo, as cenas de horror em Zaventem também podem fazer com que muitas pessoas pensem duas vezes antes de entrar em um avião.

A última grande alteração internacional na segurança de aeroportos ocorreu em 2006, quando a descoberta de um suposto plano de explodir aviões no ar usando explosivos líquidos forçou ainda mais restrições ao conteúdo de bagagens de mão e obrigou aeroportos a reorganizar procedimentos de segurança.

'Previsibilidade'

Atualmente, aeroportos são organizados de maneira a criar uma linha clara de segurança, que leva a uma espécie de "bolha segura", que serve também para proteger as aeronaves. O ataque de Bruxelas justamente ocorreu fora da bolha. O que fazer?

"Não deveríamos estar pensando em introduzir mais checagens de segurança nos aeroportos, mas sim em mudar a maneira como fazemos essa segurança. A chave aqui é tornar a vigilância menos previsível, com foco em identificação de comportamentos e o aumento no número de rondas, incluindo o uso de cães farejadores", diz Philp Baum, especialista em segurança aérea e editor da revista Aviation Security International.

"Isso tornaria as coisas muito mais difíceis para extremistas, que hoje se beneficiam de medidas de segurança por demais previsíveis".

Em entrevista à mídia israelense, Pini Schiff, ex-diretor do principal aeroporto de Israel, o Ben Gurion, em Tel Aviv --considerado um dos mais seguros do mundo--, criticou as autoridades belgas pelo que chamou de "falha colossal" nos atentados de terça-feira. E diversos veículos de comunicação europeus mencionaram o estilo rigoroso que as autoridades israelenses adotam na segurança de lugares públicos.

Mas muitos duvidam que as medidas adotadas por Israel possam ser replicadas com facilidade.

"Não vejo isso acontecendo nos aeroportos europeus, especialmente porque geraria um imenso debate sobre liberdade civis, sem falar em discussões sobre custos. O que me parece inevitável é que filas e o estresse para os passageiros fiquem cada vez mais constantes nas viagens, pois haverá mais regularidade em checagens extraordinárias", diz Hothe.

"E isso é péssimo quando os administradores querem que as pessoas usem os aeroportos cada vez mais como algo que não seja apenas uma passagem até as aeronaves."

Bruxelas é atingida por ataques terroristas cometidos pelo EI

AFP