Trump ou Hillary: quem seria melhor para o Brasil?
Em duas semanas os americanos escolherão quem sucederá Barack Obama na Presidência dos Estados Unidos.
Dentre os vários candidatos ao posto, só dois aparecem nas pesquisas com chances de vitória: a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, do Partido Democrata, e o empresário Donald Trump, do Partido Republicano.
Qual deles faria um governo mais favorável ao Brasil e aos brasileiros?
Economia e comércio
Vários aspectos devem ser levados em conta para responder a questão. Um deles é a maneira como os dois candidatos e seus partidos encaram a economia e as relações comerciais entre os Estados Unidos e o resto do mundo.
O Brasil se beneficiaria de uma maior abertura dos EUA a produtos brasileiros. Hoje os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás da China.
Historicamente, o Partido Republicano, de Trump, defende o livre comércio e se opõe a medidas protecionistas que ajudem empresas americanas a competir com estrangeiras.
Já o Partido Democrata, de Hillary, costuma encarar o livre comércio com maior ceticismo e é normalmente mais sensível a apelos por políticas protecionistas.
Por essa lógica, um candidato republicano tenderia a ser melhor para os interesses econômicos do Brasil do que um candidato democrata.
Mas Trump inverteu essa lógica ao propor renegociar os acordos comerciais firmados pelos EUA para preservar empregos no país e reduzir o déficit americano nas transações com o resto do mundo.
Hillary tem adotado uma postura mais flexível em relação ao comércio exterior ao longo de sua carreira.
Quando senadora, ela votou a favor de alguns acordos que ampliaram as transações dos EUA com outras nações, como o Chile, Omã e o Vietnã. No posto de secretária de Estado do governo Barack Obama, ela ajudou a negociar a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês), que poderá ser o maior acordo comercial do mundo, unindo EUA, Japão e outros dez países no Pacífico.
Na campanha, porém, Hillary deixou de apoiar a TPP. O acordo era alvo de duras críticas do senador Bernie Sanders, com quem Hillary disputava a candidatura pelo Partido Democrata.
Imigração e vistos
Estima-se que um milhão de brasileiros vivam nos EUA, boa parte em situação migratória irregular. Hillary afirma que, se eleita, apresentará no início do governo uma proposta para que a maioria dos imigrantes sem documentos possa se regularizar. Ela diz que só deportará imigrantes que cometam crimes violentos.
Nas pesquisas, a candidata lidera com folga entre os eleitores latinos.
Já Trump propõe construir um muro na fronteira dos EUA com o México e promete deportar todos os imigrantes sem documentos.
Ele diz que protegerá o "bem-estar econômico de imigrantes legais" e que a admissão de novos imigrantes levará em conta suas chances de obter sucesso nos EUA, o que em tese favoreceria brasileiros com alta escolaridade e habilidades específicas que queiram migrar para o país.
Outro tema de interesse dos brasileiros é a facilidade para obter vistos americanos. Hillary e Trump fizeram poucas menções ao sistema de concessão de vistos do país.
Hoje, Brasil e EUA negociam a adesão brasileira a um programa que reduziria a burocracia para viajantes frequentes brasileiros, como executivos. A eliminação dos vistos, porém, ainda parece distante, independentemente de quem vença a eleição.
Para que a isenção possa ser negociada, precisaria haver uma redução no índice de vistos rejeitados em consulados americanos no Brasil, uma exigência da legislação dos EUA.
Relação com o Brasil
O Brasil e a América Latina não foram tratados como temas prioritários nas campanhas dos dois candidatos.
Em 2015, Trump citou o Brasil ao listar países que, segundo ele, tiram vantagem dos Estados Unidos através de práticas comerciais que ele considera injustas. A balança comercial entre os dois países, porém, é favorável aos EUA.
Como empresário, Trump é sócio de um hotel no Rio de Janeiro e licenciou sua marca para ser usada por um complexo de edifícios na zona portuária da cidade. Anunciada em 2012, a obra ainda nem começou.
Hillary viajou ao país para a posse de Dilma Rousseff, em 2011, e voltou em 2012 para se reunir com autoridades em Brasília.
Em 2013, quando já havia deixado o governo Obama, ela fez uma palestra paga a executivos do banco brasileiro Itaú, em Nova York. No discurso, que teve o conteúdo divulgado nas últimas semanas pelo site Wikileaks, ela disse sonhar com um "mercado comum hemisférico, com comércio aberto e fronteiras abertas".
Criticada por Trump por pregar "fronteiras abertas", ela disse depois que se referia à defesa de um sistema elétrico interligado no hemisfério.
Questão de química
Especialistas nas relações Brasil-EUA costumam dizer que os laços entre os dois países dependem em grande medida da química entre seus líderes, independentemente de seus partidos ou ideologias.
Eles afirmam que, embora seguissem tradições políticas bastante distintas, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) e George W. Bush (2001-2009) tinham uma relação tão boa quanto a mantida entre FHC (1995-2002) e Bill Clinton (1993-2001), que tinham maior afinidade ideológica.
Já a relação entre Barack Obama e Dilma Rousseff nunca foi tão próxima e sofreu com a revelação de que o governo americano havia espionado a presidente brasileira.
Analistas afirmam ainda que Brasil e EUA têm relações bastante diversificadas e que os laços devem ser mantidos qualquer que seja o resultado da eleição em novembro, já que os dois governos dialogam dentro de estruturas burocráticas.
Do lado brasileiro, há interesse em se aproximar mais dos EUA, vença quem vencer. Em entrevista à BBC Brasil em julho, o embaixador brasileiro em Washington, Sérgio Amaral, disse que o governo Temer investiria nas relações com as cinco principais potências globais (EUA, China, Rússia, França e Reino Unido).
Amaral afirmou ainda que, na Embaixada, priorizaria áreas em que Brasil e EUA têm maior convergência, como direitos humanos e meio ambiente.
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