Herdeiros de milhões e boa educação: o surpreendente perfil dos autores do massacre no Sri Lanka
As autoridades do Sri Lanka investigam os atentados a bomba do domingo de Páscoa, que mataram pelo menos 250 pessoas e deixaram cerca de 500 feridos em igrejas e hotéis de luxo no país.
Mas o que se sabe sobre os homens e mulheres que realizaram os ataques suicidas?
As investigações preliminares apontam que nove pessoas são suspeitas de terem conduzido de forma coordenada os seis ataques, que ocorreram em um curto espaço de tempo, em três cidades.
Há evidências crescentes de que o ataque foi realizado por jihadistas locais ligados ao grupo extremista autodenominado Estado Islâmico.
De acordo com o presidente do Sri Lanka, Maithripala Sirisena, o clérigo radical islâmico Zahran Hashim - considerado um dos supostos mentores do atentado - morreu na explosão no Hotel Shangri-La, na capital Colombo.
'Classe média alta'
Até agora, oito suspeitos foram identificados - e, de acordo com as autoridades, a maioria foi criada em famílias de "classe média ou média-alta" e tem bom nível de escolaridade.
Entre eles, estão dois filhos de um dos comerciantes de especiarias mais ricos do Sri Lanka, Mohammad Yusuf Ibrahim, que foi preso após os ataques.
Um deles teria acompanhado Zahran Hashim e detonado explosivos no Hotel Shangri-La, enquanto vários hóspedes tomavam café da manhã.
O outro teve como alvo o sofisticado restaurante do Hotel Cinnamon Grand, que fica nas redondezas.
Além disso, uma das noras do empresário teria detonado explosivos durante uma operação de buscas da polícia na casa da família no domingo. Várias pessoas, incluindo crianças e três policiais, teriam sido mortas na explosão.
A situação da família do comerciante de especiarias é semelhante à descrição dada pelas autoridades dos demais supostos autores dos ataques.
A maioria era "bem-educada, bastante independente economicamente e suas famílias gozavam de estabilidade financeira", afirmou o vice-ministro da Defesa, Ruwan Wijewardene, em entrevista coletiva.
Outro suposto autor dos ataques suicidas estudou no Reino Unido.
Abdul Latif Jamil Mohammed morou em Londres entre 2006 e 2007 para estudar Engenharia Aeroespacial na Universidade de Kingston, mas não teria concluído o curso.
Na sequência, ele estudou na Austrália, antes de retornar ao Sri Lanka, segundo afirmou o primeiro-ministro do país, Scott Morrison.
Quem é Zahran Hashim?
Até então pouco conhecido, Hashim é uma clérigo radical islâmico, que ganhou notoriedade localmente há alguns anos como parte de um grupo que vandalizou estátuas budistas. Na sequência, publicou vídeos no YouTube incitando a violência contra não-muçulmanos.
Depois das explosões do domingo de Páscoa, ele apareceu em um vídeo divulgado pelo Estado Islâmico, que reivindicou na terça-feira a autoria dos atentados. No vídeo, sete homens - supostos autores do massacre - prometiam lealdade ao grupo. Hashim foi o único a mostrar o rosto.
Não está claro, no entanto, se Hashim teve contato direto com o Estado Islâmico ou se ele simplesmente prometeu obediência ao grupo.
Na segunda-feira, as autoridades do Sri Lanka responsabilizaram o Thowheed Jamath Nacional (NTJ), grupo extremista islâmico local, pelo massacre.
A comunidade muçulmana do Sri Lanka disse que alertou as autoridades sobre Hashim há alguns anos, após a publicação dos vídeos no Youtube.
"Ele era um homem solitário e radicalizava os jovens", afirmou Hilmy Ahamed, vice-presidente do Conselho Muçulmano do Sri Lanka, à agência de notícias AFP.
Mas "ninguém pensou que essas pessoas fossem capazes de realizar um ataque deste porte", acrescentou.
A irmã de Hashim disse à BBC que soube do ocorrido pela imprensa.
"Nunca pensei que ele faria algo assim", declarou.
"Lamento profundamente o que ele fez, mesmo sendo meu irmão, eu não posso aceitar isso."
As vítimas
As autoridades do Sri Lanka chegaram a divulgar que 359 pessoas morreram no ataque - mas revisaram para baixo o número de mortos por causa de um erro de cálculo.
Segundo o Ministério da Saúde, agora são "cerca de 253" vítimas, uma diferença de mais de 100 mortos em relação à contagem divulgada originalmente.
O governo atribuiu o erro à dificuldade em identificar partes dos corpos no local das explosões.
A maioria das vítimas é do Sri Lanka, mas há pelo menos 38 estrangeiros entre os mortos - incluindo cidadãos do Reino Unido, Dinamarca, Portugal, Índia, Turquia, Austrália, Holanda, Japão, Suíça, Espanha, Bangladesh, EUA e China.
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