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A trajetória do navio Bouboulina, suspeito de ser responsável pelo vazamento de óleo no Nordeste

O navio Bouboulina, investigado pelo derramamento de óleo nas praias do Nordeste - C. Plague/Fleetmoon
O navio Bouboulina, investigado pelo derramamento de óleo nas praias do Nordeste Imagem: C. Plague/Fleetmoon

Camilla Costa

Da BBC News Brasil em Londres

01/11/2019 16h40Atualizada em 13/11/2019 10h12

O navio petroleiro Bouboulina, de bandeira grega, atracou no porto de Jose, na Venezuela, no dia 15 de julho.

Três dias depois, já carregado com cerca de 1 milhão de barris de petróleo tipo Merey 16 cru, deixou a costa venezuelana rumo ao sudeste. No dia 23 de julho chegou à costa brasileira, passando pelo Amapá. Entre os dias 28 e 29, segundo a investigação da Polícia Federal, teria dado início ao que é o maior desastre a atingir as praias do Brasil em termos de extensão.

De acordo com a agência de geointeligência Kpler, que mapeou a trajetória do navio a pedido da BBC News Brasil, o Bouboulina permaneceu próximo à costa brasileira até o dia 30 de julho. Em 9 de agosto, chegou à Cidade do Cabo, na África do Sul, onde parou por menos de um dia e seguiu em direção à costa de Malaca, na Malásia.

"Até esse momento, os sinais AIS do navio (a sigla refere-se a Automatic Identification System, um sistema de monitoramento de embarcações usado internacionalmente) eram transmitidos regularmente", disse Emmanuel Belostrino, analista da Kpler, à BBC News Brasil.

"Entre 3 e 13 de setembro o navio descarregou, provavelmente para um navio ou navio desconhecidos, por causa da ausência de sinais AIS. (O Bouboulina) teve sinal intermitente quando estava na área de descarga."

Depois da descarga na Malásia, o navio seguiu para a Nigéria em busca do petróleo cru do tipo Qua Iboe. Já carregado novamente, ele deixou o país em 20 de outubro, e seguiu para a Indonésia.

De acordo com o analista da Kpler, não é possível afirmar, apenas com informações disponíveis sobre a trajetória do navio, quando o derramamento de petróleo teria começado.

"Os rastros do navio enquanto ele passava pela costa do Nordeste brasileiro não parecem mostrar nada fora do comum, já que parecem típicos de um petroleiro que faz essa rota", disse.

"Correlação significativa"

O Bouboulina e a empresa grega Delta Tankers, que o administra, foram citados na decisão judicial que autorizou o pedido de busca e apreensão em endereços no Rio de Janeiro nesta sexta-feira (1).

Em sua decisão, o juiz Francisco Eduardo Guimarães afirma que o Bouboulina teria sido o único "a passar pelo polígono suspeito demarcado como ponto de origem do derramamento", conforme indicado por relatório feito pela empresa Hex Tecnologias Geoespaciais e entregue voluntariamente à PF.

Imagens de satélite coletadas pela Hex apontaram uma mancha de óleo original em 29 de julho, a 733 km (395 milhas náuticas) do estado da Paraíba, e fragmentos se movendo em direção ao litoral nordestino.

Ainda segundo a decisão judicial, laudos técnicos emitidos pela Petrobras apontaram haver uma "correlação significativa" entre amostras coletadas na praia de Pipa, no Rio Grande do Norte, e petróleo cru ou um tipo de derivado produzido a partir de petróleo venezuelano.

Estudos da Universidade Federal da Bahia, a partir do óleo retirado de praias de Sergipe e Bahia, confirmaram essa correlação. Análises da Marinha apontaram ainda que o material que chega ao litoral brasileiro não é compatível com o petróleo de origem nacional.

De acordo com a Polícia Federal, o Bouboulina atracou na Venezuela em 15 de julho, permaneceu por três dias, e seguiu rumo a Singapura, pelo Oceano Atlântico, vindo a aportar apenas na África do Sul. O derramamento investigado teria ocorrido nesse deslocamento.

A Interpol também realiza diligências no exterior contra os acusados de crimes ambientais.

Os investigadores afirmaram, com base em informações da Marinha, que "não há indicação de outro navio que poderia ter vazado ou despejado óleo, proveniente da Venezuela". A embarcação já havia ficado retida nos Estados Unidos por quatro dias "devido a incorreções de procedimentos operacionais no sistema de separação de água e óleo para descarga no mar".

De acordo com os procuradores da República Cibele Benevides e Victor Maris, "há fortes indícios de que a empresa, o comandante e a tripulação do navio deixaram de comunicar às autoridades competentes sobre vazamento/lançamento de petróleo cru no Oceano Atlântico".

Para o Ministério Público Federal, o impacto do derramamento de óleo tem "proporções imensuráveis". Desde o fim de agosto, 286 praias em 98 municípios foram atingidas pelo óleo segundo o Ibama. O relatório mais recente do órgão aponta a morte de 81 animais em decorrência do vazamento.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado no 11º parágrafo deste texto, imagens de satélite coletadas pela Hex apontaram uma mancha de óleo original em 29 de julho, a 733 km (395 milhas náuticas) do estado da Paraíba, e não a oeste do estado da Paraíba. A informação foi corrigida.