Impeachment de Trump: Como um telefonema ouvido por acaso pode complicar presidente americano
A primeira audiência pública do processo de impeachment do presidente americano, Donald Trump, realizada na quarta-feira, poderia ter sido relativamente trivial para quem acompanhou a cobertura no último mês dos depoimentos a portas fechadas de uma série de funcionários do atual governo e do governo anterior.
Mas o embaixador dos Estados Unidos em exercício na Ucrânia, Bill Taylor, fez uma revelação que pode complicar a situação do presidente americano.
Trump é acusado de ter pressionado a Ucrânia a investigar seu rival político Joe Biden, principal pré-candidato democrata na corrida para as eleições de 2020, em troca de apoio militar ao país. O presidente nega, no entanto, as acusações, afirmando se tratar de uma "caça às bruxas".
Taylor revelou na audiência pública que um de seus assessores estava com o embaixador americano na União Europeia, Gordon Sondland, enquanto ele conversava por telefone com Trump após uma reunião com os ucranianos em 26 de julho — um dia depois do controverso telefonema entre Trump e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, no qual o americano teria feito pressão para abrir as investigações, o que motivou o pedido de impeachment.
Segundo Taylor, seu assessor ouviu Trump perguntar sobre "as investigações" — e Sondland respondeu que a Ucrânia estava pronta para seguir em frente.
Sondland teria dito então ao assessor de Taylor que o presidente americano se importava mais com a investigação de Biden do que com qualquer outra coisa envolvendo a Ucrânia.
Esse telefonema tem o potencial de representar uma grande reviravolta no processo de impeachment.
Houve consideráveis relatos sobre a interação de Sondland com os ucranianos, e o próprio embaixador afirmou em depoimento ter dito às autoridades ucranianas em 1º de setembro que presumia que a ajuda militar dos EUA provavelmente seria retida até o início das investigações.
Durante a audiência pública de quarta-feira, Taylor falou sobre como Sondland contou a ele que o presidente americano, como um empresário, queria receber o que "deviam a ele" antes de "assinar o cheque" e que haveria um "impasse" se a Ucrânia não agisse — o que Taylor interpretou no sentido de a ajuda militar não ser retomada sem a abertura das investigações.
Embora também haja relatos da relação direta de Sondland com o presidente, ainda não há evidências ligando Trump diretamente à suposta troca de favores.
Mas o telefonema que Taylor descreveu pode mudar esse cenário.
No meio da audiência pública de quarta-feira, o Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes anunciou que agendou para sexta-feira o depoimento a portas fechadas de uma nova testemunha: um assessor de Taylor chamado David Holmes — supostamente o assessor que Taylor mencionou quando fez referência ao telefonema.
E, na próxima semana, o próprio Sondland vai depor durante as audiências públicas.
Embora o embaixador não tenha mencionado o telefonema com o presidente em seu depoimento original a portas fechadas, vale lembrar que ele já precisou retificar seu depoimento uma vez para incluir que havia lembrado de ter discutido com autoridades ucranianas sobre ajuda militar. Os democratas podem estar esperando que ele faça isso de novo.
Se Sondland ou Holmes validarem o depoimento de Taylor, isso pode minar a defesa do presidente americano, que sugere que Trump não estava diretamente envolvido nas atividades do "canal não oficial", como Taylor chama, com o governo da Ucrânia, que estaria pressionando o país a investigar Biden.
Na semana passada, quando perguntado sobre seu relacionamento com Sondland, Trump afirmou: "Eu mal conheço esse senhor".
Mas, se o presidente recebeu de fato ligações diretas do embaixador após as reuniões com a Ucrânia, essa declaração parece menos convincente.
Mais tarde na quarta-feira, durante uma coletiva de imprensa conjunta com o presidente turco, Recep Erdogan, Trump afirmou que não se lembrava "nem um pouco" do telefonema.
"Não sei nada sobre isso", ele disse. "Primeira vez que ouço isso."
Há a possibilidade, portanto, de Holmes ou Sondland prestarem depoimentos que contradigam o presidente nos próximos dias.
Enquanto isso, independentemente de ter sido por acaso ou programado, o primeiro dia das audiências públicas do processo de impeachment ganhou as manchetes dos jornais e criou uma nova linha de investigação — e especulação política.
"Democratas lançam novas evidências comprometedoras no inquérito do impeachment", escreveu o site Politico.
"A grande revelação do impeachment de William Taylor", dizia a revista The Atlantic.
"Bill Taylor soltou uma bomba", ecoou o site Vox.
Foi o suficiente para provocar a indignação de alguns republicanos.
"Ele se preparou por horas para subir aqui. E de repente, voilà, vem essa intervenção milagrosa de um de seus funcionários que lembra ele de alguma coisa", afirmou o congressista republicano Mark Meadows a jornalistas do lado de fora da sala de audiência do comitê.
"Quando começamos a olhar para os fatos, todo mundo tem a sua impressão do que é a verdade."
Após a grande revelação do dia, os democratas têm motivos para ficar contentes, enquanto a equipe do presidente ganhou mais uma dor de cabeça.
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