Morte de George Floyd: como reação ao caso levou Minneapolis a discutir fim de sua polícia
A maioria dos integrantes do Conselho da Cidade de Minneapolis, no Estado americano de Minnesota, defendeu acabar com o departamento de polícia local, em meio aos protestos em todo o país após o assassinato de George Floyd.
Nove dos 13 conselheiros disseram que um "novo modelo de segurança pública" será criado na cidade, onde a polícia foi acusada de racismo.
O Conselho da Cidade de Minneapolis representa seu corpo legislativo - o equivalente à Câmara municipal no Brasil. Seus membros desempenham funções similares às dos vereadores.
O prefeito Jacob Frey, no entanto, se opôs à decisão, atraindo vaias da multidão.
Ativistas que há anos exigem essa mudança chamaram esse momento de "decisivo".
Mas analistas dizem que um longo e complexo debate sobre policiamento deve ocorrer agora em Minneapolis, e ainda não está claro como essa reforma estrutural será feita.
O assassinato de Floyd, um homem negro de 46 anos, desencadeou protestos em massa contra o racismo e a brutalidade policial.
O policial Derek Chauvin, que se ajoelhou no pescoço de Floyd por quase nove minutos, foi demitido e acusado de assassinato em segundo grau. Ele fará sua primeira aparição na corte nesta segunda-feira.
Três outros policiais que estavam no local também foram demitidos e acusados de serem cúmplices no crime.
O que disseram os membros do Conselho da Cidade de Minneapolis?
Nove conselheiros leram uma declaração para centenas de manifestantes no domingo (7 de junho).
"Estamos aqui porque aqui em Minneapolis e nas cidades dos Estados Unidos nosso sistema atual de policiamento e segurança pública não mantém nossas comunidades seguras", disse a presidente do conselho da cidade, Lisa Bender.
"Nossos esforços para uma grande reforma falharam. Ponto final."
Bender disse que os detalhes do plano de revisão precisam ser discutidos mais adiante, acrescentando que ela tentaria mudar o financiamento da polícia para estratégias baseadas na comunidade.
A vereadora Alondra Cano escreveu no Twitter que "uma maioria absoluta" no conselho havia concordado que o departamento de polícia da cidade "não era reformável e que vamos acabar com o atual sistema de policiamento".
Na semana passada, Minnesota lançou uma investigação de direitos civis no Departamento de Polícia de Minneapolis, com o governador Tim Walz dizendo que queria eliminar "o racismo sistêmico que é profundo nas gerações".
Mais tarde, o conselho da cidade votou várias mudanças no policiamento, incluindo a proibição de estrangulamentos por policiais.
Qual foi a reação?
O plano de reforma em Minneapolis estabelece o que provavelmente será uma discussão complicada sobre novas formas de policiamento nos EUA.
Mas o processo de criação de um novo sistema deve levar meses e não é 100% garantido por causa da oposição do prefeito.
Sobre o anúncio, Kandace Montgomery, diretora do grupo de campanha Black Vision, com sede em Minnesota, disse: "Não seria preciso tanta morte para discutirmos isso. Estamos mais seguros sem patrulhas armadas e irresponsáveis apoiadas pelo Estado e caçando negros".
Nesta segunda-feira, os democratas no Congresso americano devem apresentar uma legislação abrangente sobre a reforma da polícia.
O que está acontecendo em outros lugares?
O prefeito da cidade de Nova York, Bill de Blasio, já havia dito que iria transferir dinheiro do departamento de polícia da cidade para serviços sociais.
"Defund the police", que significa corte de verbas para a polícia, foi um grito de guerra recorrente nos últimos protestos de rua. Em alguns deles, houve violência e saques.
Os defensores do "corte de verbas" condenam há anos o que descrevem como o policiamento militarizado agressivo nos EUA.
Eles argumentam que os orçamentos dos departamentos de polícia devem ser cortados e os recursos transferidos para programas sociais para evitar confrontos desnecessários e melhorar problemas relativos à divisão racial.
Não seria a primeira vez que um departamento de polícia de uma cidade inteira é dissolvido na história dos EUA. Isso já aconteceu em Compton, Califórnia, em 2000, e 12 anos depois em Camden, Nova Jersey. Nos dois casos, foram substituídos por novas forças maiores que cobriam condados locais.
Como foram os últimos protestos?
Manifestantes se reuniram novamente no domingo em cidades dos EUA, incluindo Washington DC, Nova York e Los Angeles.
Em Los Angeles, uma emissora local estimou que 20 mil pessoas tomaram a Hollywood Boulevard, uma das principais da cidade.
O senador republicano Mitt Romney publicou no Twitter fotos de si mesmo marchando em direção à Casa Branca junto a manifestantes cristãos com a legenda "Black Lives Matter".
Os protestos foram em grande parte pacíficos e as medidas de segurança nos EUA acabaram suspensas à medida em que a violência cedeu.
No entanto, o Departamento de Polícia de Seattle disse que um homem avançar com seu carro contra manifestantes no domingo à noite, antes de atirar e ferir um pedestre de 27 anos.
Protestos em apoio ao Black Lives Matter também ocorreram em várias cidades do Reino Unido durante o fim de semana, como Londres, Manchester, Cardiff, Leicester e Sheffield.
Na capital britânica, o público se ajoelhou por um minuto antes de gritar "sem justiça, sem paz".
Em Bristol, no Reino Unido, manifestantes derrubaram e jogaram no rio a estátua do mercador de escravos Edward Colston.
No Brasil, manifestações contra o racismo aconteceram em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Na Austrália, dezenas de milhares de pessoas aderiram aos protestos contra o racismo em Brisbane, Melbourne, Hobart, Adelaide e em outros locais, apesar dos alertas das autoridades sobre o coronavírus.
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