O chocante caso de centenas de crianças abusadas secretamente em abrigos de Londres
Funcionários públicos e vereadores comandaram uma "cultura de acobertamento" que permitiu que mais de 700 crianças em abrigos e orfanatos no sul de Londres fossem alvos de abusos sexuais e atos de crueldade, revelou um chocante relatório independente divulgado ontem.
O resultado da investigação sobre abusos sexuais contra crianças traz duras críticas os gestores do bairro de Lambeth, ao sul da capital inglesa, por permitirem que os abusos ocorressem em cinco lares entre os anos 1960 e 1990.
Segundo o texto, os abusadores conseguiram se infiltrar nos abrigos e no sistema de adoção da região. Crianças com menos de cinco anos eram expostas a abusos sexuais, de acordo com a investigação.
Uma menina foi estuprada "mais de 500 vezes" por garotos mais velhos, segundo depoimentos. Outra disse ter 8 anos de idade quando começou a ser abusada por um jovem de 17.
A administração local do bairro de Lambeth fez um pedido irrestrito de desculpas às vítimas e um de seus ex-líderes políticos afirmou que o governo "claramente falhou" e que deveria saber dos abusos.
A Polícia Metropolitana de Londres também se desculpou "por quando deixamos de lado as crianças sob os cuidados de Lambeth".
Inquérito
Conduzido em meados de 2020, o inquérito examinou cinco casas: Angell Road, South Vale Assessment Center, o complexo Shirley Oaks, Ivy House e Monkton Street.
"Com algumas exceções, eles [funcionários do bairro de Lambeth] tratavam as crianças sob tutela como se fossem inúteis", diz o relatório final. "Como consequência, indivíduos que representavam risco para as crianças foram capazes de se infiltrar em lares de crianças e no sistema de adoção, com consequências devastadoras para a vida toda para suas vítimas."
Das 705 reclamações feitas por ex-residentes de três dessas instalações, apenas um membro sênior da equipe foi punido, apontou o relatório.
Na casa Shirley Oaks, que fechou em 1983, o conselho recebeu denúncias de abusos vindo de 177 funcionários, envolvendo pelo menos 529 ex-residentes.
Segundo o texto, o bairro estava mergulhado em corrupção e má gestão financeira durante as décadas de abuso, com "comportamentos politizados e turbulência" dominando sua cultura, de acordo com o relatório.
O texto culpa em parte uma batalha política entre a administração do bairro, tradicionalmente gerido pelo partido Trabalhista, contra o partido Conservador, que dirigia o país na década de 1980.
Segundo o relatório, os trabalhistas buscaram "enfrentar o governo" em detrimento de garantir bons serviços locais.
"Durante esse tempo, as crianças sob tutela tornaram-se peões em um jogo de poder tóxico dentro do bairro de Lambeth e entre o bairro e o governo central", acrescentou o relatório.
Nova investigação criminal
O relatório pede que a Polícia Metropolitana considere uma investigação criminal sobre por que as alegações sobre abuso sexual feitas por um menino, mais tarde encontrado morto na casa de repouso de Shirley Oaks, não foram repassadas a autoridades pelo bairro de Lambeth, em 1977.
A polícia informou que avaliaria esta recomendação.
Shirley Oaks e South Vale foram considerados "lugares brutais onde a violência e o abuso sexual podiam triunfar". Outra casa, Angell Road, "sistematicamente expôs crianças (incluindo aquelas com menos de cinco anos) ao abuso sexual", apontou o relatório.Elizabeth McCourt, que foi abusada sexualmente na casa de repouso Angell Road, disse que não pode perdoar a administração de Lambeth.
A mulher de 56 anos disse à BBC que foi levada à prostituição por causa da "negligência" do bairro.
"Eu me senti suja, me senti envergonhada e era como se não tivesse ninguém para me ouvir", disse ela.
"Por causa do que aconteceu comigo enquanto estive sob os cuidados deles e depois que saí, não consigo manter um emprego... Tenho registros criminais e por isso é muito difícil trabalhar."
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