'Deixei tudo para trás e agora temo por meu futuro', diz brasileiro resgatado na Ucrânia
Para o estudante de medicina Rony de Moura, de 34 anos, o voo da FAB (Força Aérea Brasileira) de Varsóvia, na Polônia, com previsão para chegada a Brasília amanhã (10) significa o fim de uma jornada dramática e uma oportunidade de recomeço, mas em meio a grandes incertezas.
Ele faz parte do grupo de brasileiros que conseguiu deixar a Ucrânia em guerra e será resgatado pela "Operação Repatriação", do governo federal.
Moura falou à BBC News Brasil do quarto do hotel onde está na capital polonesa enquanto aguarda as últimas horas antes do embarque.
"Minha vida virou do avesso. Tive que deixar praticamente tudo o que tinha no meu apartamento. Saí apenas com uma mala de 50 quilos. Nem sei se e quando conseguirei recuperar meus pertences", diz ele, que morava em Kiev, a capital da Ucrânia, agora sob bombardeio russo.
"Estava a ponto de concluir meu curso de medicina e agora já não sei mais como vou fazer isso".
Moura diz estar aliviado e feliz — ele conseguiu manter seu emprego na Ucrânia e seguirá trabalhando remotamente. Também obteve um estágio em medicina na Universidade Evangélica de Goiás (UniEVANGÉLICA), em Anápolis.
"Primeiramente, estou vivo; não me aconteceu nada. Outras pessoas não tiveram a mesma sorte. Tenho amigos que permaneceram na Ucrânia — um deles do qual não tenho notícias há uma semana. Outro está num bunker 24h por dia e só sai para se alimentar. Os donos do meu apartamento em Kiev se mudaram para o interior", conta ele, que perdeu oito quilos nas últimas semanas.
Apesar disso, Moura demonstra preocupação com seu futuro.
"Estou temeroso com o futuro; não sei como vai ser. É um misto de incerteza e ansiedade".
Ele diz que sua retirada de Kiev com outros brasileiros foi organizada pela embaixada do Brasil, que ofereceu transporte até a cidade de Lviv (no oeste do país). Dali, o grupo cruzou a fronteira com a Polônia num comboio de carros e agora aguarda a chegada do avião da FAB em um hotel para voltar ao Brasil.
"Quando saímos de Kiev, a cidade já estava sendo bombardeada. Uma bomba caiu bem perto do meu apartamento. Já faltavam alimentos nos supermercados. A água engarrafada havia acabado. Foi quando tive um choque de realidade e me dei conta de que tinha que sair dali o mais rápido possível", diz.
"Mas eu havia gastado todo o meu dinheiro comprando mantimentos e contatei a embaixada brasileira, que providenciou o meu resgate e de outros brasileiros"
"Inicialmente, queria ir à Romênia, onde a empresa para qual eu trabalho tem uma filial. Mas acabei mudando os planos. Minha família também ficou muito preocupada".
Deixando para trás a guerra na Ucrânia, Moura espera poder passar o aniversário, no próximo dia 16 de março, no Brasil, com a namorada e a família.
'Operação Repatriação'
Partiu da Base Aérea de Brasília nesta segunda-feira (7) com destino a Varsóvia, na Polônia, o avião da Força Aérea brasileira para o resgate de brasileiros que deixaram a Ucrânia após a invasão da Rússia.
A aeronave, um modelo multimissão KC-390 Millennium, decolou às 15h (hora de Brasília) com "11,6 toneladas de medicamentos para atendimento emergencial, alimentos e itens de necessidade básica com tecnologia para funcionamento autônomo", segundo comunicado divulgado pelo governo brasileiro.
O pouso na capital polonesa está previsto para hoje (9) e os brasileiros repatriados devem chegar ao Brasil no dia seguinte, quinta-feira (10).
A chamada "Operação Repatriação" envolve os ministérios da Defesa, das Relações Exteriores e da Saúde. Estão sendo levadas dez toneladas de alimentos desidratados e instantâneos, como risotos e sopas, além de suprimentos médicos e purificadores de água. Os produtos foram doados pelo governo brasileiro, empresas privadas e voluntários.
A lista de brasileiros que estarão no voo ainda não está fechada, mas o avião foi configurado para receber até 72 passageiros.
Em entrevista a jornalistas, o coordenador da força-tarefa de resgate e repatriação do Itamaraty, ministro Unaldo Vieira de Sousa, afirmou que serão resgatados 47 brasileiros, além de 17 ucranianos com laços de família no Brasil.
A maior parte dos brasileiros que vivia na Ucrânia — antes da guerra, a comunidade era estimada em torno de 500 pessoas — já deixou o país.
Muitos atravessaram a fronteira com nações vizinhas, principalmente Polônia e Romênia.
"Nós temos ainda identificados 34 brasileiros em território ucraniano. Desses, 14 já manifestaram que não desejam sair do território. Nós continuamos oferecendo apoio e estamos em contato permanente com eles, porém 14 manifestaram que não desejam sair do território ucraniano", acrescentou Sousa.
Segundo o Itamaraty, foram montados postos avançados para reforçar a acolhida dos brasileiros que deixam a Ucrânia. Na Romênia, a embaixada montou uma base na cidade de Siret. Também foram abertos mais dois postos de atendimento consular nas cidades de Lviv, localizada próxima à fronteira com a Polônia e para onde os brasileiros têm se dirigido; e outro posto em Chisinau, capital da Moldávia.
Em casos de emergência, o plantão consular brasileiro pode ser contatado pelo número + 55 61 98260-0610
A Embaixada em Kiev também continua postando orientações por meio de mensagens em seu site, em sua página no Facebook e em grupo do aplicativo Telegram.
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