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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Guerra na Ucrânia: os erros militares da Rússia no conflito

Guerra na Ucrânia: os erros militares da Rússia no conflito - Getty Images
Guerra na Ucrânia: os erros militares da Rússia no conflito Imagem: Getty Images

Jonathan Beale - Repórter de Defesa da BBC News

21/03/2022 10h17

Especialistas em defesa e inteligência ocidentais relatam os erros cometidos por Moscou no campo de batalha.

A Rússia tem uma das maiores e mais poderosas forças armadas do mundo, mas a invasão da Ucrânia vem deixando uma imagem diferente disso. Muitos analistas militares nos Estados Unidos e países da Europa ficaram surpresos com seu desempenho no campo de batalha até agora.

Os avanços militares parecem ter parado e alguns questionam se a Rússia terá capacidade para se recuperar das perdas que sofreu. Esta semana, um militar da Otan disse à BBC: "os russos claramente não alcançaram seus objetivos e provavelmente não o farão".

Então, o que deu errado? Conversei com militares e oficiais de inteligência nos EUA e países da Europa sobre os erros que a Rússia cometeu.

Suposições equivocadas

O primeiro erro russo foi subestimar a força da resistência e as capacidades das próprias forças armadas da Ucrânia, que são bem menores do que as da Rússia. A Rússia tem um orçamento anual de defesa de mais de US$ 60 bilhões (R$ 300 bilhões), em comparação com os gastos da Ucrânia de pouco mais de US$ 4 bilhões (R$ 20 bilhões).

Ao mesmo tempo, a Rússia e muitos outros parecem ter superestimado suas próprias forças militares. O presidente Vladimir Putin embarcou em um ambicioso programa de modernização das suas forças armadas e ele próprio pode ter acreditado demais em seu projeto.

Guerra na Ucrânia: os erros militares da Rússia no conflito - BBC - BBC
Guerra na Ucrânia: os erros militares da Rússia no conflito
Imagem: BBC

Um alto funcionário militar britânico disse que grande parte do investimento da Rússia foi gasto em seu vasto arsenal nuclear, que inclui o desenvolvimento de novas armas, como mísseis hipersônicos. A Rússia supostamente construiu o tanque mais avançado do mundo ? o T-14 Armata. Mas, embora o tanque tenha estado presente na Parada do Dia da Vitória de Moscou na Praça Vermelha, ele não apareceu no campo de batalha. A maior parte do que a Rússia levou à guerra são tanques T-72 mais antigos, veículos blindados de transporte de pessoal, artilharia e lançadores de foguetes.

No início da invasão, a Rússia tinha uma clara vantagem aérea, com as aeronaves de combate perto da fronteira superando a força aérea da Ucrânia em uma proporção de três para um. A maioria dos analistas militares acreditava que a força invasora rapidamente estabeleceria sua superioridade no ar, mas não foi o que aconteceu. As defesas aéreas da Ucrânia ainda estão se mostrando eficazes, limitando a capacidade de manobra da Rússia.

Moscou também pode ter presumido que suas forças especiais teriam um papel importante, ajudando a desferir um golpe rápido e decisivo.

Um alto funcionário da inteligência disse à BBC que a Rússia pensou que poderia enviar unidades mais leves, como os paraquedistas Spetsnaz e VDV, "para eliminar um pequeno número de defensores e isso seria suficiente". Mas nos primeiros dias seu ataque de helicóptero ao Aeroporto Hostomel, nos arredores de Kiev, foi repelido, impedindo que a Rússia estabelecesse uma ponte aérea para trazer tropas, equipamentos e suprimentos.

Na parada militar, mas não no campo de batalha: o tanque T-14 Armata da Rússia - Getty Images - Getty Images
Na parada militar, mas não no campo de batalha: o tanque T-14 Armata da Rússia
Imagem: Getty Images

Em vez disso, a Rússia teve que transportar seus suprimentos principalmente por estrada. Isso criou engarrafamentos e pontos de estrangulamento que são alvos fáceis para as forças ucranianas emboscarem. Alguns blindados pesados saíram da estrada e acabaram atolados na lama, reforçando a imagem de um exército que ficou "atolado".

Enquanto isso, a longa coluna blindada da Rússia do norte que foi flagrada por satélites ainda não conseguiu cercar Kiev. Os avanços mais significativos vieram do sul, onde a Rússia conseguiu usar linhas ferroviárias para reabastecer suas forças. O secretário de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, disse à BBC que as forças do presidente Putin "perderam o impulso".

"Eles estão parados e estão lenta e seguramente sofrendo baixas significativas."

Perdas e baixo moral

A Rússia acumulou uma força de cerca de 190 mil soldados para esta invasão e a maioria deles já participou de alguma forma da batalha. Mas os russos já perderam cerca de 10% dessa força. Não há números confiáveis para a escala das perdas russas ou ucranianas. A Ucrânia afirma ter matado 14 mil soldados russos, embora os EUA estimem que o número real provavelmente seja metade dessa estimativa.

Autoridades dos EUA e de países europeus dizem que também há evidências de queda no moral dos combatentes russos. Um dos entrevistados disse que o moral era "muito, muito, baixo". Outro disse que as tropas estavam "com frio, cansadas e famintas", pois já esperavam na neve há semanas em Belarus e na Rússia antes de receberem a ordem de invasão.

A Rússia já foi forçada a procurar mais tropas para compensar suas perdas, incluindo a movimentação de unidades de reserva de lugares distantes como o leste do país e a Armênia. Autoridades ocidentais acreditam que também é "altamente provável" que tropas estrangeiras da Síria em breve se juntem à luta, junto com mercenários do grupo secreto Wagner. Um alto funcionário militar da Otan disse que isso era um sinal de que a Rússia "está raspando o tacho".

Suprimentos e logística

A Rússia tem enfrentado dificuldades com itens básicos. Há um velho ditado militar que diz que amadores falam de táticas enquanto profissionais estudam logística. Há evidências de que a Rússia não deu a devida atenção a isso. As colunas blindadas ficaram sem combustível, comida e munição. Veículos quebraram e foram abandonados, e depois rebocados por tratores ucranianos.

Autoridades dos EUA e de países da Europa também acreditam que a Rússia pode estar com pouca munição. A Rússia já disparou entre 850 e 900 munições de precisão de longo alcance, incluindo mísseis de cruzeiro, que são mais difíceis de substituir do que armas não guiadas. Autoridades dos EUA alertam que a Rússia se aproximou da China para buscar ajuda para resolver parte de sua escassez.

Em contraste, tem havido um fluxo constante de armas fornecidas pelos EUA e países da Europa para a Ucrânia, o que tem sido um impulso para seu moral. Os EUA anunciaram que fornecerão US$ 800 milhões (R$ 4 bilhões) adicionais em apoio à defesa. Além de mais mísseis antitanque e antiaéreos, espera-se que o pacote inclua o Switchblade, que é um pequeno drone "kamikaze" desenvolvido nos EUA que pode ser carregado em uma mochila.

Autoridades dos EUA e de países da Europa ainda alertam que o presidente Putin pode "aumentar a intensidade dos ataques com maior brutalidade". Eles dizem que ele ainda tem poder de fogo suficiente para bombardear cidades ucranianas por um "período de tempo considerável".

Apesar dos reveses, um oficial de inteligência disse ser improvável que o presidente Putin seja dissuadido e que ele pode, em vez disso, aumentar a intensidade dos ataques. "Ele provavelmente continua confiante de que a Rússia pode derrotar militarmente a Ucrânia", disse a autoridade anônima. E embora as forças ucranianas tenham mostrado uma resistência feroz, esse mesmo oficial alertou que, sem reabastecimentos significativos, eles também poderiam "eventualmente ficarem esgotados em termos de munição e números".

As chances de vitória da Ucrânia podem parecer hoje melhores do que quando a guerra começou, mas o cenário ainda favorece amplamente a Rússia.