Quem é Kamala Harris, cotada para substituir Biden nas eleições dos EUA
Vice-presidente dos EUA, Kamala Harris é a primeira na linha de sucessão de Joe Biden — tanto na Casa Branca quanto na disputa contra Trump nas eleições marcadas para novembro. Mas a situação é bem diferente da vista há quatro anos, quando ela concordou em ser vice na chapa democrata e o futuro da parceria parecia brilhante.
Harris era uma líder carismática para a nova era — uma mulher negra e filha de pais imigrantes que entrou para a política depois de anos como procuradora-geral da Califórnia. A avaliação é de que o brilho dela diminuiu ao longo dos anos de Casa Branca, apesar de, agora, ela ser cotada para assumir a candidatura caso Biden, que enfrenta questionamentos sobre sua saúde, desista.
A história americana de Harris
Kamala Harris nasceu em uma família de acadêmicos imigrantes em Oakland, Califórnia, em 1964. A mãe de Harris, Shyamala Gopalan, era uma pesquisadora do câncer de mama nascida na Índia, e seu pai era o professor de economia Donald J. Harris, da Jamaica. Os pais de Harris participaram ativamente do movimento pelos direitos civis da década de 1960.
Segundo consta em sua autobiografia, "Aquilo em que Acreditamos" (no original em inglês, "The Truths We Hold"), essa experiência influenciou sua própria carreira. Harris relata se lembrar da mãe dizendo a ela e a sua irmã, Maya: "Não fiquem sentadas reclamando das coisas. Façam alguma coisa!"
O casamento de seus pais se desfez quando Harris tinha sete anos. Cinco anos depois, Gopalan conseguiu um trabalho de pesquisa no Canadá, e a família se mudou para Montreal.
A futura vice-presidente norte-americana cursou o ensino médio no Canadá. Em seguida, voltou para os EUA para estudar ciências políticas e economia, em Washington, DC. Em 1986, voltou para seu estado natal, a Califórnia, para estudar direito.
Harris foi aprovada no exame da Ordem dos Advogados em 1990 e iniciou sua carreira como promotora pública, subindo na hierarquia para se tornar procuradora-geral da Califórnia, em 2011. Ela foi a primeira mulher, negra e sul-asiática americana a ocupar o cargo.
"Melhor policial" da Califórnia
A carreira de Harris como promotora teve altos e baixos. Ela se autodenominava a "melhor policial" da Califórnia, mas irritou parte da polícia com sua recusa em aplicar sentença de morte contra um acusado de matar um policial. Ao mesmo tempo, foi criticada por uma fraca atuação contra a corrupção dentro das forças policiais.
Ela liderou um sistema de multas e até prisão, em casos mais graves, para pais cujos filhos estavam faltando a muitas aulas, o que teve impacto desproporcional em famílias não brancas. Kamala riu da questão da legalização da maconha em 2014, para dizer, cinco anos depois, que era "absolutamente a favor" da liberação.
Em 2015, anunciou que estava concorrendo ao Senado e garantiu o apoio de Joe Biden e do então presidente Barack Obama.
Em 2017, se tornou a segunda mulher negra a servir no Senado.
Em 2019, lançou uma campanha no partido Democrata para a sua indicação presidencial, tendo Biden como um de seus oponentes.
Brigas com Biden
Durante um dos debates, Harris pressionou Biden sobre sua relação com senadores dos EUA que se opuseram aos esforços de acabar com a segregação racial no país nas décadas de 1970 e 1980. Ela acusou Biden de trabalhar com eles contra o "busing" - uma prática em que crianças de áreas minoritárias eram transportadas para escolas predominantemente brancas para diversificar as salas de aula.
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Quero receberBiden respondeu dizendo que ela "descaracterizou" sua posição e observou que ele escolheu ser um "defensor público" em vez de um promotor durante a agitação que se seguiu ao assassinato do ativista negro Martin Luther King Jr.
Os anos de Harris como promotora também voltaram a assombrá-la com o meme pejorativo "Kamala is a cop" ("Kamala é uma policial") durante sua campanha. Ela acabou desistindo da disputa e apoiou Biden, que mais tarde a convidou para ser sua vice-presidente.
"Czar da fronteira" durante a crise de imigração
Biden e Harris lutaram juntos em uma campanha dura e acabaram derrotando Donald Trump e o vice-presidente Mike Pence. Eles tomaram posse em 20 de janeiro de 2021, apenas duas semanas depois que uma multidão violenta invadiu o Capitólio exigindo que a votação fosse anulada.
A ex-procuradora fez história mais uma vez - ela foi a primeira mulher, a primeira pessoa negra e a primeira pessoa de origem indiana a servir como vice-presidente dos EUA.
O cargo deu a Harris a autoridade para assumir a administração se o presidente falecer ou for considerado incapaz para o cargo. Mas Harris tem se esforçado para aumentar seu perfil durante seu tempo na Casa Branca.
Em 2021, Biden atribuiu a ela a tarefa de lidar com a imigração, combatendo as motivações que levam as pessoas a deixar a América Latina de forma irregular.
"Não consigo pensar em ninguém que seja mais qualificado para fazer isso", disse Biden sobre Harris na época. "Quando ela fala, ela fala por mim."
Apesar dos esforços de Harris e das reuniões com líderes latino-americanos, o número de pessoas indocumentadas que cruzam a fronteira continuou a crescer, atingindo níveis recordes no ano passado. O Partido Republicano rapidamente apelidou Harris de "czar da fronteira" e depois a criticou por não conseguir conter o número de pessoas que entram nos EUA.
"Tudo está em jogo"
Enquanto isso, Harris encontrou um campo de batalha diferente contra seus rivais políticos. Quando a Suprema Corte dos Estados Unidos revogou o caso Roe vs. Wade e efetivamente reverteu o direito ao aborto em grande parte do país em 2022, Harris se tornou uma voz poderosa em favor da proteção desse direito. No início deste ano, ela deu início à caravana "Fight for Reproductive Freedoms" (Luta pelas liberdades reprodutivas) pelos EUA.
"Os extremistas de todo o nosso país continuam a empreender um ataque total contra as liberdades duramente conquistadas e lutadas", disse Harris, segundo a Casa Branca.
Trump endossou a decisão da Suprema Corte e reivindicou o crédito.
Poucos dias antes do recente debate Trump-Biden, Harris alertou que "tudo está em jogo" com relação aos direitos reprodutivos se Trump for reeleito.
O futuro do Partido Democrata?
Após o fraco desempenho de Biden no debate, Harris foi uma das defensoras mais rápidas e vocais do presidente, mesmo quando outros políticos democratas estavam divulgando seu nome, entre outros, para substituir o atual presidente na corrida à Casa Branca.
Mas se Biden desistir da disputa, Harris é vista por muitos como uma escolha natural para ele endossar na eleição de 2024.
A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse durante uma reunião logo após o debate entre Biden e Trump que uma das razões pelas quais Biden a escolheu em 2020 "é porque ela é, de fato, o futuro do partido".
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