Perón morreu há 50 anos; por que líder ainda é influente na Argentina?

Juan Domingo Perón morreu há 50 anos, em 1º de julho de 1974, mas segue exercendo influência política na Argentina. Eleito três vezes presidente, fundou o movimento peronista, que, até hoje, define o rumo de qualquer eleição no país.

De onde vem esse poder?

Peronismo, fundado em 1945, envolve diferentes visões políticas. O movimento abraça pessoas que se identificam como sendo de direita, de centro ou de esquerda, assim como governistas e opositores. Durante seu exílio em Madri, Perón disse a um jornalista que havia "uns 30% de radicais" na Argentina, "uns 30% de conservadores e outro tanto de socialistas". Questionado sobre os peronistas, respondeu: "Peronistas somos todos".

Perón era um "líder do povo". O ex-presidente ganhou projeção ao defender os direitos dos trabalhadores, mesmo tendo participado de um golpe de Estado em 1943 para derrubar um governo democraticamente eleito e impor uma ditadura. Mas ao destacar a voz dos mais pobres e suas demandas, Perón conquistou o coração dos argentinos, principalmente funcionários de fábricas, transportadores de trem, metrô e ônibus, comerciantes e construtores, seus primeiros seguidores.

Evita Perón e o ex-presidente argentino Juan Perón
Evita Perón e o ex-presidente argentino Juan Perón Imagem: AFP

Eva Perón fortaleceu imagem do marido e do movimento. Apelidada de Evita, a atriz e ativista veio do mundo das artes e se tornou uma líder de impacto. Ela foi a segunda mulher do político e deu personalidade ao partido, sendo considerada a rainha de jovens, crianças e mulheres.

Com a adesão, o movimento se espalhou e se incorporou no país. O peronismo foi crescendo na Argentina, amparado em resultados positivos que marcaram a mente e o coração dos argentinos. Em seus dois primeiros mandatos, Perón regulamentou a jornada de trabalho, as férias remuneradas, os planos de saúde e as aposentadorias. Foi em sua gestão que as mulheres passaram a votar pela primeira vez na história do país.

Influência na ausência

Após sua morte, Perón continuou a ditar as eleições na Argentina. Em 2015, dos seis políticos que disputavam a eleição presidencial, três se definiam como peronistas: Daniel Scioli, Sergio Massa e Adolfo Rodríguez Saá.

Estátua de Juan Perón em Buenos Aires
Estátua de Juan Perón em Buenos Aires Imagem: Pedro Lazaro Fernández/Reuters
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Mesmo quem não se declara peronista, convoca o movimento. Naquele ano, o candidato Mauricio Macri, então prefeito de Buenos Aires, inaugurou uma estátua de bronze do general Perón na cidade. Considerado "antiperonista" pelos adversários, ele disse, no dia da inauguração: "Quero convocar os peronistas para defender a unidade nacional e a justiça social".

Peronismo tem influência mesmo diante de um não peronista. O movimento de Perón segue vivo inclusive nas vezes em que um líder não peronista chegou ao poder na Argentina, como é o caso de Javier Milei. Ele venceu o peronista Sergio Massa em novembro do ano passado, mas não escapou da força do peronismo no país. Na Câmara e no Senado, a força da bancada peronista fez com que Milei levasse mais de seis meses para aprovar sua primeira lei, em 28 de junho.

Partido peronista ainda é abrangente. O Partido Justicialista (nome formal do partido peronista) tem representantes nos governos de um terço das províncias e na maioria das prefeituras da Argentina.

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