Al Jazeera amplia alcance no Ocidente enquanto enfrenta rejeição no Oriente
Uma emissora que desperta admiração e rejeição na mesma medida entre os telespectadores. Entre essas duas águas se movimenta a emissora do Catar "Al Jazeera", que decidiu conquistar o público dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que enfrenta uma situação delicada em parte do mundo árabe.
O recente lançamento da "Al Jazeera" América foi a última aventura milionária da rede, que quer entrar no competitivo mercado americano.
"Queremos ocupar este espaço, onde estão os americanos que buscam um jornalismo sério", afirmou, de Doha, o diretor de Relações Internacionais da emissora, Osama Said.
Com mais informação em profundidade e menos opinião, a "Al Jazeera" quer seduzir a audiência americana e vencer a resistência de quem continua a vendo como um meio árabe sensacionalista e difusor de versões da Al Qaeda e de outros grupos extremistas.
Outro obstáculo para a emissora catariana é o relacionamento com as distribuidoras, como o que a levou a processar a companhia telefônica AT&T por excluí-la de seu serviço de TV a cabo.
Para Said, a expansão da "Al Jazeera" foi uma constante desde que surgiu, em 1996, como "o primeiro canal em árabe independente e diferente na forma de contar histórias", em contraste com outros veículos de comunicação do Oriente Médio que "ignoravam o povo e informavam dos centros de poder".
Por trás do projeto está o Catar, um pequeno emirado do Golfo rico em recursos energéticos que decidiu investir nessa arma audiovisual, conseguindo assim ganhar influência internacional.
Não há espaço só para as notícias, a emissora também tem os direitos de transmissão das principais competições esportivas e filmes de todos os gêneros.
Outro grande trunfo foi o lançamento do canal da "Al Jazeera" em inglês, inaugurado em 2006 e que atualmente chega a cerca de 270 milhões de lares no mundo, de acordo com dados próprios.
Entre seus planos futuros está a criação de um canal em turco e de outros específicos para Reino Unido e França, disse o porta-voz da rede, que por outro lado evitou dar detalhes sobre as pouco transparentes contas do grupo.
Mas o caminho não foi todo ele um mar de rosas, a "Al Jazeera" se desentendeu com alguns governos do Oriente Médio, principalmente depois de o Catar apoiar abertamente as revoltas da "Primavera árabe" contra regimes como o da Tunísia e da Síria.
E anunciou recentemente que adotará ações legais internacionais contra as autoridades do Egito para "garantir seu direito de informar livremente" sobre os acontecimentos no país.
A emissora também denunciou o assédio e a detenção sem acusações de vários de seus jornalistas, o fechamento de redações e barreiras à transmissão, o que se soma à suspensão de seu canal ao vivo para o Egito determinada por um tribunal, "por dar informações incorretas que causaram danos ao país".
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) já levantou a voz por esse tipo de práticas contra a Al Jazeera e outros meios críticos ao exército desde a derrubada do islamita Mohammed Mursi em julho.
O professor de Jornalismo e Comunicação de Massa da Universidade Americana do Cairo, Hussein Amin, considera a emissora culpada por dar "só a versão de um lado", em referência à Irmandade Muçulmana.
Amin sustenta que a "Al Jazeera" evitará as restrições explorando seus recursos na internet e recorrendo ao chamado "jornalismo cidadão", como se refere ao uso de vídeos feitos pelos cidadãos durante os protestos.
Para o acadêmico, há claras diferenças no tratamento das notícias da "Al Jazeera" em nível global e a cobertura em particular em alguns países.
No primeiro caso, aponta, a televisão catariana se caracterizou por sua "eficiência e profissionalismo" em eventos como as guerras do Afeganistão e do Iraque, ou dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA.
"Ainda é cedo para saber o que acontecerá com os novos mercados da "Al Jazeera", destaca Amin.
Essa é uma postura combativa que pode cobrar sua conta com o tempo, acredita o professor universitário, para quem outros veículos de imprensa como a britânica "BBC" e a "Al Arabiya" dos Emirados estão ganhando terreno com uma linha "mais equilibrada".