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Sexo, armas e Google Translate: as táticas da espiã russa detida nos EUA

Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

Javier Bocanegra

Em Washington

19/07/2018 06h01

Oferecer sexo em troca de vantagens em uma operação de espionagem, se aproximar do poderoso lobby em prol das armas e usar o tradutor do Google para conversar com fontes eram algumas das técnicas empregadas por Maria Butina, a mulher suspeita de ser uma espiã russa que foi presa nos Estados Unidos.

O objetivo da agente russa, que não hesitou em colocar o próprio corpo em jogo para conseguir um cargo em uma organização que ajudaria a cumprir sua missão, era favorecer os interesses do Kremlin nos EUA, de acordo com documentos do caso baseados em investigações feitas pelo FBI desde que ela chegou ao país.

Com seu longo cabelo ruivo e vestindo o clássico macacão laranja do sistema prisional americano, Butina compareceu ontem a uma audiência em um tribunal federal de Washington para responder à acusação de ser uma agente secreta de uma potência estrangeira. Apesar de se declarar inocente, ela acabou sendo presa preventivamente.

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A acusada ouviu a denúncia contra ela com uma inquietação que contrastava com a expressão de frieza, mas que se mostrava em suas mãos, que não paravam de brincar com uma caneta.

Na argumentação do caso, acompanhada por centenas de jornalistas, o governo americano conseguiu sensibilizar a juíza responsável pela audiência de que Butina poderia fugir. Se condenada, a russa pode pegar 15 anos de prisão.

De acordo com um memorando apresentado pelo Departamento de Justiça, a espiã russa teria construído uma rede de influentes contatos nos EUA para beneficiar o Kremlin, uma missão que teve início com uma relação sentimental com um de seus alvos.

Os investigadores alegaram que o romance era apenas um detalhe da operação de Butina, que em troca de mensagens com outros homens expressava o desgosto de ter que viver com seu companheiro.

Segundo o FBI, ela inclusive teria tentado trocar favores sexuais por um cargo de uma organização com bastante influência dentro da política americana.

Mariia Butina - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook


Posteriormente, a russa utilizou a ferramenta de tradução do Google para conversar em inglês e apresentar para esse alvo uma proposta de projeto visando as eleições presidenciais de 2016.

Butina começou os trabalhos ainda na Rússia, mas em agosto de 2016 se mudou para Washington com um visto de estudante. Parte do "esquema" do Kremlin, ela começou a ser seguida pelo FBI.

Antes e depois de entrar nos EUA, Butina, que supostamente trabalhava para um funcionário do alto escalão do governo russo, criou uma rede de influentes contatos na política americana que a aproximaram da Associação Nacional do Rifle (NRA), um dos principais grupos de lobby do país.

Para a NRA, ela se apresentou como uma ativista russa que defendia o direito de portar armas.

A espiã russa, de 29 anos, pode ser vista em imagens ao lado dos diretores da NRA e de membros do Partido Republicano, o mesmo do presidente Donald Trump, com quem tentou estabelecer canais de comunicação informal visando as eleições de 2016.

Em 2015, durante um ato de campanha em Nevada, Butina estava na plateia e foi selecionada para fazer uma pergunta para Trump, então candidato nas primárias do partido, sobre sua posição em relação à Rússia. O hoje presidente disse que "se daria bem" com Putin.

Os resultados das investigações, segundo destacou o governo americano durante a audiência, mostram que a acusada tinha vínculos com agentes da inteligência russa e com oligarcas próximos ao Kremlin.

Durante a audiência, os advogados do governo mostraram uma imagem de Butina em um restaurante com outro espião russo e uma na qual ela estava perto do Capitólio durante a posse de Trump.

A prisão de Butina aconteceu na última segunda-feira, enquanto Trump estava em Helsinque, na Finlândia, em uma reunião com Vladimir Putin, na primeira cúpula bilateral entre eles.