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Gaza, Golã, Netanyahu e o rival: as chaves para entender a eleição de Israel

Laura Fernández Palomo

05/04/2019 21h35

A tensão em Gaza, o reconhecimento do governo dos Estados Unidos da soberania israelense sobre as Colinas de Golã, a acusação de corrupção contra Benjamin Netanyahu, o personalismo do sistema político e a ausência de propostas com os palestinos marcaram a campanha para as eleições da próxima terça-feira (9) em Israel.

Denúncias de corrupção

A decisão de antecipar as eleições - que inicialmente aconteceriam em outubro - para abril já foi interpretada como um trunfo de Netanyahu para salvar, com uma reeleição, seu legado político diante de um possível processo na Justiça cujo anúncio foi feito 40 dias antes do pleito. No fim de fevereiro, o procurador-geral do Estado afirmou que indiciará o chefe de governo por três acusações: corrupção por suborno, fraude e abuso de confiança, que motivaram pedidos de renúncia por parte da oposição.

Renovação da política

A necessidade de renovar a liderança israelense depois de uma década ininterrupta com Netanyahu no poder (além de outros dois anos nos anos 90 como chefe do governo) e agora envolvido em escândalos judiciais delineou a narrativa da campanha.

"Estamos falando de um homem corrupto que está destruindo o país", declarou em recente entrevista ao portal Times of Israel, Benjamin "Benny" Gantz, líder da lista apresentada pela aliança centrista Azul e Branco e ex-chefe do Estado Maior do Exército.

O Partido Trabalhista, com Avi Gabay à frente, também pauta a mensagem de que uma reeleição de Netanyahu "prejudicará" o país, cuja imagem institucional foi abalada nos últimos anos.

Benny Gantz, o general que ameaça a permanência de Netanyahu no cargo de primeiro-ministro - Oded Balilty/AP - Oded Balilty/AP
Benny Gantz, o general que ameaça a permanência de Netanyahu no cargo de primeiro-ministro
Imagem: Oded Balilty/AP

Desavenças com o Judiciário

Partidos políticos de certa forma ligados ao Likud, como o recém-criado Nova Direita - da titular da pasta da Justiça, Ayelet Shaked, e de Naftali Bennett, chamado para ocupar a pasta da Defesa em um futuro governo de coalizão - focaram seu plano de governo em uma reforma do Poder Judiciário.

Com um dos anúncios mais controversos da campanha, Shaked ironizou, com um perfume chamado "fascismo", as acusações às suas propostas de nomear juízes do Supremo Tribunal com aprovação do governo e do Parlamento, em vez das do próprio Judiciário.

"Para mim, cheira a democracia", dizia ela, no polêmico vídeo.

O presidente de Israel, Reuven Rivlin, mostrou preocupação mais uma vez diante das desavenças entre os poderes Legislativo e Judiciário que protagonizaram este último mandato de Netanyahu e reprovou reiteradamente as "tentativas de enfraquecer os guardiões da democracia israelense".

Apoio no exterior

Netanyahu buscou reforços para sua candidatura mais fora do que dentro do país, com viagens, recepções diplomáticas e fotos com os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump; da Rússia, Vladimir Putin; e do Brasil, Jair Bolsonaro, que fez uma visita oficial ao país pouco depois do secretário de Estado americano, Mike Pompeo.

Colinas do Golã

Em um gesto interpretado como um claro respaldo a Bibi diante do seu desafio eleitoral, provavelmente o mais duro de sua carreira política e no qual enfrenta um rival com claras possibilidades de vencê-lo, Trump aprovou no final de março o reconhecimento de seu governo à soberania israelense nas Colinas de Golã, contrariando o consenso internacional.

Faixa de Gaza

A campanha também foi marcada por várias crises na Faixa de Gaza que introduziram a retórica da "força" diante dos palestinos nas mensagens dos partidos, apesar de isso não ter provocado uma escalada bélica, que quase todos queriam evitar antes da eleição. As negociações indiretas com o movimento Hamas para um acordo de trégua prolongada prosperam, sem que os candidatos tenham interferido excessivamente na estratégia do governo. As propostas concretas para conseguir uma solução permanente, no entanto, ficaram de fora da agenda.

Embora Gantz e Gabai tenham sugerido avanços para um acordo, ao contrário do que o Likud defende, propenso à construção de assentamentos na Cisjordânia, ninguém se arriscou a dar muita visibilidade a este polêmico fator em campanha, por entenderem que isso poderia provocar perda de votos em uma eleição vista como continuidade ou renovação.