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Colômbia terá mulher negra como vice pela 1ª vez

Colômbia: as candidatas a vice, Francia Elena Márquez Mina (à esquerda) e Marelen Castillo Torres (à direita) - Reprodução/Instagram
Colômbia: as candidatas a vice, Francia Elena Márquez Mina (à esquerda) e Marelen Castillo Torres (à direita) Imagem: Reprodução/Instagram

Ovidio Castro Medina

17/06/2022 21h28

Independentemente dos resultados das eleições presidenciais do próximo domingo, o fato é que a Colômbia terá pela primeira vez em sua história uma vice-presidente negra, que poderia ser a advogada e ambientalista Francia Elena Márquez Mina ou a engenheira Marelen Castillo Torres, duas mulheres com agendas muito diferentes.

Márquez, de 40 anos, é companheira de chapa de Gustavo Petro, candidato presidencial pela coalizão de esquerda Pacto Histórico, enquanto Castillo, de 53, foi escolhida por Rodolfo Hernández, do movimento Liga de Governantes Anticorrupção.

Ambas estão em uma disputa presidencial tecnicamente empatada nas pesquisas de intenção de voto. E uma delas vai manter a situação de a Colômbia ter uma mulher como vice-presidente, sucedendo a atual, Marta Lucía Ramírez, a primeira na história a ocupar o posto.

As duas candidatas nasceram na região do Pacífico: Márquez, na cidade de Suárez, no departamento de Cauca, e Castillo em Cali, capital de Valle del Cauca, duas áreas que sofreram com o conflito armado no país.

"Simbolicamente, a chegada de uma delas significa uma importante presença de reconhecimento do povo afro-colombiano, mas com agendas diferentes", disse Cindy Caro, professora da Universidade do Rosário, de Bogotá, à Agência Efe.

Marelen Castillo, que só começou a ser falada na política depois que foi escolhida como sua companheira de chapa por Rodolfo Hernández, ex-prefeito de Bucaramanga, permanece desconhecida para a grande maioria dos colombianos, já que toda sua carreira profissional foi focada no mundo universitário.

Francia Márquez, por outro lado, tem tido um perfil público mais amplo, já que há muito tempo está no centro das atenções por seu notável ativismo ambiental, especialmente desde 2015, quando recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, seguido em 2018 pelo Prêmio Ambiental Goldman, considerado o "Nobel do Meio Ambiente".

"O fato de uma delas se tornar vice-presidente da Colômbia não significa que representem as mesmas agendas, porque Francia tem uma mente mais social, e Marelen é mais acadêmica", afirmou Cindy Caro.

Realidades diferentes

A companheira de chapa de Hernández desembarcou na política sem qualquer experiência na área. Ela é casada há 28 anos e vem de uma família de cinco irmãs, sendo filha de uma costureira e de um funcionário público.

Ela é formada em Biologia e Química pela Universidade Santiago de Cali e engenheira industrial pela Universidade Autônoma de Occidente, também em Cali. Além disso, tem mestrado em Administração pela Universidade Tecnológica de Monterrey (México) e é doutora em Educação pela Universidade Nova Southeastern, em Fort Lauderdale (Flórida, EUA).

Por sua vez, Francia Márquez, filha de uma parteira e mãe de duas filhas, começou a se destacar aos 15 anos de idade por sua liderança ambiental em sua região, migrando depois para a arena política.

O discurso dela tem ênfase em comunidades e regiões historicamente excluídas, com uma visão feminista da política, defendendo a dignidade, a justiça e os direitos humanos.

Márquez trouxe o racismo, o classismo e o machismo na política colombiana para o debate público; ela também defende a redistribuição da riqueza com base em uma visão de igualdade para a população.

Nesta linha, ela lembra que Márquez recebeu o reconhecimento de Angela Davis, uma feminista americana e ativista dos direitos das minorias que ganhou numerosas distinções e que também foi presa.

"Petro deveria dar mais destaque a Francia. Rodolfo Hernández nem tanto para Marelen, pois existe uma pressão internacional mais pelo papel que Francia desempenharia do que pelo que Marelen teria", sugeriu a professora da Universidade do Rosário.