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ANÁLISE

Mulher, pobre e negra: o salto de Aída dos Santos na história

Aída dos Santos foi a única mulher brasileira nas Olimpíadas de Tóquio em 1964 - Divulgação
Aída dos Santos foi a única mulher brasileira nas Olimpíadas de Tóquio em 1964 Imagem: Divulgação

Ana Maria Alcantara

Do Núcleo de Diversidade

14/06/2022 10h00

Esta é a versão online para a edição desta sexta-feira (14/06) da newsletter Nós Negros, que relembra a história da única mulher a representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964 e traz uma seleção de outros conteúdos do UOL. Para receber este boletim diretamente no seu email, cadastre-se aqui. Para receber outros 10 boletins exclusivos, assine o UOL.

Foi no salto em altura, categoria do atletismo, que Aída dos Santos deu um salto rumo à história nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964: ela foi a única mulher a representar o Brasil e conquistou o quarto lugar na categoria em que competiu. O feito histórico foi alcançado mesmo diante de diversas dificuldades. Aída foi para o torneio sem treinador e sem ter um uniforme oficial — o traje usado na ocasião foi emprestado pelo Botafogo.

O atletismo ainda é o primo pobre do esporte nacional, imagine então como foi naqueles tempos. Eu, uma mulher, pobre e negra."
Aída dos Santos

No esporte desde a infância, Aída também recorda momentos em que precisou lutar contra o machismo e o racismo. Um deles, durante uma competição de vôlei no colégio: "Era a única negra em quadra e gritaram da arquibancada: 'Sai daí, crioula. Seu lugar é na cozinha'. Quando terminou o jogo, pedi o microfone e falei: 'Meu lugar é na cozinha sim, na varanda, no quarto, na sala, mas também na quadra de esporte'."

Como gesto de reparação e reconhecimento por sua trajetória, no ano passado, Aída recebeu da uma rede de produtos esportivos Centauro um uniforme que deveria ter usado em 1964. A ação rendeu uma campanha publicitária intitulada 'O Uniforme que Nunca Existiu' (veja o vídeo), da agência Tracylockeque. Agora, aos 58 anos, Aída tem sua história contada no festival Cannes Lions, o mais importante de criatividade do mundo, onde a peça publicitária disputa um troféu na categoria que ressalta trabalhos que promovem a igualdade de gênero.

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DADOS RACIAIS... Um grupo de pesquisadores criou, recentemente, o Observatório da Branquitude, que pretende investigar o "privilégio branco" no Brasil. O objetivo é discutir raça a partir da ideologia que determina a identidade atribuída a pessoas brancas e às estruturas de poder que destinam privilégios a elas em detrimento da população não-branca.

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INJÚRIA RACIAL... O motoboy Juan Willian Penteado Carvalho, 24, registrou um boletim de ocorrência por injúria racial contra o cliente de um restaurante em Artur Nogueira (SP). O acusado enviou um áudio para o WhatsApp do estabelecimento com uma série de ofensas de cunho racista. Na gravação o cliente se declara racista e faz comparações de atributos físicos do entregador com os de um chimpanzé.

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DANDO A LETRA

Jeferson Tenório - Carlos Macedo - Carlos Macedo
Jeferson Tenório
Imagem: Carlos Macedo

É preciso entender que para quem não tem essa segurança [alimentar], a fome não espera, a fome simplesmente acontece e não há o que fazer. A fome nos animaliza. A fome nos faz perder a dignidade. A fome nos precariza enquanto pessoas. A fome tem cor e para mim ela é verde e amarela".
Jeferson Tenório, escritor

Em Notícias, Jeferson Tenório destaca que, apostando no empreendedorismo, Bolsonaro cria cenário nefasto da fome, e Chico Alves destaca que, segundo o senador Randolfe Rodrigues, o apelo de Bolsonaro a Biden contra Lula é caso de impeachment.

Em Universa, Juliana Borges fala sobre a dificuldade de uma mulher gorda para achar um vestido de noiva.

Em Tilt, Akin Abazdicas para quem quer jogar mais e melhor.

E em Ecoa, Anielle Franco aponta que os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres brasileiras estão sob ataque, e o Café com Dona Jacira reflete sobre espiritualidade em Tratado Sobre Medo, Bicho Papão e Fofoca. Já Milo Araújo apresenta uma análise sobre a Virada Cultural e o abandono do centro de São Paulo.

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PEGA A VISÃO

Aisha Santoz - Divulgação/Richard Freitas - Divulgação/Richard Freitas
Aisha agora escreve um livro sobre sua trajetória
Imagem: Divulgação/Richard Freitas

Fui aprendendo a não me abalar com o que vinha da internet. Nem fazia questão de ver o que rolava nas redes sociais. Mas o que me deixava muito triste, muito mesmo, eram as manifestações de ódio ao vivo, o bullying".
Aisha Santoz, ex MasterChef Júnior

Aos 16 anos, Aisha Santoz, ex-participante da única edição do MasterChef Júnior pela Band, em 2015, está prestes a lançar um livro de memórias. Ela, que também foi apresentadora do programa "Cozinha Mágica", no canal Discovery Kids, conta que a intenção com o livro é ajudar outras crianças que, como ela, sofrem com racismo, bullying e "hate" na internet.

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SELO PLURAL

Conversa de Portão - Arte UOL - Arte UOL
Conversa de Portão
Imagem: Arte UOL

Por que estamos nos sentindo tão ansiosos nos últimos tempos? Segundo dados de um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2019, o Brasil é o país mais ansioso do mundo. Há 18,6 milhões de brasileiros com diagnóstico de transtorno de ansiedade, o que equivale a 9,3% de todo o país. A OMS classifica, inclusive, que vivemos uma epidemia de ansiedade. No episódio #60 da nova temporada de Conversa de Portão, Jéssica Moreira e Mayara Penina conversam com a psicóloga Lorna Alves para entender quais as causas desse aumento de diagnóstico e como e onde buscar tratamento.