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Quem são os dois jornalistas da Reuters que ficaram 500 dias presos em Mianmar

Dois jornalistas da agência Reuters foram liberados ao receber perdão do presidente da Birmânia após um ano e meio na prisão por violarem a Lei de Segredos Oficiais - Reuters/Ann Wang
Dois jornalistas da agência Reuters foram liberados ao receber perdão do presidente da Birmânia após um ano e meio na prisão por violarem a Lei de Segredos Oficiais Imagem: Reuters/Ann Wang

07/05/2019 09h48

Os jornalistas da Reuters Wa Lone e Kyaw Soe Oo foram libertados hoje, meses depois de serem condenados a 7 anos de prisão sob acusações de terem violado a Lei de Segredos Oficiais dos tempos coloniais.

Os dois foram presos em dezembro de 2017, quando investigavam o assassinato de 10 homens e meninos muçulmanos rohingyas pelas mãos de forças de segurança e civis budistas em Rakhine, Estado do oeste de Mianmar.

A condenação de Wa Lone, de 33 anos, e Kyaw Soe Oo, de 29, em setembro causou revolta em diplomatas e defensores da liberdade de imprensa, que disseram que a prisão dos dois jovens repórteres provocou dúvidas sobre o avanço de Mianmar rumo à democracia.

Durante seus mais de 500 dias atrás das grades, sua reportagem sobre uma repressão militar em Rakhine foi reconhecida com prêmios internacionais e eles foram escolhidos pela revista Time como "Personalidades do Ano", ao lado de outros jornalistas, no ano passado.

Veja a seguir alguns fatos essenciais sobre os dois jornalistas, que estavam detidos desde 12 de dezembro de 2017.

WA LONE

Wa Lone nasceu em uma família de plantadores de arroz de Kin Pyit, vilarejo de menos de 500 pessoas nas planícies áridas de Sagaing, no centro de Mianmar.

Quando tinha cerca de 20 anos, Wa Lone se mudou para a maior cidade do país, Yangon, e abraçou o jornalismo. Ele trabalhou como repórter para veículos como o Mianmar Times, jornal em inglês no qual conheceu sua atual mulher, Pan Ei Mon. Ele entrou na Reuters em 2016 e se casou com Pan Ei Mon no mesmo ano.

Além do trabalho convencional, Wa Lone fazia trabalho voluntário com frequência. Ele cofundou o Projeto Terceira História, um instituição de caridade que produz e distribui livros para fomentar a tolerância entre os diferentes grupos étnicos de Mianmar. Ele mesmo é autor de alguns dos livros, como "Jay Jay, O Jornalista", que escreveu na prisão de Insein, em Yangon.

Meses depois de ele entrar na Reuters, um grupo insurgente da minoria muçulmana rohingya se anunciou com ataques a postos policiais em Rakhine. Wa Lone foi essencial para a cobertura da Reuters sobre o conflito que se seguiu.

7.mai.2019 - Os dois jornalistas da Reuters encontraram suas famílias logo após saírem da prisão - Ann Wang/Pool/AFP - Ann Wang/Pool/AFP
7.mai.2019 - Os dois jornalistas da Reuters encontraram suas famílias logo após saírem da prisão
Imagem: Ann Wang/Pool/AFP

KYAW SOE OO

Kyaw Soe Oo é nativo de Sittwe, a capital de Rakhine, e nasceu em uma família budista do grupo étnico rakhine, que compõe a maioria da população do Estado.

Seu Estado vem sendo assolado por episódios de violência étnica desde 2012, mas amigos dizem que Kyaw Soe Oo não se envolveu no conflito, mas que se apaixonou pelos livros e pela escrita de poesia.

Kyaw Soe Oo começou a trabalhar como jornalista e participou da criação da Agência Investigativa Raiz, um veículo que se concentra em notícias de Rakhine.

Ele é casado com Chit Su Win, que chegou a trabalhar para sua família em Sittwe. Sua filha, Moe Thin Wai Zan, tem 3 anos de idade.

Depois que a violência irrompeu no norte de Rakhine em 2017, Kyaw Soe Oo começou a trabalhar para a Reuters, na qual ele e Wa Lone revelaram um massacre de homens e meninos rohingyas no vilarejo de Inn Din. A dupla recebeu um Prêmio Pulitzer de reportagem internacional em abril.