Chegada de Ciro Nogueira fortalece governo Bolsonaro, mas não resolve tudo
A chegada do presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), ao comando da Casa Civil deve fortalecer a relação do governo principalmente com o Senado — em meio a uma CPI da Covid e uma importante agenda de votações para o segundo semestre —, mas está longe de, por si só, resolver os desafios da gestão Jair Bolsonaro, afirmaram parlamentares à Reuters nesta terça-feira.
Expoente do chamado centrão, grupo de partidos rechaçado por Bolsonaro durante a campanha e que ele abraçou recentemente em meio às crescentes dificuldades políticas, Ciro Nogueira é o quarto ministro da Casa Civil do atual governo e terá como missão, nas palavras do próprio presidente, melhorar a relação com o Congresso.
A aposta de aliados é que o novo ministro poderá ajudar na moderação do discurso do presidente, inclusive criando pontes com outros partidos de centro e até com a oposição.
Ex-presidente do PP, o senador Espiridião Amin (SC) disse que o correligionário, no novo cargo, poderá distensionar a relação entre os diferentes pelo diálogo que ele tem com políticos das mais diversas correntes políticas. Até pouco tempo, Ciro era aliado do PT e entusiasta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, maior adversário de Bolsonaro.
"O Ciro tem condições de entregar ou facilitar a entrega desse processo que se chama governabilidade", afirmou Amin, antes de fazer uma ressalva: "Partindo do princípio que o presidente diga com clareza o que quer".
Espiridião Amin avaliou que "não está nada resolvido" agora e que há desafios a serem superados no Senado a partir da próxima semana, com o fim do recesso parlamentar.
Entre os desafios pela frente estão a aprovação da recondução de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República, vista como mais tranquila, e também a aprovação da indicação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF), mais complicada.
"Cada dia a sua agonia", ponderou Amin.
Para o líder do bloco Vanguarda do Senado, Wellington Fagundes (PL-MT), Ciro Nogueira é um político muito experiente e terá a possibilidade de compor "muito bem" com a ministra da Secretaria de Governo, a deputada licenciada Flávia Arruda (PL-DF), dividindo tarefas na relação com o Congresso.
O senador do PL descartou a possibilidade — que tem sido aventada nos bastidores — de Ciro acumular toda a articulação política.
Fagundes, que lidera um bloco de 11 senadores do PL, PSC e DEM, a escolha do presidente do PP foi positiva, mas dependerá do apoio que cada um terá para cumprir suas missões.
"Ministro forte é o que tem a confiança do presidente", disse ele, ao ser questionado se ambos têm carta branca. "Mais do que isso, eles precisam ser da convivência íntima do presidente para resolver os problemas."
Para o senador do PL, esses dois ministros lá têm que fazer até essa função, de interlocução entre o Congresso e sociedade no momento em que o presidente é "declaradamente candidato" e precisa viajar e fazer política.
Uma coisa está clara: com a ida do Ciro para a Casa Civil, a criação de mais um ministério [do Trabalho e Emprego] e o envolvimento da equipe econômica, o governo todo está preocupado e com o olho no ano que vem.
Wellington Fagundes (PL-MT), à Reuters
Um importante governista da Câmara disse, reservadamente, acreditar que a ida de Ciro para a articulação com o Congresso vai melhorar imagem do governo, assim como o aumento do valor do Bolsa Família para 300 reais e outras ações na área social. Segundo ele, a melhoria da popularidade do presidente só depende dele, desde que não fale bobagem.
"A melhoria econômica e de coordenação pode dar os instrumentos para ele melhorar a própria imagem, mas ele tem que ter filtro", disse essa fonte.
Já o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid e opositor de Bolsonaro, disse que, a despeito de considerar Ciro Nogueira um político talentoso e dedicado, avalia que ele terá "muita dificuldade para remontar esse governo que apodreceu, que acabou por falta de projeto, incompetência e corrupção que começou a ser apurado na comissão de inquérito".
"Pelo risco que o governo significa, pelos propósitos que elegeu, acho difícil uma reviravolta e acho que o Bolsonaro perdeu popularidade numa velocidade grande e também fica muito difícil arremeter", destacou.
Questionado sobre a expectativa de aliados de reverter o cenário econômico, Renan Calheiros afirmou que pode até haver um crescimento formal da economia neste ano em função da base negativa. Mas, segundo ele, a percepção de que a vida vai melhorar continuará distante porque, na visão do emedebista, não haverá efetiva criação de empregos, geração de renda e queda da inflação.
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