Topo

Esse conteúdo é antigo

Aumento do desmatamento na Amazônia eleva pressão sobre o governo

28 jul. 2021 - Vista aérea mostra área de desmatamento na fronteira entre a Amazônia e o Cerrado, em Nova Xavantina, no Mato Grosso - Amanda Perobelli/File Photo/Reuters
28 jul. 2021 - Vista aérea mostra área de desmatamento na fronteira entre a Amazônia e o Cerrado, em Nova Xavantina, no Mato Grosso
Imagem: Amanda Perobelli/File Photo/Reuters

Da Reuters, em Brasília

19/11/2021 19h15

Diplomatas expressaram surpresa e decepção nesta sexta-feira (19) com os novos dados de desmatamento na Amazônia brasileira este ano, afirmando que o crescimento da área desmatada aumenta a pressão sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para fazer mais para impedir a destruição.

Os indícios de que o Brasil analisou os dados por três semanas antes de anunciá-los também atraiu indignação de organizações não governamentais.

O governo divulgou o relatório, datado de 27 de outubro, após a cúpula climática COP26 da ONU neste mês em Glasgow, onde o Brasil assinou uma promessa global para acabar com o desmatamento até 2030 e assumiu mais compromissos climáticos.

O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Pereira Leite, disse a jornalistas que só teve acesso aos dados na quinta-feira, quando foram anunciados. Ele chamou os dados de "inaceitáveis" e prometeu ações mais rígidas para combater o desmatamento.

Os dados mostraram que o desmatamento na Amazônia brasileira atingiu o nível mais alto desde 2006, com 13.235 quilômetros devastados, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Dados preliminares do Inpe divulgados neste ano indicavam que o desmatamento poderia cair um pouco, mas os dados finais mais precisos mostraram um aumento de 22%.

As árvores da Amazônia absorvem grandes quantidades de dióxido de carbono que, de outra forma, aqueceriam o planeta.

Um diplomata europeu disse à Reuters, sob condição de anonimato, que estava "muito decepcionado com os últimos números".

Um segundo diplomata europeu, de um país diferente, afirmou que os números são "muito piores" do que o esperado.

Embora o aumento tenha surpreendido, o Brasil não mostrou que a política ambiental está caminhando na direção certa, segundo a fonte.

"Todos os sinais políticos vindos do governo através do Congresso ou outros meios claramente não mostram nenhuma vontade política de reduzir o desmatamento", disse o diplomata.

A pressão do setor privado e de governos estrangeiros "só está aumentando" para que o Brasil mostre um plano concreto de como vai conseguir fazer com que o desmatamento fique sob controle, acrescentaram as fontes.

O Palácio do Planalto e os ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores não responderam de imediato a um pedido de comentário sobre as críticas.

Um diplomata brasileiro, que participou da COP26 em Glasgow, disse à Reuters que os negociadores não sabiam dos dados durante as negociações da ONU e reconheceu que isso aumentaria a pressão sobre o Brasil.

Mas o diplomata, falando sob condição de anonimato, afirmou que o Brasil nas negociações já havia admitido que o desmatamento era um problema e que novas metas de desmatamento eram bem-vindas.

"Temos que admitir e temos que resolver, até para manter nossa capacidade de negociar e influenciar", disse a fonte.

Valentina Sader, diretora-assistente do centro para a América Latina no Atlantic Council, disse que os dados combinados com as metas do Brasil na COP podem aumentar o escrutínio internacional.

"Os compromissos assumidos publicamente em Glasgow serão essenciais para responsabilizar o Brasil", declarou ela.

*Colaboraram Gabriel Stargardter e Anthony Boadle