Conteúdo publicado há 27 dias

Estudo da Fiocruz aponta contaminação por mercúrio no povo Yanomami

Indígenas de nove aldeias no território Yanomami foram encontrados com contaminação por mercúrio, sendo que aqueles que vivem mais perto de locais de mineração ilegal de ouro apresentam níveis mais altos do metal, segundo um estudo divulgado na quinta-feira.

O estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) coletou amostras de cabelo de cerca de 287 indígenas em outubro de 2022. Todas deram positivo para contaminação por mercúrio, com cerca de 11% das amostras apresentando altos níveis do metal, que é usado por garimpeiros para separar o ouro do minério e da terra.

Os yanomamis, cuja população estimada é de cerca de 28.000, vivem na maior reserva indígena do Brasil, nos Estados de Roraima e Amazonas. Eles enfrentam uma crise humanitária devido à invasão de suas terras por garimpeiros ilegais, o que tem causado desnutrição e mortes.

"Esse cenário de vulnerabilidade aumenta exponencialmente o risco de adoecimento das crianças que vivem na região e, potencialmente, pode favorecer o surgimento de manifestações clínicas mais severas", explica o coordenador do estudo, Paulo Basta, médico e pesquisador da Ensp/Fiocruz.

Os indígenas com níveis mais altos de mercúrio apresentaram déficits cognitivos e, com mais frequência, danos nos nervos das extremidades do corpo, de acordo com o estudo.

Mais de 80% das pessoas que participaram do estudo disseram aos pesquisadores que já haviam tido malária em algum momento.

Mais de 25% das crianças com menos de 11 anos eram anêmicas e quase metade apresentava desnutrição aguda. Cerca de 80% eram mais baixas do que o esperado para a idade, o que também sugere desnutrição crônica, segundo o estudo.

Todas as 47 amostras de peixes coletadas pelos pesquisadores da Fiocruz também deram positivo para contaminação por mercúrio.

"Isso é muito grave! As nossas crianças estão nascendo doentes. As mulheres estão doentes, os nossos velhos estão doentes! O nosso povo está morrendo por causa do garimpo", disse Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, em uma declaração à imprensa que acompanhou o estudo.

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