Acusação de agressão sexual contra Joe Biden pode comprometer sua candidatura à Casa Branca?
Joe Biden viu sua campanha em risco ao vir à tona a acusação de uma antiga colaboradora de que, há quase 30 anos, tinha sido agredida sexualmente pelo então senador. Escândalos de conotação sexual são uma das armas mais usadas e eficazes na política americana, podendo destruir até mesmo longas carreiras em Washington.
Em meio a boatos de que o partido democrata cogitava trocar de candidato, o ainda preferido nas pesquisas para derrotar Donald Trump nas urnas em 3 de novembro concedeu uma entrevista a MSNBC, nessa sexta-feira (1) negando as acusações
Nos últimos dias, as acusações de Tara Reade, membro da equipe de Biden no Senado, de 1992 a 1993, passaram a ocupar todos os noticiários, sendo que há até recentemente, só estavam sendo expostas pela mídia americana conservadora e pró-Donald Trump.
A divulgação dessas acusações fez com que o próprio candidato democrata finalmente tivesse de enfrentá-las. Até então, apenas os representantes da sua campanha estavam respondendo às acusações contra o vice de Barack Obama, negando que fossem verdadeiras.
Apesar de Biden ser entrevistado regularmente, até recentemente as acusações eram tabu, e nenhum jornalista o questionava sobre isso. O fato de que os veículos simpáticos à sua candidatura estão agora divulgando as acusações, faz com que mais eleitores fiquem expostos a polêmicas envolvendo o candidato democrata e, pelo menos no curto prazo, sua campanha sofre um impacto negativo.
Mesmo assim, de acordo com as últimas pesquisas, Biden continua a estar na frente de Trump nas intenções de voto para a eleição em novembro, com 45% contra 39% para Trump. Mais importante ainda, Biden está liderando em estados que serão decisivos para conquistar a Casa Branca, como Michigan, Pensilvânia e Flórida.
Biden sob pressão
Apesar de os conservadores alegarem que a grande imprensa protege o candidato democrata, a entrevistadora Mika Brzezinski do programa Morning Joe (MSNBC) foi firme ao pressionar o ex-vice-presidente.
O desempenho de Biden não foi sólido, especialmente quando pressionado a permitir que seus arquivos, que estão sob a custódia da Universidade de Delaware, fossem investigados para verificar se há alguma prova de que sua acusadora o havia denunciado quando trabalhava no Senado.
O candidato apenas disse que os arquivos que estão na universidade não contêm nada que envolva antigos funcionários e que se existisse uma denúncia, estaria arquivada junto aos Arquivos Nacionais.
Logo depois da entrevista, Biden pediu que a instituição dos Arquivos Nacionais divulgasse a eventual existência de algum documento sobre tal denúncia, mas a instituição declarou não ser quem guarda esses documentos. Ele ainda não autorizou que os arquivos que estão na Universidade de Delaware sejam pesquisados.
No mesmo programa, Biden mais uma vez mostrou ter dificuldade em se comunicar, afirmando duas vezes que 600 mil americanos morreram por causa do coronavírus, sendo que o número oficial, até aquele momento, estava por volta de 60 mil.
Qualquer um, menos Trump
Biden nunca foi o candidato dos sonhos dos democratas. O que ele tem a oferecer é um nome conhecido dos americanos, além de as pesquisas sempre terem o apontado como o candidato mais provável de derrotar Trump.
Outros candidatos, como o senador Bernie Sanders (Vermont) e o prefeito Pete Buttigieg (South Bend, Indiana), empolgavam muito mais os eleitores, enquanto que o entusiasmo por Biden nunca passou de morno.
Mas a liderança do partido resolveu apostar nele como um candidato confiável, sem a plataforma socialista de Bernie que poderia assustar os grandes doadores, e que escolheria um vice promissor para a ala mais progressista do partido.
Biden prometeu escolher como vice uma mulher, possivelmente representante de uma minoria e mais jovem, pois, segundo o próprio candidato, se eleito ele assumiria a presidência com 78 anos, e a chance de não conseguir cumprir seu mandato pode ser alta.
A grande parte dos eleitores de Biden diz que votaria em qualquer pessoa que tenha chance de derrotar Trump, pois há uma parcela enorme da população americana que quer ver o tumultuoso republicano fora da Casa Branca a qualquer custo. Ao mesmo tempo, quanto mais os eleitores são expostos a Biden, mais eles se questionam.
Candidatura arriscada
Biden representa tudo que o Partido Democrata diz que precisa ser transformado na sociedade americana. Apesar de contar com vários pré-candidatos de minorias e Biden ter tido um mau desempenho nas primeiras eleições primárias, a liderança do partido acabou por apoiar um típico representante da velha elite de Washington. E mesmo a liderança do partido agora se preocupa com o desempenho de Biden quando a campanha esquentar.
Além disso, nos bastidores de Washington sempre houve uma preocupação de que o vice de Obama não resistiria ao escrutínio de uma campanha presidencial, pois tem muitos "esqueletos no armário".
O passado de Biden inclui uma história de plágio quando era estudante de Direito e durante sua campanha à presidência em 1988. Nos seus discursos de campanhas passadas,
Biden diversas vezes contou que sua primeira mulher e filha tinham morrido em um acidente de carro em 1972 causado por um motorista de caminhão embriagado. Isso foi provado não ser verdade, apesar de ter custado a reputação do motorista de caminhão. Certamente, a campanha de Trump ainda vai desencavar muitos "esqueletos" nos próximos meses.
Apesar de haver constantes boatos de que a liderança democrata gostaria de poder trocar de candidato, antes da convenção do partido, que será em agosto, isso é pouco provável.
Até agora Biden conta com 1.406 delegados dos 1.991 que precisa para garantir sua nomeação, e ele é o único candidato nas 22 primárias que ainda serão realizadas. A única alternativa seria pedir que Biden desistisse de concorrer, assim como o partido fez, em 1972, com o candidato a vice, Thomas Eagleton, devido à sua saúde mental. Se Biden, a pedido do partido ou por decisão própria, resolvesse desistir de disputar a Casa Branca, o Comitê Democrata Nacional poderia escolher um novo candidato.
Crise econômica favorece democratas
Até recentemente, os democratas estavam cientes de que tirar da Casa Branca um presidente em um período de economia forte, era um feito difícil. Por isso mesmo, é possível que tenham escolhido Biden para representar o partido já sabendo que suas chances de ser eleito eram baixas e o ex-vice teria pouco a perder, já que, devido à idade avançada, estaria se aproximando ao fim de sua carreira política. Mas a economia americana sofreu um grande baque com a pandemia do coronavírus, deixando Trump fragilizado.
O governador de Nova York, Andrew Cuomo, seria um dos preferidos dos democratas, já que sua atuação durante a crise do coronavírus fez com que se tornasse um dos políticos mais populares atualmente, com 56% dos eleitores dizendo que prefeririam ver o governador na cédula em novembro, especialmente depois de testemunharem, nas últimas semanas, como ele se sobressaiu em debates indiretos com Trump.
Alguns analistas abrem a possibilidade de cenários bizarros, inclusive cogitando a possibilidade de Hillary Clinton concorrer novamente, tendo Barack Obama como seu vice. Entretanto, esses cenários vão de pouco prováveis a absurdos, e o melhor que o partido agora pode fazer é torcer para que Biden escolha bem seu vice.
Há uma grande possibilidade de ser a senadora pela Califórnia, Kamala Harris, uma promotora negra de 55 anos com fama de durona e competente, especialmente porque o comitê para selecionar o companheiro de cédula de Biden inclui dois nomes que representam o estado da senadora, o prefeito de Los Angeles e uma vice-presidente da Apple. Se os eleitores tiverem Kamala em mente ao irem às urnas, o entusiasmo por Biden deve aumentar.
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