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Rússia nega ter envenenado opositor; Alemanha não descarta sanções econômicas

16.jan.2019 - Alexei Navalny, opositor do governo russo - Mladen Antonov/AFP
16.jan.2019 - Alexei Navalny, opositor do governo russo Imagem: Mladen Antonov/AFP

03/09/2020 08h12

Para o governo alemão, os europeus devem responder "com firmeza" ao presidente russo Vladimir Putin depois do suposto envenenamento do opositor Alexeï Navalny, adotando medidas que impactem a venda do gás russo.

O governo russo desmentiu a acusação hoje e disse que o Ocidente teme tomar cuidado para não tirar "conclusões precipitadas", além da Rússia "não ter nenhuma razão para envenenar Navalny."

O porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, disse que Moscou está pronto para o diálogo com Berlim e os outros países europeus. Ele insistiu que nenhuma substância foi detectada pelos médicos russos durante sua hospitalização em um hospital da Sibéria.

O Ministério das Relações Exteriores russo já havia criticado o fato de a Alemanha não ter cooperado com o governo russo."

"A resposta europeia é necessária", declarou hoje o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Bundestag, Norbert Röttgen, em entrevista à rádio Deutschlandfunk.

"Devemos implantar políticas rígidas e responder da única maneira que o Putin entende: com as vendas de gás", declarou. Ele foi questionado se seria necessário interromper o projeto do gesoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia e a Alemanha.

O ex-embaixador da Alemanha em Washington, Wolfgang Ischinger, também deu declarações neste sentido, dizendo que uma resposta "clásssica", que consistiria, por exemplo, na expulsão de diplomatas, não seria o mais adequado diante da gravidade da situação.

"Se nós e nossos parceiros quisermos enviar uma mensagem clara para Moscou, isso deve envolver as relações econômicas. Isso significa que não devemos excluir o projeto Nord Stream 2", declarou.

Ischnger não propõe, entretanto, um boicote total. "Não podemos levantar um muro entre o Ocidente e a Rússia, seria ir longe demais. Mas há um meio termo entreas opções diplomáticas e um boicote total", declarou.

A França e a União Europeia tambémse alinharam à acusação feita pela Alemanha e condenaram o envenenamento, assim como os Estados Unidos.

Envenenado com chá

A Alemanha afirmou ontem que tem "provas inequívocas" de que o opositor russo Alexei Navalny foi envenenado, e exigiu que a Rússia apresente explicações "urgentes" sobre o caso. Navalny, que está hospitalizado em estado grave em um hospital de Berlim, após uma transferência da Rússia, foi envenenado com um agente tóxico nervoso "do tipo Novichok", um "incidente chocante", afirmou o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, em um comunicado.

As análises realizadas pelo Exército alemão em consulta com o Hospital da Charité de Berlim, onde Navalny está internado, encontraram "provas inequívocas de um agente químico nervoso da família do Novichok", declarou Seibert.

Este agente já havia sido usado contra o ex-agente duplo russo Serguei Skripal e sua filha Yulia em 2018 na Inglaterra, de acordo com as autoridades britânicas. O caso gerou uma crise diplomática entre Londres e Moscou.

O líder opositor russo, de 44 anos, passou mal a bordo de um avião na Sibéria, no mês passado. Inicialmente, foi atendido em um hospital local, antes de ser transferido de avião para a capital alemã.

O Hospital da Charité anunciou "certa melhora" no estado de Navalny que, no entanto, permanece em coma e com um respirador.

Os resultados dos exames mostraram que Navalny foi de fato "vítima de um crime", com a intenção de "silenciá-lo", denunciou a chanceler alemã, Angela Merkel, em nota à imprensa.

Novichok é proibido pela OPAQ

Hoje, o Reino Unido pediu à Rússia que "diga a verdade", considerando o uso de uma "arma química proibida absolutamente inaceitável". A União Europeia denunciou "um ato desprezível e covarde".

"A Rússia já usou o agente nervoso Novichok no passado", enfatizou o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

O Canadá afirmou que "as autoridades russas devem explicar o que aconteceu" e classificou o uso de armas químicas de "horrível e inaceitável".

O governo alemão também planeja "contatar a OPAQ (Organização para a Proibição de Armas Químicas)", uma vez que agentes do tipo Novichok são banidos por esta organização.