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Conflito em Nagorno-Karabakh pode gerar guerra declarada entre Armênia e Azerbaijão

4.out.2020 - Imagem de vídeo divulgado pelo Ministério da Defesa do Azerbaijão mostra a destruição de um posto de controle da Armênia na região de Nagorno-Karabakh - AFP
4.out.2020 - Imagem de vídeo divulgado pelo Ministério da Defesa do Azerbaijão mostra a destruição de um posto de controle da Armênia na região de Nagorno-Karabakh Imagem: AFP

05/10/2020 16h32

As tropas separatistas de Nagorno-Karabakh se retiraram de alguns setores do front para fins táticos, indicou nesta segunda-feira (5) presidência da república autoproclamada da região, engajada em um conflito armado com a Azerbaijão.

Segundo o porta-voz da presidência dos separatistas, Vahram Poghossian, "para evitar as especulações, gostaria de assegurar que, em alguns setores, as forças armadas retiraram seus soldados, para evitar perdas inúteis e infligir maiores perdas aos adversários", escreveu em um post publicado no Facebook. Ele assegurou que o sucesso das forças separatistas eram "tangíveis" e disse que, em breve, as forças do Azerbaijão deverão começar sua retirada.

O comunicado foi publicado depois de o Ministério da Defesa da Armênia indicar que as forças do país tinham abandonado suas posições militares no distrito de Hadrout. Até agora, os separatistas, apoiados pela Armênia, haviam desmentido todas as conquistas militares anunciadas pelo Azerbaijão. O conflito ameaça se transformar em uma guerra aberta entre Baku e Erevan.

"Os combates armados de graus diferentes, de intensidade que começaram durante a noite, de domingo para segunda, continuam intensos", disse Chouchane Stepanian, porta-voz do Ministério da Defesa da Armênia. O Ministério das Relações Exteriores dos separatistas de Karabakh indicou, nesta segunda-feira (5), que a capital Stepanakert, de 50.000 habitantes, estava sendo visada por tiros de foguete "Intensos."

No domingo à noite, o presidente do Azerbaijão impôs a retirada das forças separatistas do território como condição para um cessar-fogo, que parece distante. Isso porque esse conflito, iniciado há uma semana, se intensificou, com combates intensos na linha do front, explicam os enviados especiais da RFI. De acordo com um balanço oficial, os mais recentes bombardeios, principalmente com foguetes, deixaram quatro mortos entre os habitantes da república autoproclamada, e cinco no Azerbaijão, além de inúmeros feridos.

Combates além da linha do front

O Azerbaijão reivindica o controle de várias cidades, conhecidas como territórios ocupados, em torno da província secessionista, principalmente Djabrail. Mas os combates ultrapassaram a linha do front. No domingo de manhã, a capital de Nagorno-Karabakh, Stepanakert, foi atacada dezenas de vezes com foguetes e outros projéteis de longo alcance.

Os habitantes de Stepanakaert dormiam ainda pela manhã quando a sirene de alerta soou, pouco antes das primeiras explosões. Desta vez, as munições eram de maior calibre.

Buracos no asfalto, apartamentos destruídos e uma fumaça preta se elevavam a vários metros de altura no céu. Nos raros momentos de pausa nos bombardeios, a retirada dos civis que moram na capital foi acelerada. No domingo à tarde, as ruas estavam totalmente vazias. O ataque de Stepanakert é sem precedentes desde o início dos combates e uma resposta a outro ataque, lançado pelo lado armênio sobre a segunda cidade do Azerbaijão, Gandja, e seu aeroporto situado a cerca de 100 quilômetros do front.

Tiros violentos

Outro local simbólico atingido durante a tarde desta segunda-feira foi Chouchi, situada a oito quilômetros da capital de Nagorno-Karabakh. A cidade medieval, com suas mesquitas e uma grande igreja de pedras cinzas e pinturas bíblicas, é importante para os armênios e a população do Azerbaijão.

Até agora, ela tinha sido poupada pelos ataques, mas um violento tiro de foguete deixou quatro mortos e pelo menos 20 feridos. No caminho de volta para a Armênia, cerca de 20 ambulâncias se dirigiam ao local do ataque, com os faróis desligados por razões de segurança, como todos os veículos que circulam na região.

Preocupação regional

O conflito se torna mais violento, o que preocupa os países do Cáucaso do Sul. A região, situada perto da Rússia, e tendo como árbitro regional a Turquia, aliada do Azerbaijão e do Irã, teme um conflito direto entre Erevan e Baku. O governo turco já vem sendo acusado de gerar tensão encorajando o Azerbaijão na ofensiva militar e é suspeito de ter enviado mercenários sírios pró-Turquia à região. No domingo à noite, diante da violência dos bombardeios que atingiram as áreas habitadas, a Rússia se mostrou preocupada com a escalada da violência.

O ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, exprimiu sua preocupação ao chanceler armênio, "diante do aumento do número de vítimas dentro da população civil." Ele pediu um cessar-fogo o mais rápido possível.

O diretor do site Eurasia, Cyrille Bret, está pessimista em relação a essa opção. "É extremamente complicado e a guerra acontece em um momento onde os mecanismos de resolução dos conflitos sobre o continente europeu é menos eficaz. O multilateralismo está em um período de baixa, incluindo a ação da OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa), encarregada de gerenciar esse tipo de questão."

De acordo com ele, o conflito, que era latente e periférico, está se tornando um "central, por conta do investimento de dois grandes protagonistas regionais históricos: a Rússia e a Turquia. A resolução do conflito está distante porque este é um combate entre dois princípios: o de fronteiras intangíveis e o do direito dos povos de decidir seu destino. É quase um dilema trágico, de fato", declara Bret.

Abrigo e proteção

Os habitantes da região não imaginavam um conflito tão longo e difícil e muitos deles foram buscar abrigo e proteção na Armênia. Anissa El Jabri e Bertrand Haeckler, enviados especiais da RFI, encontraram três mulheres e cerca de 15 crianças refugiados em uma pré-escola de Martakert, um vilarejo a poucos quilômetros do front. Os homens da família estão participando dos combates. "Queremos voltar para nosso vilarejo quando for possível. Iremos mesmo a pé se necessário", disseram.