Novo atentado em igreja provoca emoção e medo entre católicos franceses
O atentado a faca que deixou três mortos na manhã de hoje em Nice provoca uma onda de emoção e forte apreensão entre os católicos franceses.
"É inaceitável uma decapitação dentro de uma igreja na semana em que se comemora a Festa de Todos os Santos", declarou o presidente do Conselho Departamental dos Alpes Marítimos, Charles-Ange Ginésy, fazendo referência ao 1° de novembro.
Segundo fontes policiais, o autor dos golpes é um tunisiano de 21 anos que chegou à França no início de outubro, proveniente da ilha de Lampedusa, na Itália, onde teria desembarcado em setembro. Ele gritou "Allah Akbar [Allah é o maior]" enquanto recebia atendimento médico depois de ser imobilizado pela polícia. Gravemente ferido, o homem foi transferido para um hospital.
As vítimas são duas mulheres, uma aposentada com cerca de 70 anos e outra de aproximadamente 40 anos, e o sacristão laico da basílica de Notre-Dame de Nice. Atingidos no pescoço, o sacristão e a aposentada foram praticamente degolados, de acordo com investigadores que atuam no caso.
Este ataque descrito como "inqualificável" pela Conferência dos Bispos da França (CEF) reacendeu entre os católicos a dor vivida com o assassinato do padre Jacques Hamel, em julho de 2016, na igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray, em Rouen. O sacerdote, de 86 anos, foi decapitado no altar por dois homens, logo depois de encerrar sua missa matinal. O atentado foi posteriormente reivindicado pelo grupo Estado Islâmico.
O arcebispo de Rouen, Dom Dominique Lebrun, lamentou a repetição dessa violência em Nice. "Esperávamos continuar no caminho da vida e agora a morte nos alcança", disse o religioso. "Esta tarde tinha planejado, e sempre planejei, almoçar com a irmã do padre Jacques Hamel e suas sobrinhas", confidenciou o arcebispo. "É realmente para nós voltarmos para o mal. Quase quero dizer o mal absoluto que retorce nossos corações", completou.
Em meio à forte emoção provocada por este novo ataque contra um símbolo do Ocidente, como muitos fiéis destacaram, o bispo Eric de Moulins-Beaufort, presidente da CEF, declarou esperar que os cristãos "não se tornem alvo de massacres". O porta-voz da Conferência dos Bispos, padre Hugues de Woillemont, enfatizou que "é urgente combater esta gangrena que é o terrorismo, da mesma forma que é urgente concretizar uma fraternidade no nosso país". "Estamos comovidos, muito tocados e espantados com este tipo de ato inominável", acrescentou Woillemont.
O papa Francisco condenou "o terrorismo e a violência que nunca podem ser aceitos". É um momento de dor em um período de confusão", afirmou em um comunicado seu porta-voz, Matteo Bruni.
Em sua conta no Twitter, Francisco ressaltou sua proximidade com a comunidade católica de Nice, "que hoje está de luto, depois desse ataque que semeou a morte em um local de orações e conforto". "Rezo para as vítimas, para suas famílias e pelo amado povo francês, esperando que ele possa reagir ao mal pelo bem", declarou o papa.
Sinos tocam nas igrejas em homenagem às vítimas
No início da tarde, centenas de católicos se dirigiram para igrejas a fim de prestar uma homenagem às vítimas da basílica de Nice. Às 15h, os sinos de todas as igrejas do país soaram para honrar a memória dos mortos.
O arcebispo de Paris, Michel Aupetit, celebrou missa na Saint-Sulpice, no sexto distrito da capital. Suas primeiras palavras para os presentes foram: "Não tenham medo". Porém, vários devotos manifestaram temor com essa nova onda de atentados extremistas islâmicos no solo francês - três ataques no intervalo de um mês e meio. "Nossa arma é a oração", concluiu o arcebispo. Na saída da missa, famílias que frequentam a paróquia diziam que só a comunhão e a fraternidade podem ajudá-las a enfrentar as ameaças.
Autoridades religiosas muçulmanas condenam violência
Essa nova manifestação de extremismo islâmico gerou reações de repúdio de autoridades religiosas muçulmanas. "Posso apenas condenar energicamente a covardia deste ato contra pessoas inocentes", disse Abdallah Zekri, delegado-geral do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM).
O presidente da entidade, Mohammed Moussaoui, que esta semana manifestou ao presidente Emmanuel Macron o desejo que imagens de Maomé não fossem exibidas nas escolas francesas, fez um apelo aos muçulmanos para que não comemorem a festa de Mawlid, de sexta-feira a domingo. Este rito lembra o nascimento de Maomé, o profeta do Islã.
Em uma semana pontuada pela escalada verbal do presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, contra o líder francês Emmanuel Macron, por sua defesa intransigente da liberdade de expressão, incluindo a publicação de caricaturas de Maomé, os franceses têm motivos de sobra para se angustiar.
Em Nice, Macron afirmou que "o ataque terrorista de hoje foi um ataque à França". Ele também pediu unidade da população contra o radicalismo e as tentativas de divisão.
"Eu quero reafirmar, primeiro e antes tudo, o apoio da nação inteira aos católicos da França e de outros lugares", disse Macron em frente à basílica de Notre-Dame. "A nação inteira está ao lado de vocês e se manterá firme para que a religião possa continuar a ser exercida livremente em nosso país."
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