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Agência: Emissões de CO2 terão nível alarmante em 2023 e não haverá melhora

Ativistas do Greenpeace protestam contra emissão de CO2 em frente a usina de energia na Alemanha, em 2020 - Kai Pfaffenbach
Ativistas do Greenpeace protestam contra emissão de CO2 em frente a usina de energia na Alemanha, em 2020 Imagem: Kai Pfaffenbach

Da RFI

20/07/2021 07h24Atualizada em 20/07/2021 07h42

As emissões globais de CO2, a principal fonte de aquecimento do planeta, deverão atingir um nível sem precedentes até 2023 e continuarão a aumentar depois disso, tendo em vista que uma parcela muito pequena dos planos de recuperação da economia, pós-covid-19, são dedicados às energias renováveis, informou nesta terça-feira (20) a Agência Internacional de Energia (IEA).

Os Estados liberaram somas sem precedentes para enfrentar a pandemia. Porém, apenas 2% desses recursos estão sendo aplicados, até agora, na transição energética, calculou a IEA, após uma análise dos planos de recuperação e seu impacto energético.

Neste estágio, a maior parte dos US$ 16 trilhões anunciados deverá ir para gastos com saúde e apoio emergencial para empresas e famílias. Cerca de US$ 2.300 bilhões foram dedicados à recuperação econômica, incluindo US$ 380 bilhões relacionados a projetos de energia "sustentável".

Consequência: "tendo em vista as atuais projeções de gastos públicos, as emissões de CO2 deverão atingir níveis recordes em 2023 e continuar a crescer nos anos seguintes", prevê o relatório.

"Desde o início da crise da covid-19, muitos governos têm destacado como é importante reconstruir melhor, para um futuro mais saudável, mas muitos ainda têm que fazer o que dizem", observa o diretor do IEA, Fatih Birol.

"O [pouco] investimento em energia limpa não apenas afastou o mundo do caminho da neutralidade de carbono em meados do século, como também não impediu um novo recorde de emissões", lamenta.

Faltam fundos públicos e privados

De acordo com os cálculos feitos pela IEA e pelo FMI em meados de 2020, US$ 1.000 bilhões de investimentos verdes adicionais por ano, e ao longo de três anos (em eficiência energética, eletrificação, redes, etc.) tornariam possível apoiar tanto a recuperação econômica quanto a criação de "9 milhões de empregos", em cumprimento do Acordo de Paris.

Até o momento, as medidas adotadas devem resultar em US$ 350 bilhões em investimentos anuais adicionais, de 2021 a 2023: é melhor do que antes da covid-19, mas não o suficiente.

A tendência é particularmente alarmante em países em desenvolvimento e emergentes, onde a demanda por mais eletricidade encontra sua resposta no carvão, em vez da energia solar ou eólica. Essas regiões teriam menos de 20% dos investimentos necessários para sua descarbonização, segundo o relatório, que teme um "fosso crescente" entre países ricos e pobres.

Assim, "muitos países também estão perdendo as oportunidades do desenvolvimento de energias limpas: crescimento, empregos, implantação de indústrias do futuro", lamenta Fatih Birol, que aproveita para lembrar o compromisso dos países do Norte em relação ao Sul.

Na COP21 em Paris, em 2015, os países desenvolvidos se comprometeram a fornecer pelo menos US $ 100 bilhões anualmente em financiamento climático, um valor mínimo e uma promessa de mais de dez anos.

Rastreador de Recuperação Sustentável

Com a crise da Covid-19, a IEA quer, com esta ferramenta de monitoramento de planos de recuperação ("Rastreador de Recuperação Sustentável"), ajudar os governos a medir o impacto de suas ações. O relatório atualizado foi divulgado às vésperas do encontro de ministros do Meio Ambiente e Energia do G20, que acontece entre os dias 22 e 23 de julho, em Nápoles, na Itália.

Mais de 800 medições em 50 países foram examinadas, as quais podem ser visualizadas no site da Agência. Com sede em Paris, a IEA foi criada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 1974, para garantir a segurança energética global e aconselhar os países ricos.

Em maio, a instituição, que também monitora as emissões de gases de efeito estufa provenientes de energia (ou seja, a maioria das emissões totais), impressionou o mundo ao publicar seu relatório para a neutralidade global de carbono, até 2050. De acordo com a conclusão final, todos os novos projetos de exploração de combustível fóssil (petróleo, gás, carvão) deveriam ser abandonados.

Uma estrada "estreita, mas ainda praticável, se agirmos agora", conclui Fatih Birol.

*Com informações da AFP