Topo

Esse conteúdo é antigo

Com aeroporto fechado após saída dos EUA, afegãos fogem para o Paquistão

Fronteira entre Afeganistão e Paquistão é tomada por população que busca fugir do Talibã - Abdul Khaliq Achakzai/Reuters
Fronteira entre Afeganistão e Paquistão é tomada por população que busca fugir do Talibã Imagem: Abdul Khaliq Achakzai/Reuters

Com informações de Sonia Ghezali

Correspondente da RFI em Islamabad

31/08/2021 11h15Atualizada em 31/08/2021 11h59

O último militar dos Estados Unidos deixou o Afeganistão na noite de ontem, encerrando 20 anos de guerra, a mais longa da história dos EUA. Enquanto o Talibã tomava o aeroporto militar de Cabul, mais de 20 mil pessoas cruzavam a fronteira com o Paquistão, o principal destino dos refugiados, de onde alguns tentarão chegar à Europa.

Milhares de afegãos agora tentam fugir de seu país por estradas. De acordo com a Acnur (Agência das Nações Unidas para os Refugiados), 515 mil pessoas já fugiram do Afeganistão recentemente. Esse fluxo, sem dúvida, vai continuar.

A Acnur está se preparando para que meio milhão ou mais de pessoas deixem o Afeganistão nos próximos meses, a maioria para o Paquistão. Atualmente, cerca de 20 mil pessoas cruzam essa fronteira diariamente, o triplo do normal.

O Paquistão já abriga 3 milhões de refugiados afegãos, principalmente os que deixaram o país durante a guerra contra a União Soviética ou a guerra civil dos anos 1990. A metade não tem nenhum documento e está em situação ilegal.

Para o Paquistão, que está enfrentando uma grande crise econômica, acentuada pela pandemia de covid-19, esse fluxo de refugiados é um enorme desafio. No entanto, o país está abrindo suas portas, apesar do discurso inicial das autoridades paquistanesas que disseram não querer receber refugiados.

Isso pode ser visto em Islamabad, a capital do Paquistão. Os hotéis estão se preparando para serem parcialmente requisitados para acomodar os refugiados que chegam. Países vizinhos, como o Paquistão, servirão como primeira saída de refugiados antes de seguirem para outros destinos.

Ruas desertas em Cabul

Desde a saída dos americanos, Cabul se tornou uma "cidade fantasma", nas palavras de um morador que ainda está lá. "Não há muita gente nas ruas. Nosso país está entrando em colapso, afundando", diz.

Ele conta que a economia já era frágil antes de o Talibã assumir o poder. Os bancos estão fechados, não há mais liquidez, as pessoas estão com fome, não têm dinheiro para comprar comida ou pagar o aluguel. Um carro que custava US$ 9.000 havia apenas um mês agora vale um terço, o mesmo para casas.

Ativistas da sociedade civil, jornalistas, aqueles que trabalharam com estrangeiros e ainda não puderam sair do país estão apavorados. Muitos estão se escondendo com amigos, alugando outras casas. Os moradores de Cabul contam que receberam a visita do Talibã. Eles interrogam, ameaçam, revistam casas, confiscam bens e carros. O terror já atingiu parte da população.

Resistência no vale Panshir e no exterior

Se o Talibã vencer, resta um bolsão de resistência: o vale Panshir, a fortaleza do comandante Massoud, assassinado em 9 de setembro de 2001 em um ataque suicida. Ele era a principal figura da resistência contra o Talibã. Seu filho Ahmad já está a postos na região.

No exterior, a diáspora afegã também está se mobilizando. As mensagens são retransmitidas pelas redes sociais, com a hashtag #FreeAfghanistan.