Turquia quer trocar apoio à Finlândia e Suécia na Otan por concessões militares
A Finlândia e a Suécia oficializaram, nesta quarta-feira (18), seus pedidos de adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), motivados pela invasão russa na Ucrânia. No entanto, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, continua bloqueando essas integrações.
Em uma breve cerimônia em Bruxelas, na presença de representantes finlandeses e suecos, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, classificou a iniciativa como um "momento histórico". As candidaturas precisam ser aprovadas pelos 30 membros da aliança, o que pode levar até um ano. O maior obstáculo é a Turquia, abertamente contra a entrada dos dois países nórdicos na organização.
É mais por tática de negociação do que por oposição inflexível que a Turquia demonstra seu poder de veto à candidatura dos governos de Estocolmo e de Helsinque. Publicamente, o presidente turco diz que é por segurança que ele votará "não" à adesão da Suécia e Finlândia ao bloco militar. Mas, com esta mensagem, Erdogan sinaliza que tem interesses a negociar com os Estados Unidos e a União Europeia.
Pelo fim de sanções na compra de armas
Erdogan acusa as duas nações nórdicas de acolher organizações terroristas, numa referência aos integrantes do partido separatista curdo, o PKK. A partir dos anos 80, esses países receberam refugiados políticos curdos. Mais recentemente, em 2019, a Suécia, com apoio dos Estados Unidos, forneceu apoio ao braço armado do PKK na Síria para lutar contra o grupo Estado Islâmico, o que levou a Turquia a estremecer os laços com Washington e também a convocar o embaixador sueco para esclarecimentos no início do ano passado.
Autoridades da Suécia e da Finlândia preveem uma visita à Ancara nos próximos dias para tratar das candidaturas à OTAN. Mas o presidente turco declarou que é melhor nem perderem tempo, porque manifesta querer garantias de antemão. Além de solicitar a extradição de alguns curdos a serem julgados por Âncara - pedido que já foi negado pelas autoridades suecas -, o governo turco também quer de volta a exportação de armas bloqueadas desde o desentendimento na Síria. Para isso, conta com o fim do embargo militar e também com novos acordos para adquirir armas americanas. Em 2020, a Casa Branca impôs sanções à indústria de defesa turca em retaliação à compra de um sistema antimíssil russo.
Mediação na guerra entre Rússia e Ucrânia
A Turquia se posiciona um pouco do lado de cá e um pouco do lado de lá no atual conflito na Ucrânia. Nas entrelinhas, pede agora apoio dos Estados Unidos e da União Europeia. Quando a aliança militar com o Ocidente estremeceu, nos últimos anos, a Turquia foi excluída do programa americano de aviões de combate F-35. Justamente quando o Exército turco resolveu comprar armamento russo. Agora, o governo de Âncara está na expectativa da aprovação do Congresso americano para adquirir de Washington jatos de ataque F-16.
Em linha com o Ocidente, Erdogan tem oferecido suporte à Ucrânia por meio do envio de armas, em particular drones letais. Mas é inegável que também demonstre apoio à Rússia, ao se recusar, por exemplo, a aprovar, ao lado dos ocidentais na OTAN, sanções contra Moscou.
Neste novo episódio da candidatura da Suécia e Finlândia, Erdogan dá voz ao presidente russo. Vladimir Putin, que pouco falou sobre os possíveis novos integrantes do bloco - criado em 1949 para barrar a expansão soviética na Europa. Putin só se pronunciou para afirmar que a expansão militar no território vizinho terá certamente resposta. A Finlândia divide 1.350 quilômetros de fronteira terrestre com a Rússia.
Retórica externa para conquistar popularidade interna
Dois temas costumam acompanhar os discursos públicos de Erdogan: a segurança interna e a ameaça externa. A inflação na Turquia atingiu 70% em abril, devido, em grande parte, aos anos de recusa de Erdogan em aumentar as taxas de juros, enquanto esgotava as reservas de moeda. O país foi atingido pelo aumento global dos custos de energia e bens básicos. Os preços de combustíveis e commodities agrícolas dispararam também por conta da invasão russa na Ucrânia.
Em paralelo, a guerra aumentou a importância da Turquia, localizada entre o Ocidente e o Oriente, no cenário internacional. No conflito, Erdogan desempenha papel de mediador e, ao mesmo tempo em que barra as votações contra Putin, limitou o uso das águas e do espaço aéreo turcos pelos militares russos.
O presidente turco espera garantir sua popularidade enfraquecida ao longo de duas décadas no poder. Ao se mostrar categórico nas suas declarações, ele enaltece o discurso nacionalista, recurso providencial a um ano das eleições presidenciais.
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