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Guerra na Ucrânia: Rússia diz que França deixou de ser um país amigo

Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da França, Emmanuel Macron, se encontram em São Petesburgo - LUDOVIC MARIN/AFP
Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da França, Emmanuel Macron, se encontram em São Petesburgo Imagem: LUDOVIC MARIN/AFP

05/08/2022 11h24Atualizada em 05/08/2022 11h37

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o presidente russo, Vladimir Putin, não se falam há dois meses e a razão é que a França se tornou um país "hostil" com o qual as negociações atualmente não são "necessárias", de acordo com Moscou. A declaração feita pelo Kremlin, nesta sexta-feira (5), demonstra um distanciamento entre os dois chefes de Estado, que chegaram a conversar várias vezes pelo telefone, desde o início do ano.

A última conversa oficial entre Putin e Macron ocorreu no dia 28 de maio, quando os dois líderes discutiram ao telefone, junto com o chanceler alemão Olaf Scholz, sobre o destino dos soldados ucranianos que haviam sido feitos presos pelo Exército russo, durante a operação militar na Ucrânia.

Ao justificar o longo tempo sem um contato entre os dois chefes de Estado, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov foi enfático: "Em primeiro lugar, a França é um Estado hostil em termos das ações que toma em relação ao nosso país".

"Eles não ligam um para o outro porque acham que não é a hora certa, e agora simplesmente não é necessário. Se houver necessidade, eles podem ligar um para o outro em um minuto", acrescentou Peskov.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Longas conversas

Somente no mês de fevereiro, foram cinco ligações entre Putin e Macron. No dia 12, antes da invasão russa, o presidente francês manteve um diálogo de 1h40 minutos por telefone com o líder russo, em que tentou aliviar as tensões nas fronteiras da Ucrânia.

No dia 28 do mesmo mês, a conversa de ambos ao telefone girou em torno das reclamações de Putin de que as exigências russas não estavam sendo ouvidas pelos países ocidentais, em relação à crise ucraniana.

Macron já havia estado pessoalmente em Moscou, no dia 7 de fevereiro, onde se encontrou com Putin. Após cinco horas de reunião em Moscou, o líder russo declarou durante uma coletiva de imprensa que o presidente francês havia apresentado várias iniciativas que mereciam ser estudadas.

Os múltiplos contatos com Moscou renderam críticas ao presidente francês, que foi cobrado por ter mantido trocas regulares com o chefe do Kremlin sem conseguir impedir o lançamento de uma ofensiva russa contra a Ucrânia.

Uma dessas conversas telefônicas entre os dois líderes foi mostrada no documentário "Um presidente, a Europa e a Guerra" (em tradução livre), de Guy Lagache, que foi ao ar na televisão pública francesa, no dia 30 de junho. O diálogo de nove minutos entre os dois presidentes havia ocorrido quatro dias antes da Rússia invadir o território ucraniano.

Gravada no dia 20 de fevereiro, a conversa telefônica mostra uma tentativa de Macron em evitar o conflito na Ucrânia, enquanto a Rússia ampliava os exercícios militares na região da fronteira com o país vizinho. A divulgação a ligação no documentário irritou o governo russo. O chanceler Serguei Lavrov acusou a França de quebrar unilateralmente o sigilo de negociações. "A etiqueta diplomática não permite vazamentos unilaterais de [tais] gravações", disse do chefe da diplomacia russo depois que o conteúdo veio a público.

Sanções

A Rússia qualifica como "hostis" os países que, como a França, impuseram sanções contra Moscou após a intervenção na Ucrânia.

O Kremlin vem estendendo essa lista de países "hostis" sujeitos a medidas de retaliação por Moscou. Agora ela inclui Estados Unidos, Austrália, Canadá, Reino Unido, Nova Zelândia, Japão, Coreia do Sul, Noruega, Taiwan e todos os membros da União Europeia.

Na prática, indivíduos e empresas russas podem pagar suas dívidas com a França e outros países "hostis" em rublos, moeda cujo valor perdeu 45% desde janeiro.

Rússia expulsa diplomatas búlgaros

No mesmo dia em que declarou a França "hostil", a Rússia também anunciou a expulsão de 14 diplomatas búlgaros em retaliação às medidas tomadas por Sofia contra Moscou, num contexto de tensão em torno do conflito na Ucrânia.

"Esta medida é uma resposta à decisão totalmente injustificada do lado búlgaro de declarar persona non grata 70 funcionários de nossas instituições no exterior e de introduzir cotas para pessoal diplomático, administrativo e técnico da Rússia na Bulgária", informou a diplomacia russa, em um comunicado.

A Rússia acrescenta que a medida reflete, ainda, uma resposta ao fechamento temporário do consulado russo na cidade búlgara de Ruse. "A responsabilidade por essas últimas medidas contraproducentes é inteiramente do governo búlgaro", acrescentou Moscou.

Agora membro da UE e da OTAN, a Bulgária, um forte aliado do governo comunista durante a União Soviética, ainda mantém estreitos laços culturais, históricos e econômicos com a Rússia. Mas uma série de escândalos de espionagem, desde 2019, azedaram as relações bilaterais entre os dois países. A ofensiva do Kremlin à Ucrânia prejudicou ainda mais as relações.

Muitos países europeus expulsaram diplomatas russos após a intervenção militar na Ucrânia, e Moscou responde com medidas semelhantes.

(Com informações da AFP)