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Após anúncio de Putin, crescem buscas no Google por passagens e para deixar a Rússia

RFI

21/09/2022 09h50

O anúncio de Vladimir Putin de uma mobilização parcial para reforçar suas tropas na Ucrânia levou nesta quarta-feira (21) a uma correria nos sites das companhias aéreas para tentar deixar a Rússia o mais rápido possível. Os bilhetes para voos diretos para os destinos mais próximos da Rússia estão todos esgotados para hoje.

A mobilização inicialmente diz respeito a 300 mil reservistas, mas de acordo com o Ministério da Defesa, um total de 25 milhões de russos podem ser mobilizados para juntar-se ao exército no leste e sul da Ucrânia.

Segundo o Google Trends, uma ferramenta estatística que rastreia a frequência com que uma palavra é digitada no Google, as buscas na Rússia por "bilhetes" e "avião" mais que dobraram desde as 6h GMT (3h da manhã em Brasília) da madrugada desta quarta-feira, com o início da transmissão do discurso televisivo gravado por Vladimir Putin.

A pergunta "deixar a Rússia" foi feita no Google 100 vezes a mais pela manhã do que nos tempos normais.

A região de Belgorod, que faz fronteira com o nordeste da Ucrânia e foi atingida várias vezes desde o final de fevereiro por foguetes ucranianos, também encabeça a lista de onde essas buscas foram feitas.

Fugir para as montanhas

Os bilhetes para voos diretos para os destinos mais próximos da Rússia - Armênia, Geórgia, Azerbaijão e Cazaquistão - estão todos esgotados para esta quarta-feira (21), de acordo com Aviasales, um popular site russo de venda de bilhetes.

Para viagens para Istambul com a Turkish Airlines, que se tornou uma das principais rotas para fora do país por avião desde as sanções ocidentais e o fechamento do espaço aéreo europeu, "todos os voos estão totalmente reservados" até sábado.

Na AirSerbia, o próximo voo para Belgrado com assentos disponíveis estava programado para segunda-feira (26).

Os preços dos voos domésticos para cidades próximas às fronteiras do país também explodiram, como mostram os bilhetes oferecidos de Moscou para Vladikavkaz (sul) por mais de US$ 750... em comparação com o preço normal de apenas US$ 70.

No início da ofensiva russa na Ucrânia, houve um êxodo inicial de russos que se opunham ao assalto ou temiam a mobilização. Nenhuma estimativa oficial foi tornada pública, mas envolveu pelo menos dezenas de milhares de pessoas.

Uma petição online no site change.org para denunciar a mobilização reuniu 160.000 assinaturas em poucas horas.

Procurando soldados até em hospitais psiquiátricos

Para Nicolas Tenzer, cientista político entrevistado pela RFI, a mobilização militar parcial é um sinal de uma situação de emergência para o exército russo na Ucrânia. "Como vimos durante várias semanas e até mesmo desde o início das operações, o exército russo é extremamente frágil. Sofreu derrotas consideráveis. Provavelmente já perdeu mais de 50.000 homens. O que significa, além disso, 150.000 feridos. Portanto, unidades inteiras não são mais capazes de lutar", avalia.

Segundo o especialista, trata-se de "uma tentativa de fazer com que as coisas se cumpram, por assim dizer". "O exército russo foi à procura de um certo número de pessoas nas prisões para transformá-las em soldados improvisados, além de hospitais psiquiátricos e até pessoas com mais de 50 anos de idade, ou seja, russos não necessariamente muito aptos a lutar. E há, de fato, esta mobilização parcial, simplesmente porque não há mais soldados, não há mais exército. Também sabemos que esta mobilização parcial não resolverá o problema porque os soldados ainda precisam ser treinados. E o exército russo de hoje é igualmente incapaz de fazer isso", insiste o especialista.

Para Tenzer, o fato do Ocidente e até Recep Tayyip Erdogan, o presidente turco, um dos mediadores neste conflito, estarem intermediando a conversa com Kiev, bem como com Moscou, é um sinal do isolamento da Rússia.

"A Rússia parece estar cada vez mais isolada. Vimos isso até mesmo na cúpula da Samarcanda com declarações críticas, para dizer o mínimo, do presidente indiano e até mesmo dos chineses. Vimos também, durante a votação na Assembleia Geral da ONU", afirmou.

"A maioria dos países - mesmo uma maioria muito grande, já que apenas alguns Estados como Síria e Eritreia votaram contra Zelensky falando - finalmente aceitou, inclusive as antigas repúblicas [soviéticas] da Ásia Central, que estão começando a ver cada vez mais que Moscou, antes de tudo, não é um fiador, mas acima de tudo, não é um parceiro viável. Portanto, sim, a Rússia está cada vez mais isolada e, como sabemos, Erdogan os apoia. Ele está até dando drones para a Ucrânia. Ninguém vai reconhecer estes referendos, isso é óbvio", finaliza o cientista político.