Biden deve enfrentar mais resistência em 2023 para enviar ajuda à Ucrânia
A Casa Branca deve encontrar resistência entre os republicanos alinhados à visão nacionalista da América para a aprovação de pacote de ajuda à Ucrânia que está em análise no Congresso dos Estados Unidos.
Na noite dessa quarta-feira (21), o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky fez um discurso no Congresso americano finalizando a visita anunciada de última hora a Washington para acertar detalhes de uma ajuda financeira e assistência ao país que há 10 meses está em guerra contra a Rússia. Foi a primeira viagem do presidente da Ucrânia ao exterior.
Com a pressão da inflação, ameaça de recessão, a ajuda financeira para a Ucrânia pode ser um desafio para o presidente Joe Biden. Isso porque caberá ao Congresso aprovar o pacote adicional de US$ 45 bilhões que a Casa Branca pretende enviar aos ucranianos.
Vai ser difícil juntar os votos com a nova configuração das duas casas legislativas. Após as eleições de meio de mandato em novembro, os republicanos têm uma pequena vantagem na Câmara dos deputados e Biden manteve uma apertada maioria no Senado.
E se numericamente a vantagem é quase um empate nas duas casas, a ajuda a um país estrangeiro vai ser ainda mais criticada pelos republicanos, sobretudo porque o próximo ano será de muita pressão da oposição - vai ser o terceiro ano do mandato democrata e com republicanos já de olho nas eleições presidenciais de 2024.
Cenário mudou
Até agora, o governo Biden enviou quase US$67 bilhões em assistência econômica e militar à Ucrânia. Parte desse montante, foi um pacote de U$40 bilhões aprovado em maio, com 358 votos a favor, e somente 57 contrários na Câmara. No Senado, na época, só 11 senadores votaram contra o projeto para aprovação final.
Por outro lado, agora politicamente, os republicanos, a imprensa contrária a Biden e parte da população se mostram cada vez mais críticos com relação a essa ajuda, tanto pelos problemas na economia, quanto devido a problemas como a crise de imigração e humanitária na fronteira do México e Estados Unidos, sobretudo no Texas.
Em uma pesquisa realizada em novembro, pouco mais da metade dos eleitores republicanos apoiaram a ajuda à Ucrânia - muito abaixo dos 80% que expressavam apoio em março, logo após o início da guerra.
Caridade e moletom
Para a Ucrânia, a visita surpresa de Volodymyr Zelensky valeu a pena. Os EUA anunciaram que vão fornecer quase US$2 bilhões adicionais em assistência militar, o que inclui a transferência de um sistema de defesa aérea chamado Patriot, considerado extremamente eficaz e de alto custo, além de tanques de guerra, artilharia e mísseis.
Quanto ao discurso na noite da quarta-feira, Zelensky dirigiu-se ao Congresso e à população em inglês. Ele disse que a ajuda não deve ser vista como caridade, mas como um investimento do governo norte-americano na democracia mundial.
Essa afirmação do presidente ucraniano também foi criticada. A imprensa alinhada aos republicanos condenou até mesmo o moletom verde usado por Zelensky, ao dizer que ele deveria ter se apresentado mais formalmente no Capitólio, e se de fato não se trata de caridade.
No Twitter, o deputado republicano Andy Biggs escreveu: "Chega de cheques em branco para a Ucrânia". Biggs é um dos líderes emergentes dentro da ala mais nacionalista alinhada a Donald Trump.
Mas por outro lado, ao longo do dia, democratas alinhados a Biden fizeram de tudo para apoiar a visita. A atual líder democrata da Câmara, Nancy Pelosi, fez de tudo para levar senadores e deputados ao Congresso, em uma semana próxima ao Natal e em um dia de nevasca em boa parte do centro-leste do país.
Na Casa Branca, antes do evento no Congresso, Biden havia usado o mesmo argumento de Zelensky na defesa da democracia para reafirmar o apoio ao país em guerra contra a Rússia. Biden disse que as ações comandadas por Vladimir Putin são um ataque brutal ao direito dos ucranianos de existir como nação. E reiterou que os Estados Unidos vão fortalecer a capacidade da Ucrânia de se defender com treinamento e mais envio de mísseis. Mas isso vai depender não apenas dele, mas muito da vontade do Congresso que estará cada vez mais pensando em 2024.
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