Peru: manifestantes vão à capital para protestos e nova greve contra governo
Caravanas com milhares de manifestantes do interior do país chegam à capital peruana nesta quarta-feira (18) e nesta quinta-feira (19), quando também começa uma nova greve geral contra o governo. A renovação do "estado de emergência" mantém latente o risco de enfrentamentos com o Exército enquanto a presidente Dina Boluarte tenta abrir um canal de diálogo com manifestantes para garantir a governabilidade. Peru e Brasil serão os assuntos centrais da reunião de cúpula latino-americana na Argentina.
Caravanas com milhares de manifestantes do interior do país chegam à capital peruana nesta quarta-feira (18) e nesta quinta-feira (19), quando também começa uma nova greve geral contra o governo. A renovação do "estado de emergência" mantém latente o risco de enfrentamentos com o Exército enquanto a presidente Dina Boluarte tenta abrir um canal de diálogo com manifestantes para garantir a governabilidade. Peru e Brasil serão os assuntos centrais da reunião de cúpula latino-americana na Argentina.
Ao longo dos próximos dois dias, cerca de 50 mil manifestantes, de diversas regiões do Peru, sobretudo do sul, chegarão a Lima através de caravanas de carros e de caminhões para pressionarem pela renúncia da presidente Dina Boluarte. Paralelamente, nesta quinta-feira começa uma nova greve nacional convocada pela Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru contra o governo há cinco semanas em exercício. Pelo país, 99 bloqueios nas estradas reforçam os protestos.
Essas manifestações tentam repetir as maciças manifestações que, em 2000, forçaram a renúncia do então presidente Alberto Fujimori, mas Dina Boluarte promete resistir no cargo. Para isso, no domingo (15), renovou o "estado de emergência", que permite a ação do Exército para conter a onda de protestos.
Esse "estado de emergência" rege em sete regiões, incluindo a capital, Lima, para onde se desloca o foco das manifestações nesta semana. O uso da força tem elevado o grau de letalidade nos confrontos entre as forças de segurança e os manifestantes. A repressão já fez 49 vítimas fatais, mais de 500 feridos e mais de 300 presos.
Nas últimas horas, a presidente Boluarte disse ser consciente de que os manifestantes querem ocupar a capital.
"Sabemos que querem ocupar Lima nos dias 18 e 19. Podem tomar Lima, mas em paz, com calma", pediu a governante, acrescentando que "espera os manifestantes no Palácio de Governo para poder dialogar sobre as agendas sociais".
Vice-presidente até dia 7 de dezembro, Dina Boluarte tenta abrir um canal de diálogo com os manifestantes para atender algumas demandas sociais em troca de governabilidade, mas os líderes dos protestos não a reconhecem como presidente.
Demandas rejeitadas
As eleições peruanas foram antecipadas em dois anos, de abril de 2026 a abril de 2024, um calendário considerado insuficiente. Os manifestantes querem a renúncia da presidente Dina Boluarte e eleições imediatas. Querem a renúncia de todos os legisladores e a convocação de uma Assembleia Constituinte. Muitos querem também a liberdade do ex-presidente Pedro Castillo. Todas as demandas são políticas e rejeitadas pelo governo.
Castillo foi preso depois de, no dia 7 de dezembro, ter tentado um autogolpe que pretendia fechar o Congresso e governar por decreto. Apesar dessa tentativa de golpe, populares e camponeses viram nessa destituição do presidente de esquerda uma manobra por parte de um Congresso, dominado pela direita e rejeitado pela população.
Segundo uma pesquisa do Instituto de Estudos Peruanos, publicada no domingo passado, para 71% dos peruanos, o governo de Dina Boluarte é negativo. E 88% dos peruanos desaprovam o atual Parlamento.
Cenário de caos
Depois de cinco semanas de protestos, o panorama no Peru é caótico. De um lado, violentos bloqueios de estradas, vandalismo e greves. Do outro, repressão militar, toque de recolher e suspensão dos direitos constitucionais.
Só nos protestos do dia 9 de janeiro, morreram 17 das 49 vítimas até agora.
As visitas à cidade inca de Machu Picchu, no sul do país, estão proibidas desde o dia 14 de dezembro. Nessa região, está o epicentro dos violentos enfrentamentos entre manifestantes de forças de segurança. Mais de 60% das reservas a Machu Picchu foram canceladas até o segundo semestre.
Os analistas coincidem no diagnóstico de que a saída dessa crise só virá com um novo governo e com um novo Congresso. Essa percepção aparece nas sondagens cujo resultado a favor de eleições antecipadas supera sempre os 80%.
"A então vice-presidente, Dina Boluarte, não só trocou de faixa. Também trocou de lado, passando da esquerda à direita, aliando-se com o establishment político. Os setores de direita aproveitaram o erro político de Pedro Castillo para retirá-lo do poder e deram todo o apoio à Dina Boluarte", indica à RFI o analista político peruano Carlos Meléndez, da universidade chilena Diego Portales.
Aliança com militares
Para Meléndez, o rastro de violência da repressão leva os militares a precisarem de impunidade. Essa dependência forjou uma aliança entre as forças de segurança e a presidente Boluarte, base de sustentação do novo governo.
"A possibilidade de que o governo aguente por mais tempo no poder vai depender mais dos militares do que da pressão das ruas. Com tantos mortos nos protestos, os militares precisam de impunidade e aliaram-se a Boluarte", diz o especialista, ressaltando, no entanto, o papel do anti-establishment.
"O anti-establishment também está ativo no sul do país. O anti-establishment não está em Lima, mas nas estradas do interior do país. Querem no poder alguém que se comprometa a desmontar o poder tal como está. Essa divisão territorial entre o sul do país e a capital Lima é a nova polarização do Peru", explica Meléndez.
Vizinhos desconhecem novo governo
Outra polarização é a ideológica internacional. Dina Boluarte é considerada uma presidente constitucional pela comunidade internacional, mas alguns países de esquerda da região não a reconhecem.
Apesar de o então presidente Pedro Castillo ter tentado um autogolpe, os aliados do destituído acreditam que, na verdade, Pedro Castillo foi vítima de um "assédio político" por parte da maioria de direita do Congresso que não o deixou governar.
Argentina, Bolívia, Colômbia e México exigem a restituição do destituído Pedro Castillo. Por uma questão estratégica para não desgastar a postura, Cuba, Nicarágua e Venezuela não assinaram o documento, mas apoiam Castillo.
Essa questão peruana e os ataques à democracia no Brasil serão os eixos centrais da reunião dos 33 países da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos, em Buenos Aires, na próxima terça-feira (24).
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