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Caso Emmily: laudo confirma que brasileira usou álcool, maconha e cocaína

Emmily Rodrigues, 26 anos, morreu em Buenos Aires - Reprodução/Redes Sociais
Emmily Rodrigues, 26 anos, morreu em Buenos Aires Imagem: Reprodução/Redes Sociais

10/05/2023 08h51

A esteticista brasileira Emmily Rodrigues Santos Gomes, 26 anos, morta após cair do apartamento do empresário Francisco Sáenz Valiente, 52 anos, em 30 de março passado, consumiu álcool, maconha, cocaína, MDMA (metilenodioximetanfetamina) e quetamina (anestésico geral). É o que indica o laudo toxicológico divulgado na noite desta terça-feira (9), 40 dias depois da queda do sexto andar de um edifício na Recoleta, zona nobre de Buenos Aires.

O laudo do Laboratório de Toxicologia e Química Legal do Corpo Médico Forense da Argentina confirma que Emmily consumiu várias substâncias, como disseram as testemunhas, e que ela foi drogada, como acreditam os pais e as amigas da brasileira.

"O resultado toxicológico confirma a nossa versão, a de que Emmily consumiu muita cocaína e cocaína rosa. Era uma moça que gostava de drogas", indica à RFI Rafael Cúneo Libarona, advogado do empresário Sáenz Valiente.

Para o advogado da família de Emmily, Ignacio Trimarco, o exame compromete o acusado como fornecedor de drogas. Na Argentina, o consumo pessoal de drogas não é delito, mas o fornecimento a terceiros, sim.

"Esse resultado confirma a acusação da Promotoria quanto ao fornecimento de drogas. Todas as testemunhas dizem que ninguém levou drogas ao apartamento, que Emmily só tinha levado meio cigarro de maconha e que quem forneceu as drogas foi o indiciado Francisco Sáenz Valiente. Portanto, a acusação de fornecimento ilegal de drogas fica comprovado", disse Ignacio Trimarco à RFI.

Mas os exames realizados no empresário revelaram que o acusado só consumiu cocaína. Para Ignacio Trimarco, isso mostra que o empresário estava consciente dos efeitos das drogas nas quatro meninas presentes no apartamento: a cubana Dafne Santana, que se retirou do apartamento às 6h, a argentina Lía Alves, que foi embora às 8h, e a médica brasileira Juliana Magalhães Mourão, única testemunha da morte de Emmily, que ocorreu às 9h18 do dia 30 de março.

"Francisco Sáenz Valiente fornecia uma droga (cocaína rosa) que ele não consumia. Ele conhecia os efeitos das drogas e fornecia para as meninas que foram à casa dele. Por isso, não a consumiu", suspeita Trimarco.

"No exame dele não aparece cocaína rosa porque ele não gosta de cocaína rosa. Isso não confirma nada porque as testemunhas disseram que cada uma tinha a sua droga e que Francisco Sáenz Valiente tinha a droga dele para consumo pessoal. As testemunhas dizem que Emmily consumia de tudo o tempo todo", acusa o advogado de Valiente.

'Prato de doces'

O acusado e as testemunhas disseram que as drogas estavam numa mesa de centro na sala, que ninguém ofereceu nada e que cada um se servia à vontade.

"Esse argumento da defesa não tem nenhuma validade. Ao expor as drogas, ele já está oferecendo. Eu te recebo na minha casa com um prato de doces. O que isso significa? Um convidado pode até recusar, mas isso exime quem oferece de culpa", afirma Ignacio Trimarco.

De acordo com o exame de sangue, Emmily Gomes tinha "um grama de álcool no sangue e rastros de metilecgonidina (cocaína)". O exame da bile detectou cocaína e quetamina e o de urina, maconha, cocaína, MDMA e quetamina. Nas fossas nasais, foram encontrados rastros de cocaína.

Pela versão da defesa, a brasileira Emmily Gomes suicidou-se depois de um surto psicótico provocado pela mistura de drogas, especialmente de cocaína rosa, uma droga que pode provocar efeitos psicodélicos. Já para a acusação, o empresário cometeu um feminicídio para encobrir uma tentativa de abuso sexual "frustrada", quando Emmily se deu conta da situação.

"Os resultados dos exames comprovam que Emmily tenha sofrido um surto psicótico. Só comprovam que Emmily consumiu drogas, por vontade própria ou não. Podem ter posto droga em um copo sem que ela soubesse o que tinha dentro", questiona o advogado da família de Emmily, Ignacio Trimarco, sublinhando que "essas drogas, por si só, não provocam nenhum surto".

Os exames nos copos usados serão divulgados nas próximas semanas, assim como a perícia numa seringa encontrada no apartamento com um conteúdo líquido não identificado.

Surto suicida ou feminicídio?

O advogado da defesa garante que o surto psicótico foi comprovado pelos depoimentos. Já o advogado da acusação cita os testemunhos de vizinhos que viram uma jovem gritar, pedindo socorro, sem pronunciar "palavras incoerentes."

A autópsia não encontrou sêmen no corpo da brasileira, embora no apartamento tenham sido apreendidos uma maca de massagem, lingerie, preservativos usados (antigos, sem vestígios de sêmen nem de sangue) e sex toys.

O médico legista responsável pela autópsia, Héctor Di Salvo, declarou que todas as feridas e politraumatismos eram compatíveis com a queda e não abuso sexual.

Em uma das gravações ao número de emergência, a voz de Emmily ao fundo grita "fui furada", em referência a alguma injeção. A autópsia, no entanto, não encontrou provas.

No próximo dia 16, haverá uma nova na audiência na Corte de Apelações. A Promotoria e o advogado Ignácio Trimarco vão pedir que o empresário, libertado no dia 18 de abril, volte à prisão preventiva.