Pânico e sirenes: o que se sabe sobre queda de 'satélite espião' norte-coreano
A Coreia do Norte fracassou na tentativa de colocar em órbita o que diz ser seu primeiro satélite espião. O foguete que o transportava apresentou uma falha técnica e caiu com o equipamento no mar, não sem antes causar pânico na Coreia do Sul e no Japão, que ativaram sirenes contra um possível ataque.
Por que a Coreia do Norte tanto quer um satélite espião?
Pyongyang anunciou na terça-feira (30) que colocaria o satélite espião Malligyong-1 em órbita para "enfrentar as perigosas ações militares dos Estados Unidos e de seus vassalos". O comentário foi uma referência aos exercícios militares conjuntos de Washington e Seul nas proximidades da península coreana, que Pyongyang considera ensaios para uma invasão.
A missão do satélite é monitorar os principais rivais da Coreia do Norte. Assim, o país teria "olhos no céu" e conseguiria colher mais dados de seus testes de armamentos.
A missão também servia como teste para que esse tipo de foguete, o Chollima-1, carregue armas nucleares.
Embora não comunique com antecedência sobre seus testes de mísseis, o governo ditatorial de Pyongyang geralmente fornece informações sobre seus programas espaciais, que são apresentados como pacíficos, e avisou que esse lançamento ocorreria entre 31 de maio e 11 de junho.
Apesar do anúncio do lançamento do satélite espião, especialistas põe em xeque a capacidade real da Coreia do Norte construir artefatos com tal capacidade.
Por que o lançamento fracassou?
"O novo foguete de transporte de satélites 'Chollima-1' caiu no Mar Ocidental (Amarelo) depois de perder o força devido ao arranque irregular do motor", informou a agência oficial norte-coreana de notícias KCNA.
Na Coreia do Sul, a agência Yonhap afirmou que o projétil "desapareceu rapidamente dos radares antes de alcançar o ponto de chegada previsto".
Seul divulgou imagens dos destroços do satélite e do lançador, que a Coreia do Sul afirma ter recuperado no Mar Amarelo, a 200 km da ilha de Eocheong.
As imagens mostram uma grande estrutura metálica em forma de cilindro, com alguns tubos e cabos na extremidade.
E agora?
Não se sabe se por sorte ou se por planejamento, mas tanto sul-coreanos quanto norte-americanos afirmaram estar na região do impacto do foguete com a água, colhendo peças do equipamento.
"Com a recuperação dos destroços, os especialistas poderão ter uma ideia das capacidades da Coreia do Norte em relação ao lançamento de foguetes de grande porte", declarou à AFP o analista norte-americano Ankit Pand, que desenvolve estudos sobre a Coreia do Norte nos Estados Unidos.
O fracasso desta quarta-feira deve ser considerado um revés temporário para o líder norte-coreano, Kim Jong Un, que seguirá estimulando o desenvolvimento dos programas nuclear e de satélites, de acordo com os analistas.
"Sabemos que a determinação de Kim não termina com esta atividade recente", declarou Soo Kim, da LMI Consulting e ex-analista da CIA, à AFP. Ele acrescentou que o lançamento pode ser um "prelúdio para novas provocações, incluindo o teste nuclear sobre o qual há muito especulamos".
Após o rompimento do diálogo com Washington sobre o programa nuclear norte-coreano em 2019, Pyongyang intensificou o desenvolvimento de seu programa nuclear, com uma série de testes de armas, incluindo o lançamento de vários ICBMs. Desde 1998, a Coreia do Norte lançou cinco satélites, três dos quais falharam imediatamente e dois parecem ter atingido a órbita, embora seus sinais nunca tenham sido detectados de forma independente, o que pode ser provocado por um mau funcionamento.
A reação dos rivais
O governo norte-americano condenou o lançamento, que utilizou "tecnologia de mísseis balísticos" e "corre o risco de desestabilizar a situação de segurança na região e fora dela", disse Adam Hodge, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA.
O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, também condenou o experimento, que foi realizado "em flagrante violação das resoluções da ONU".
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu à Coreia do Norte que pare com essas operações e retorne à mesa de negociações. "Qualquer lançamento com tecnologia de mísseis balísticos é contrário às resoluções do Conselho de Segurança", afirmou Guterres em um comunicado.
O Japão também condenou o lançamento e lembrou que a iniciativa viola as resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Como foguetes de longo alcance e lançadores espaciais compartilham a mesma tecnologia, os analistas acreditam que o desenvolvimento da capacidade de colocar um satélite em órbita daria a Pyongyang a cobertura para testar mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) proibidos pelas resoluções da ONU.
Pânico e confusão
O lançamento, no início da manhã, provocou grande confusão no Japão e na Coreia do Sul. Em Seul, capital sul-coreana, as sirenes foram acionadas e a prefeitura enviou a todos os smartphones um alerta de "emergência crítica" às 6h41 (18h41 de terça-feira em Brasília). O alerta, que pedia a todos os cidadãos que se preparassem para uma evacuação, com prioridade para "crianças e idosos", foi cancelado poucos minutos depois. O ministério do Interior informou que a mensagem foi enviada por engano.
O Exército sul-coreano, citado pela agência Yonhap, destacou que a área metropolitana de Seul não foi ameaçada pelo foguete.
"Eu estava levando meus filhos pequenos para um estacionamento no subsolo", declarou à AFP um homem de 37 anos, que estava "indignado" com o erro.
Também foi divulgado um alerta de míssil para a província japonesa de Okinawa (sul). A população recebeu a orientação de procurar abrigo, mas a advertência foi suspensa 30 minutos depois.
A Administração Nacional de Desenvolvimento Aeroespacial da Coreia do Norte atribuiu a falha no lançamento à "baixa confiabilidade e estabilidade do novo sistema de motor aplicado ao Chollima-1 e à natureza instável do combustível utilizado". A agência afirmou que pretende investigar de maneira profunda as "falhas graves" reveladas no lançamento do satélite e que fará uma nova tentativa "o mais rápido possível".
Com informações da AFP
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