Putin pode ser preso ao visitar Mongólia? Entenda a viagem do líder russo

O presidente russo, Vladimir Putin, iniciou uma visita de dois dias à Mongólia. Ele desembarcou no país na segunda-feira (2), em sua primeira viagem a um Estado membro do TPI (Tribunal Penal Internacional) desde a emissão de sua ordem de prisão por supostos crimes de guerra na Ucrânia, em março de 2023. Putin não foi importunado e busca, nesta visita, recuperar a influência que vem perdendo no vizinho asiático.

Risco de prisão

Visivelmente, as autoridades locais não têm a intenção de cumprir a ordem de prisão contra Putin, acusado de suposta "deportação" de crianças ucranianas dos territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia, uma guerra que se arrasta há dois anos e meio.

Até agora, Putin não havia se deslocado aos países membros do TPI desde que a detenção foi emitida em março de 2023. Embora o líder russo tenha enfrentado o isolamento internacional devido à invasão da Ucrânia, visitou a Coreia do Norte e o Vietnã no mês passado e também esteve na China duas vezes no ano passado. Por outro lado, ele faltou à cúpula do Brics na África do Sul.

Por ter aderido ao Estatuto de Roma do TPI desde 2002, a Mongólia teoricamente corre o risco de receber sanções pela desobediência às regras do tratado. No entanto, interesses geopolíticos e econômicos, assim como sua dependência de Moscou, fazem o país ignorar as pressões internacionais. Casos precedentes de descumprimento do Estatuto de Roma, que rege o TPI, também explicam a aparente despreocupação das autoridades mongóis com eventuais sanções.

Por que os países 'se gostam'?

Vladimir Putin e o presidente mongol, Ukhnaagiin Khurelsukh, avaliam nesta visita oficial as perspectivas de desenvolvimento das relações bilaterais num contexto de tensões internacionais e regionais. Vários documentos deverão ser assinados pelos dois líderes.

A situação geográfica da Mongólia, encravada entre a China e a Rússia, dois países de regimes autoritários, exige constantes malabarismos das autoridades em relação aos incômodos vizinhos. O país exporta carvão para a China, de um lado, mas 95% dos seus produtos petrolíferos são importados da Rússia.

Nos últimos anos, as autoridades buscaram ampliar as parcerias com "vizinhos terceiros", seguindo uma linha estratégica consensual dentro da democracia mongol. Assim, em 2023, o governo mongol assinou um acordo com a França para a exploração de uma mina de urânio. Recentemente, a ampla coligação que lidera o país desde as eleições legislativas de junho não incluiu no seu programa a construção de um projeto de gasoduto que atravessaria a Mongólia para exportar mais gás russo para a China.

Diante dessa relativa perda de influência, Putin busca reforçar as relações bilateriais históricas. Poucos dias antes da visita do líder do Kremlin, um projeto milionário de renovação de uma central elétrica a carvão, financiado com um empréstimo russo, foi aprovado com urgência no Parlamento.

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Na agenda desta terça-feira, Putin e Khurelsukh assistem a uma cerimônia que assinala a vitória, em 1939, das tropas soviéticas e mongóis sobre o exército japonês que tinha tomado o controle da Manchúria, no nordeste da China. Milhares de soldados morreram durante meses de combates numa disputa sobre a fronteira entre a Manchúria e a Mongólia.

Antes do colapso da União Soviética em 1991, a Mongólia era um Estado satélite da ex-URSS.

Recebido com honras militares

O líder do Kremlin desembarcou em Ulan Bator na segunda-feira (2). Apesar dos apelos do TPI, das autoridades ucranianas, da União Europeia (UE) e de várias OGNs, como a Anistia Internacional, para que fosse detido, o presidente russo foi recebido calorosamente no aeroporto internacional da capital pelo ministro das Relações Exteriores Batmunkh Battsetseg. Depois, foi acolhido pelo presidente mongol na imponente praça Genghis Khan, também conhecida como praça Sukhbaatar.

Uma banda tocou melodias marciais e os hinos nacionais russo e mongol enquanto os dois líderes permaneceram na praça perto dos soldados mongóis, vestidos com trajes tradicionais, alguns à cavalo, na presença das delegações dos dois países.

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