Parlamento Europeu aprova composição da nova Comissão Europeia com vice-presidente de extrema direita

O Parlamento Europeu aprovou nesta quarta-feira (27), em Estrasburgo, a composição da nova Comissão Europeia, liderada pela alemã Ursula von der Leyen. O órgão executivo do bloco, eleito para um mandato de cinco anos, recebeu 370 votos favoráveis, 282 contra e 36 abstenções. A Comissão tomará posse em 1º de dezembro e terá que enfrentar o retorno de Donald Trump à Casa Branca, a guerra na Ucrânia, tensões comerciais com a China, uma crise industrial na Europa e as mudanças climáticas.

Ao apresentar sua equipe de 26 comissárias e comissários ao plenário do Parlamento, Ursula von der Leyen disse que o bloco "não tem tempo a perder" para reforçar sua defesa e sua economia. "Devemos ser tão ambiciosos quanto as ameaças são graves", disse a dirigente alemã pouco antes da votação, no leste da França. "A segurança europeia será sempre uma prioridade para esta Comissão", acrescentou. A guerra, disse ela, está nas "fronteiras da Europa e devemos estar preparados para o que nos aguarda". Von der Leyen ainda destacou que a liberdade e a soberania do bloco europeu dependem "mais do que nunca" da sua força econômica.

A definição dos integrantes da Comissão Europeia havia sido bloqueada na semana passada, mas um acordo entre os três principais blocos políticos acabou com o impasse e abriu caminho para a sessão desta quarta-feira. A aprovação legislativa permitirá que o grupo presidido por Von der Leyen inicie um mandato de cinco anos.

Um acordo entre o Partido Popular Europeu (PPE, direita), os Socialistas e Democratas (S&D, centro-esquerda) e o Renew (liberais centristas) preparou o cenário para a aprovação dos 26 comissários e comissárias. Além disso, o acordo compromete o PPE a permanecer na aliança, um pilar fundamental dos grandes acordos no Parlamento Europeu, e impede que o partido busque constituir maioria com a extrema direita.

O processo foi obstruído pelas objeções do S&D e do Renew à nomeação do italiano Rafaelle Fitto, do partido de extrema direita Irmãos de Itália, como um dos vice-presidentes da Comissão. Em contrapartida, o PPE expressou oposição à nomeação da socialista espanhola Teresa Ribera como primeira vice-presidente, o que deixou o processo em um impasse. Mas Von der Leyen tinha pressa em conseguir a confirmação de sua equipe, já que a UE busca desesperadamente definir um plano para enfrentar os desafios geopolíticos que o bloco tem pela frente.

Desafios

O desafio mais urgente é representado pelo retorno de Donald Trump à Casa Branca e a possibilidade de tensões comerciais. A Comissão também deve elaborar um plano coletivo para administrar a guerra entre Rússia e Ucrânia, o conflito no Oriente Médio e as crescentes tensões comerciais com a China.

Para a sueca Ylva Johansson, que deixará o cargo de comissária europeia para a Migração, a nova equipe enfrentará "mais ameaças", mas é um grupo mais "operacional" que aquele que iniciou o mandato em 2019 e termina agora sua gestão.

A direita controlará 15 das 26 pastas da Comissão. Para o alemão Manfred Weber, presidente do PPE, o grupo majoritário no Parlamento Europeu, trata-se de uma equipe "muito equilibrada". Weber, no entanto, recebeu fortes críticas por sua disposição de estabelecer uma aproximação com os partidos de extrema direita no Parlamento em busca de apoio.

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Nesta quarta-feira, a líder do grupo S&D, a espanhola Iraxte García, advertiu que "os acordos devem ser cumpridos". O apoio social-democrata ao acordo com a direita e os centristas "não é um cheque em branco", acrescentou.

A nomeação do ultradireitista Fitto continua sendo uma ferida aberta e, apesar do acordo entre os três blocos. O eurodeputado social-democrata francês Raphael Glucksmann disse que "uma linha vermelha" foi cruzada com a aprovação de Fitto como vice-presidente.

Primeiros 100 dias de gestão

Von der Leyen já anunciou que uma das prioridades de seu novo mandato será renovar as perspectivas econômicas da UE, evitando o que Mario Draghi, ex-primeiro-ministro italiano, descreveu como a "lenta agonia" do declínio. A União Europeia não consegue acompanhar o ritmo dos Estados Unidos e enfrenta a crescente concorrência da China, em um cenário que inclui baixa produtividade, crescimento lento, custos elevados da energia e investimentos frágeis.

A agenda inclui pontos sensíveis, como a redução da burocracia, a criação de uma poupança conjunta entre países e investimentos para facilitar o acesso das empresas ao capital necessário para o desenvolvimento de projetos de inovação e para estimular o setor de inteligência artificial.

A sempre difícil questão agrícola

Os agricultores europeus estão mobilizados há quase um ano, sobrecarregados pelas exigências das metas ambientais da UE e, mais recentemente, em pé de guerra contra a assinatura de um acordo comercial com o Mercosul. A UE almeja finalizar o pacto com Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai durante uma reunião de cúpula em Montevidéu, no início de dezembro. No entanto, a França procura aliados para inviabilizar os planos para a assinatura do acordo e obteve, nesta terça-feira, sinal positivo da Polônia.

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Von der Leyen também prometeu apresentar uma "visão para a agricultura e a alimentação" que garanta "a competitividade e a sustentabilidade" do setor agrícola.

Defesa

Fortalecer as defesas da Europa é uma prioridade desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022, mas a reeleição de Trump acrescentou urgência ao tema.

"Precisamos gastar mais (em defesa), gastar melhor, gastar juntos", disse Von der Leyen ao apresentar seus planos para um segundo mandato. Ela calcula que o bloco precisará investir 500 bilhões de euros (525 bilhões de dólares, 3 trilhões de reais) durante a próxima década.

Pela primeira vez, a UE terá um comissário de Defesa, Andrius Kubilius, da Lituânia, responsável por liderar a iniciativa. Mas os planos para introduzir um plano de endividamento conjunto, similar ao adotado para enfrentar a pandemia de coronavírus, provocam resistência.

Imigração

As passagens irregulares nas fronteiras detectadas na União Europeia caíram 43% este ano, depois que alcançaram o nível recorde em quase 10 anos, em 2023. A imigração, no entanto, tem destaque na agenda política após os avanços da extrema direita em vários países.

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Em outubro, os líderes da UE pediram uma nova legislação em caráter de urgência para aumentar e acelerar os retornos dos migrantes e que a Comissão examine "novas formas" para enfrentar imigração irregular.

Com informações da AFP

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