Combates na Síria deixam mais de 700 mortos, entre eles um fotógrafo premiado
O exército sírio faz nesta quarta-feira (4) uma ofensiva para expulsar os rebeldes que chegaram ao entorno de Hama, ao norte da capital Damasco. Pesados ataques aéreos repeliram uma ofensiva de milícias jihadistas ocorrida durante a noite nos arredores dessa cidade. Depois da tomada de Aleppo, a queda de mais esta cidade nas mãos dos opositores aumentaria a pressão sobre o regime do presidente Bashar al Assad.
Os rebeldes, uma coligação heterogênea de grupos armados e dominada pelo grupo islâmico Hayat Tahrir al Sham, chegaram às portas de Hama na terça-feira (3).
O exército sírio foi forçado a se reposicionar na região. A ofensiva preocupa os aliados de Bashar al Assad, como o Irã, que considera enviar forças se necessário. A Rússia, por sua vez, julgou que a "agressão terrorista" contra a Síria deve acabar o mais rapidamente possível.
Pelo menos 300 membros de milícias iraquianas apoiadas pelo Irã entraram na Síria durante a noite de domingo para segunda-feira (2) para ajudar o governo a combater os rebeldes e Teerã prometeu apoiar o governo sírio.
De acordo com a mídia estatal e o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), sediado no Reino Unido, violentos combates eclodiram na colina de Zine el Abidine, localizada 5 quilômetros a nordeste de Hama.
"Fomos forçados a recuar sob os bombardeios aéreos do inimigo", disse Abu al-Qaqaa, um comandante rebelde da região.
Outra fonte rebelde indicou que "o fracasso" em tomar a colina de Zine el-Abidine constituiu um revés no avanço dos insurgentes sobre Hama.
Mais de 700 mortos
Os combates no norte da Síria deixaram mais de 704 mortos desde o início da ofensiva de grupos rebeldes contra as forças governamentais, em 27 de novembro, anunciou nesta quarta-feira o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, especificando que se tratava de 361 combatentes da coligação rebelde liderada por islamistas, 233 soldados e combatentes pró-governo e 110 civis.
Entre os civis está um premiado fotógrafo sírio da agência alemã DPA. Ele foi morto nesta quarta-feira em um ataque aéreo perto de Hama, no centro do país, onde ocorrem os combates entre os rebeldes e as forças governamentais.
"O nosso fotógrafo Anas Alkharboutli, que documentou a guerra civil da Síria numa linguagem visual única, foi morto num ataque aéreo perto da cidade síria de Hama", afirmou a agência em um comunicado. "Anas tinha apenas 32 anos", acrescentou a agência, especificando que ele havia ingressado na DPA em 2017.
"Todos nós na DPA estamos chocados e profundamente tristes com a morte de Anas Alkharboutli", declarou o editor-chefe da agência, Sven Gösmann. "Anas continuará sendo um modelo a seguir para o nosso trabalho."
Anas Alkharboutli recebeu o prestigiado prêmio Bayeux para correspondentes de guerra na seção de jovens jornalistas, em 2020, e o prêmio Sony World Competition, na categoria esportiva, em 2021.
Ali Haj Sleiman, jornalista que esteve com Anas Alkharboutli, disse à AFP que eles viram aviões sobrevoando a região de Morek, onde estavam reunidos com outros colegas, perto de Hama. "Ouvimos um barulho muito alto e começamos a correr, depois o estrondo da explosão atirou-me ao chão (...) Anas foi jogado para o outro lado", acrescentou. Após o ataque, "encontrei Anas coberto de sangue (...) ele havia perdido as pernas (...) morreu na ambulância antes de chegar ao hospital". O fotógrafo foi enterrado no final do dia em Idlib, uma cidade ao norte de Hama.
Desde o início da ofensiva, outros três jornalistas locais foram mortos, segundo as autoridades do reduto rebelde de Idlib.
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